Jornal Estado de Minas

Onda de fogo atinge Serra da Canastra

Parque nacional no Sudoeste de MG sofre com incĂȘndio devastador, mas chuva, que pode voltar hoje, deu alĂ­vio para a equipe de 77 pessoas que trabalha no combate aos focos

Valquiria Lopes
O Parque Nacional da Serra da Canastra, no Sudoeste de Minas Gerais, teve ontem o dia de incêndio mais crítico desde quarta-feira, quando a unidade de conservação voltou a registrar vários focos de calor
Um fenômeno classificado como ‘tempestade de fogo’ fez com que as chamas se alastrassem de forma devastadora, abrindo diversas frentes de queima em velocidade desafiadora para os 31 bombeiros e 46 brigadistas que estavam empenhados no combateDe acordo com o tenente Davi Lucas Soares, assessor de comunicação do Batalhão Emergencial Ambiental do Corpo de Bombeiros, esse tipo de onda de calor é provocado pela combinação de altas temperaturas, baixa umidade relativa do ar, vegetação seca, terreno inclinado e ventoAs rajadas, no entanto, foram um prenúncio da chegada da chuvaOntem, uma fina garoa deu o ar da graça e hoje pode voltar a chover na Canastra.

Por causa da tempestade de fogo, em alguns momentos a tropa precisou, inclusive, recuar no combate para evitar riscos de acidentes“Hoje (ontem) foi uma loucuraO fogo se alastrou como uma onda por causa do ventoEle formou um redemoinho que se espalhou, queimando tudoNessas condições, bombeiros e brigadistas não podem entrar na região porque o calor é insuportável e perigosoAlguém pode se ferir ou até mesmo morrer”, explicou o chefe do Parque Estadual da Serra da Canastra, Darlan de PáduaSegundo ele, a saída foi fazer o resfriamento com aviões jogando água para que os bombeiros e brigadistas pudessem avançar
Ainda assim, Darlan disse que a rapidez com que o fogo se espalha é muito maior do que a capacidade de trabalho“O combate pode ser comparado como a luta de um guerreiro contra um dragãoSão quilômetros de linha de fogoO trabalho é feito o dia inteiro e às vezes uma rajada de vento vem e inicia tudo de novo”Outro fator que dificulta a ação dos bombeiros são as características de relevo do parque“O terreno é inclinadoO parque tem muitas áreas de difícil acessoNossa maior esperança que é que comece a chover logo.”

Veja as fotos da serra

EXTENSÃO

Conforme o chefe do parque, ainda não há estimativa da extensão da área queimada na Canastra, mas somente nos dois primeiros dias pelo menos 150 hectares já haviam sido devastados na parte norte da unidade de conservação, no município de São Roque de MinasEsse incêndio foi controlado, mas em seguida, vários focos começaram na parte Sul, próximo a DelfinópolisPara reforça o combate em terra, um helicóptero e quatro aviões (dois com capacidade para 2 mil litros e outros dois para 3 mil litros d’água) estão sendo usados.

O parque é um dos maiores do estado e considerado um santuário de fauna e flora para Minas, tem relevo acidentado e vegetação rasteira, que produzem uma paisagem única, com grandes vistas panorâmicas e muitas cachoeiras com altura acima dos 100 metros
As características do relevo e da vegetação favorecem também a observação de animais selvagens, como o tamanduá-bandeira, o lobo-guará e o veado-campeiro.

NORTE DE MINAS

Região de cerrado marcada pelas altas temperaturas, o Norte do estado está sendo castigado pelo fogoNa Serra do Cabral, um helicóptero do Instituto Estadual de Florestas (IEF), quatro bombeiros e cerca de 20 brigadistas voluntários trabalhavam para conter o avanço das chamas ontem à tardeNa fazenda Canoas, área particular onde o fogo consome a vegetação há 10 dias, o combate continuaTrabalham no local, nove bombeiros e 30 funcionários de fazendas vizinhas.


Memória

Área real gera impasse

O Parque Nacional da Serra da Canastra está no centro de um imbróglio criado em torno do verdadeiro valor de sua área totalIsso porque tramita na Câmara dos Deputados uma emenda à medida provisória (MP) 542 que trata de alterações no limites de unidades de conservaçãoA proposta, assinada pela presidente Dilma Rousseff (PT) trata de desapropriação de áreas para projetos hidrelétricos e de assentamentoMas, na tentativa da dar andamento mais célere a um projeto de lei que tramita desde 2007 e prevê mudanças na área do Parque da Canastra, o deputado Odair Cunha (PT/MG) apresentou a emenda 14 à MPNa proposta, ele defende a transformação dos 200 mil hectares (ha) em um mosaico de unidades de conservação e manteria como parque apenas 71,5 mil haVista com maus olhos por ambientalistas e representantes de órgãos oficiais de meio ambiente, a emenda já tranca a pauta da Casa e pode ser votada nos próximos diasDos 200 mil ha, apenas 71,5 mil ha foram implantados de fato, desde a criação da unidade de conservação, na década de 1970Além de produtores rurais, parte da área que é de fato do parque mas não teve plano de manejo como tal, é rica em pedras preciosas e alvo de exploração há décadas