Os temporais do ano passado deixaram um saldo de 18 mortes na cidade e a fúria do Onça trouxe prejuízos e desolação para a região da Avenida Cristiano Machado e entre os bairros Novo Aarão Reis e Ribeiro de AbreuA força da correnteza de águas negras deixou muitas marcas assustadoras em volta da casa de Maria SaleteParte do muro, do quintal e da plantação de bananeiras foi arrancada e engolida pelo ribeirão, que ainda teve força para derrubar parte de um quarto que ainda vinha sendo erguidoRachaduras avançam pelas paredes e pelo piso"Paramos com a construçãoNão é seguro ninguém dormir perto desse rioQuando a chuva vem e o rio sobe, os bombeiros até nos pedem para sair, mas não temos lugar para ir
A filha dela, Bruna Sofia Braz Ferreira, de 15, que cursa a 8ª série do ensino médio, lamenta os prejuízos materiais e também a perda de aulas por causa do isolamento que as águas provocam"No ano passado, perdi 10 dias de aulaNão dá para sair de casa quando o rio enche, porque a água cerca a ruaQuando a água vai embora, a gente precisa ajudar a limpar a lama suja, tirar os bichos mortos e a porcariada que o rio traz", reclama a adolescente.
Outra vizinha do Ribeirão do Onça que já perdeu o sossego logo na primeira chuva é a diarista Luciana Aparecida Santos, de 33Ela e os irmãos tinham conseguido conter as enchentes do córrego com a construção de um muro longo em torno da moradiaMas a barreira de um metro e meio de altura também não resistiu à força das águas e já está com trincas que cabem até um dedo"Vamos ter de fazer outro muro, antes que as chuvas venham com forçaMesmo com o muro, a água ainda entra pelo esgoto e precisamos passar o dia tirando com baldesNessa época, além, do mau cheiro, começam a aparecer baratas e ratos", recorda.
A vizinhança dos bairros mais suscetíveis às cheias do Ribeirão do Onça recebeu ontem, pelo correio, panfletos com dicas de prevenção para o período chuvoso, distribuídos pela Agência Urbanizadora de Belo Horizonte (Urbel)Os livrinhos educativos alertam para o aparecimento de trincas nas casas e sinais de inundação, como aumento do nível dos córregos e rios e a cor barrenta da água
Em Belo Horizonte há 208 vilas, favelas e conjuntos habitacionais populares, que representam 5% do territórioDe 1º de abril até 14 de setembro, técnicos da Urbel vistoriaram 1.256 moradias em áreas de riscoNeste período, 66 famílias foram removidasA região com mais áreas de risco é a Leste, com 13 remoções definitivas, a maioria da Vila Fazendinha e TaquarilA Nordeste está em segundo lugar, com 10 remoções, principalmente na Vila Beira-Linha.