Um alimento antes jogado no lixo está ajudando a nutrir e a mudar a vida de muitos moradores de um bairro carente de Lavras, no Sul de MinasAproveitar o soro do leite se tornou palavra de ordem num laticínio do município e, numa mistura saudável de ousadia, força de vontade e aplicação da tecnologia fez campeões e muita gente recuperar a autoestimaO trabalho, idealizado pelo engenheiro de alimentos Alessandro Rios, começou há dois anosA ideia foi aproveitar o subproduto da fabricação do queijo para fazer bebidas lácteas com o mesmo teor nutricional daquelas feitas nos processos convencionais e distribuí-las a entidades de caridadeO produto é ainda o reforço na alimentação de futuros atletas da cidadeCom o apoio da empresa, o time feminino sub-15 foi campeão mineiro estudantil e se prepara para disputar mais uma rodada.
O engenheiro, presidente do Laticínio Verde Campo, explica que, na produção do queijo, parte das proteínas, cálcio e açúcar ficam na iguaria e parte vai para o soro Historicamente, ele é usado no Brasil na alimentação animal, isso porque a quantidade de água em relação aos nutrientes é muito grande – enquanto o leite guarda 3,2% das proteínas, o soro tem apenas 0,7% Assim, é preciso ingerir muito soro para se chegar perto da condição nutritiva do leite.
Mas, com a ajuda da tecnologia, Alessandro Rios conseguiu deixar de lado o desperdício, usando a nanofiltraçãoSão membranas altamente seletivas que permitem, na passagem do soro, filtrar a água e reter os nutrientes“Compramos esse equipamento e, agora, concentramos 2% de proteínas e produzimos bebidas a partir do soro concentradoO custo é de 60% a menos do que aquelas produzidas a partir do leite”, diz.
O trabalho tem como parceira a Prefeitura de Lavras
Dois iogurtes e um pão com muçarela no fim de cada treino dão força e melhoram as condições físicas para enfrentar os adversáriosOs resultados já começam a despontarDesde que começou a ser patrocinada pela empresa, a equipe feminina, formada por garotas com 13 e 14 anos, ganhou voos altosO time Verde Campo Prefeitura de Lavras venceu o campeonato do interior de Minas e depois o Mineiro Estudantil – iniciativa da Secretaria de Estado de EducaçãoE essas meninas não pensam em pararElas estão disputando o campeonato sub-15 da Federação Mineira de Basquete, cuja etapa final está marcada para os dias 21, 22 e 23 do mês que vem, em Uberlândia, no Triângulo Mineiro
Metas superalcançadas
Há quatro anos no comando do time, ele relembra os momentos de dificuldade: “Na época, as garotas estavam com 9, 10 anos e nunca tinham ouvido falar em basquete ou em treinamentoComecei do zeroElas não tinham comprometimento nem disciplinaMas, com a minha persistência e a delas, que foram aceitando minha maneira de trabalhar, mudamos tudo Quando elas tinham 12 anos fomos vice-campeões da Região Sul de Minas Depois, traçamos como objetivo ser campeões da regional e elas acabaram ganhando também a disputa mineira”
Na sua opinião, a alimentação é um dos pontos cruciais para a melhora do desempenho“São jovens muito carentes, que não têm acesso a uma boa alimentação em casa Muitos iam à escola por causa da merendaO lanche distribuído no fim do treino ajuda a garantir algo mais, principalmente na porção proteica, tão importante para os atletas”, ressalta
Num bairro onde o cenário de violência era uma constante e não são raros os casos de envolvimento com drogas e gravidez na adolescência, o sucesso do time tem contribuído para mudar a imagem que os próprios moradores têm de si e do ambiente no qual vivem“É um bairro muito discriminado em Lavras Muita gente mente o endereço quando está procurando emprego, pois acha que se falar que mora no Novo Horizonte não conseguirá a vagaMas isso começa e ficar diferenteUma mãe me disse recentemente que agora o que ela sente é orgulho”, relata Pacheco
Alessandro Rios avisa: “A fábrica está aberta, não temos segredos em relação à tecnologia Ficaremos felizes se o maior número possível de empresas e indústrias no Brasil adotarem esse projeto”.