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Estado de Minas

Soro do leite enriquece atletas em Minas

Subproduto do queijo, que era descartado, se transforma em alimento para jovens em Lavras graças à iniciativa do Laticínio Verde Campo, que tem como parceira a prefeitura local


postado em 27/09/2011 06:00 / atualizado em 27/09/2011 07:17

Durante a produção do queijo, proteínas e cálcio vão para o soro, mas a quantidade é pequena. Para enriquecê-lo, a empresa comprou uma máquina para aproveitar os nutrientes(foto: José Henrique/Cia da Foto/Divulgação)
Durante a produção do queijo, proteínas e cálcio vão para o soro, mas a quantidade é pequena. Para enriquecê-lo, a empresa comprou uma máquina para aproveitar os nutrientes (foto: José Henrique/Cia da Foto/Divulgação)


Um alimento antes jogado no lixo está ajudando a nutrir e a mudar a vida de muitos moradores de um bairro carente de Lavras, no Sul de Minas. Aproveitar o soro do leite se tornou palavra de ordem num laticínio do município e, numa mistura saudável de ousadia, força de vontade e aplicação da tecnologia fez campeões e muita gente recuperar a autoestima. O trabalho, idealizado pelo engenheiro de alimentos Alessandro Rios, começou há dois anos. A ideia foi aproveitar o subproduto da fabricação do queijo para fazer bebidas lácteas com o mesmo teor nutricional daquelas feitas nos processos convencionais e distribuí-las a entidades de caridade. O produto é ainda o reforço na alimentação de futuros atletas da cidade. Com o apoio da empresa, o time feminino sub-15 foi campeão mineiro estudantil e se prepara para disputar mais uma rodada.

O engenheiro, presidente do Laticínio Verde Campo, explica que, na produção do queijo, parte das proteínas, cálcio e açúcar ficam na iguaria e parte vai para o soro. Historicamente, ele é usado no Brasil na alimentação animal, isso porque a quantidade de água em relação aos nutrientes é muito grande – enquanto o leite guarda 3,2% das proteínas, o soro tem apenas 0,7%. Assim, é preciso ingerir muito soro para se chegar perto da condição nutritiva do leite.

Mas, com a ajuda da tecnologia, Alessandro Rios conseguiu deixar de lado o desperdício, usando a nanofiltração. São membranas altamente seletivas que permitem, na passagem do soro, filtrar a água e reter os nutrientes. “Compramos esse equipamento e, agora, concentramos 2% de proteínas e produzimos bebidas a partir do soro concentrado. O custo é de 60% a menos do que aquelas produzidas a partir do leite”, diz.

O trabalho tem como parceira a Prefeitura de Lavras. A equipe de nutricionistas do município ajuda a enriquecer bebidas achocolatadas e iogurtes com vitaminas e ferro. Para a administração municipal e instituições de caridade de Belo Horizonte os produtos são vendidos a preço de custo. “A prefeitura conseguiu aumentar em 60% o número de crianças atendidas sem gastar nada a mais, usando a mesma verba que tinha disponível para escolas e projetos sociais”, afirma Alessandro, que tem duas vertentes de trabalho. A primeira é a venda a preço de custo para as entidades, a outra é o projeto social apoiado pelo Verde Campo – um programa esportivo que atende 110 crianças da Escola Municipal José Serafim, no Bairro Novo Horizonte, cuidando da alimentação delas durante a preparação.

Dois iogurtes e um pão com muçarela no fim de cada treino dão força e melhoram as condições físicas para enfrentar os adversários. Os resultados já começam a despontar. Desde que começou a ser patrocinada pela empresa, a equipe feminina, formada por garotas com 13 e 14 anos, ganhou voos altos. O time Verde Campo Prefeitura de Lavras venceu o campeonato do interior de Minas e depois o Mineiro Estudantil – iniciativa da Secretaria de Estado de Educação. E essas meninas não pensam em parar. Elas estão disputando o campeonato sub-15 da Federação Mineira de Basquete, cuja etapa final está marcada para os dias 21, 22 e 23 do mês que vem, em Uberlândia, no Triângulo Mineiro. “Estamos em primeiro lugar, com apenas uma derrota. Se ganharmos os dois próximos jogos garantiremos a vitória”, conta, orgulhoso, o técnico Ricardo Carvalho Pacheco.


Equipe feminina de basquete superou expectativa, venceu a regional e chegou à etapa estadual(foto: ricardo pacheco/divulgação)
Equipe feminina de basquete superou expectativa, venceu a regional e chegou à etapa estadual (foto: ricardo pacheco/divulgação)

Metas superalcançadas

Há quatro anos no comando do time, ele relembra os momentos de dificuldade: “Na época, as garotas estavam com 9, 10 anos e nunca tinham ouvido falar em basquete ou em treinamento. Comecei do zero. Elas não tinham comprometimento nem disciplina. Mas, com a minha persistência e a delas, que foram aceitando minha maneira de trabalhar, mudamos tudo. Quando elas tinham 12 anos fomos vice-campeões da Região Sul de Minas. Depois, traçamos como objetivo ser campeões da regional e elas acabaram ganhando também a disputa mineira”.

Na sua opinião, a alimentação é um dos pontos cruciais para a melhora do desempenho. “São jovens muito carentes, que não têm acesso a uma boa alimentação em casa. Muitos iam à escola por causa da merenda. O lanche distribuído no fim do treino ajuda a garantir algo mais, principalmente na porção proteica, tão importante para os atletas”, ressalta.

Num bairro onde o cenário de violência era uma constante e não são raros os casos de envolvimento com drogas e gravidez na adolescência, o sucesso do time tem contribuído para mudar a imagem que os próprios moradores têm de si e do ambiente no qual vivem. “É um bairro muito discriminado em Lavras. Muita gente mente o endereço quando está procurando emprego, pois acha que se falar que mora no Novo Horizonte não conseguirá a vaga. Mas isso começa e ficar diferente. Uma mãe me disse recentemente que agora o que ela sente é orgulho”, relata Pacheco.

Alessandro Rios avisa: “A fábrica está aberta, não temos segredos em relação à tecnologia. Ficaremos felizes se o maior número possível de empresas e indústrias no Brasil adotarem esse projeto”.


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