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Estado de Minas

"Bonde do futuro" promete dar mais charme à Savassi

Projeto apoiado por lojistas quer implantar na região sistema moderno de bonde, transporte que fez sucesso em BH durante décadas e que ainda provoca saudade


postado em 21/09/2011 06:00 / atualizado em 21/09/2011 06:19

 

O charme de antigamente pode voltar. Os bondes que subiam a rua da Bahia e desciam a Floresta foram os principais meios de transportes da capital mineira no início do século passado(foto: Arquivo EM/D.A Press)
O charme de antigamente pode voltar. Os bondes que subiam a rua da Bahia e desciam a Floresta foram os principais meios de transportes da capital mineira no início do século passado (foto: Arquivo EM/D.A Press)

 

Era 7 de setembro de 1902. Prestes a completar cinco anos, Belo Horizonte comemorava a inauguração das primeiras linhas de bonde da nova capital, no Bairro Funcionários e na Praça da Estação até a Praça da Liberdade. O sistema, na época sinônimo de modernidade e simpatia, foi extinto em 1963, mas continua conduzindo os belo-horizontinos por uma doce viagem à memória da capital. Quase 90 anos depois, comerciantes e frequentadores de uma das regiões mais queridas da cidade, a Savassi, se articulam para levar uma espécie de bonde, com o afeto de antigamente e roupagem do futuro, para as páginas de uma história que BH ainda vai escrever.

Junto com projeto de micro-ônibus, o bonde sobre rodas, um misto do veículo sobre trilhos e ônibus, é a aposta da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) da Savassi para melhorar o transporte na região, que passa por revitalização prevista para ser concluída em março. Ainda em formatação, as propostas serão apresentadas oficialmente até o fim do ano à prefeitura. “O foco da requalificação é o pedestre, mas é preciso conseguir chegar à Savassi e circular. Sem o metrô, os ônibus são muito defasados”, explica o diretor do CDL Savassi, Alessandro Runcini.

Apresentado ao CDL por um grupo de frequentadores da região e adeptos às viagens ao redor do mundo, o projeto do bonde interliga pontos comerciais e turísticos, com paradas na Praça da Liberdade, na Praça Diogo Vasconcelos, nas proximidades das rua Inconfidentes e Antônio de Albuquerque, todos na Savassi, e na Igreja Nossa Senhora da Boa Viagem, no Centro. Em 20 minutos, os veículos, com ar-condicionado e confortáveis, percorreriam o trajeto e, pelos cálculos, o tempo de espera do passageiro no ponto seria de, no máximo, 10 minutos.

Incialmente, a ideia era construir um sistema moderno, recuperando a estrutura do bonde antigo, parte da memória afetiva de BH. “Mas concluímos que não seria tão confortável, a adaptação custaria caro e há o problema da rede elétrica suspensa”, afirma o idealizador da projeto, o engenheiro civil especializado em logística Rodrigo Dolabela. A proposta é de implantar na Savassi modelo belga sobre rodas, usado na cidade de Parma, na Itália. Ele se assemelha a um ônibus moderno, com dimensões menores e circula em pistas exclusivas. “Esse é o bonde mais moderno que existe, foi apresentado em Dubai”, afirma Rodrigo.

Para viabilizar a proposta, orçada em R$ 2 milhões, caso sejam implantados pelo menos três veículos, a sugestão é vincular o serviço à parceria público-privada (PPP) que propõe a construção de estacionamentos substerrâneos na Savassi.

(foto: Reprodução de Internet)
(foto: Reprodução de Internet)


A história dos bondes em Belo Horizonte se confunde com o início da construção da cidade e sua evolução. De acordo com a diretora de Patrimônio Cultural da Fundação Municipal de Cultura, Michele Arroyo Borges, o projeto original da cidade, assinado pelo arquiteto Aarão Reis, já previa que ruas e avenidas deveriam ter largura adequada para contemplar a implantação dos bondes, usados como transporte coletivo. Além deles, circulavam pelas vias veículos de tração animal, cavalos e pedestres. “Por décadas, eles foram o meio de transporte mais usado em Belo Horizonte”, explica.

Sobre a retomada do bonde na Região da Savassi, Michele afirma que a proposta deve ser estudada dentro de um projeto amplo de mobilidade para a cidade. Para o jornalista aposentado Luis Góes, autor do livro O bonde – A história do seu Jair, um condutor de bondes, seria a retomada de um passado saudoso. “Até me arrepio ao falar dos bondes, pois tenho muitas lembranças boas. Era quase um ponto de encontro. A gente encontrava amigos, namorava. Quando ele parou de circular foi uma tristeza muito grande”, conta, lembrando que tomava o bondinho da Savassi para ir à Sorveteria São Domingos, na Avenida Getúlio Vargas, e à Padaria Savassi, na Praça Diogo Vasconcelos.

Micro-ônibus

Segundo Runcini, além do projeto do bonde, o CDL apresentará a prefeitura projeto que depende de baixo investimento e tem fácil implantação. Trata-se de três linhas de microônibus, com foco nos turistas, e que circularia na região, no Centro e no Bairro de Lourdes, na Região Centro-Sul. A idealizadora do projeto, Silvânia Capanema, vice-presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis em Minas, afirma que o projeto responde a uma necessidade do turismo em BH.

O projeto de mobilidade é uma tentativa de melhorar o transporte nos pontos de maior interesse turístico e de levar o visitante a ficar mais um dia na cidade. “Numa pesquisa nos hotéis, identificamos que o turista tinha interesse de passear na cidade, mas não fazia isso por falta de transporte”, conta. Ela explica que os ônibus seriam equipados com televisão, informando sobre os pontos turísticos, mas estaria aberto também a moradores. “O passageiro compraria um cartão magnético, por R$ 15, e poderia andar o dia inteiro no sistema”, afirma. A BHTrans não comentou os projetos.

Linha do Tempo

1897  Inauguradas as primeiras quatro linhas de bonde em BH (Acaba Mundo, Pedreira, Praça da Estação/Praça da Liberdade e Funcionários, usadas para transporte de materiais e operários que trabalhavam na construção da cidade

1902 Em 7 de setembro, os bondes passam a operar no transporte coletivo de passageiros nas linhas Praça da Estação/Liberdade e Funcionários. Eram elétricos e sobre trilhos

1923 Com o crescimento da cidade, começam a circular os auto-ônibus, veículos iguais aos bondes, mas movidos a diesel e sobre rodas

1950 BH passa a ter três tipos de transporte público. Além dos bondes e auto-ônibus, passa o funcionar o trolebus, espécie de ônibus sobre rodas, mas elétrico

1963 A última linha de bondes, a Cachoeirinha, para de funcionar

1966 Os trolebus começam a ser retirados de circulação e é ampliada a operação de ônibus convencionais, usados até hoje


Valeu enquanto existiu

Otacílio Lage

Os bondes tiveram seu auge em Belo Horizonte na década de 1950. Eram 73 quilômetros de linhas, nas quais corriam 87 carros. Em 1956, aos oito anos, em viagem de passeio na capital, fui de bonde, saindo da estação situada na esquina da Rua da Bahia com Avenida Afonso Pena, onde funciona hoje uma flora, até o aeroporto da Pampulha, inaugurado em 1954. A paisagem podia ser apreciada, absorvida por olhos curiosos de um menino acostumado a andar a cavalo na pequena Ferros, Vale do Rio Doce, que viera à capital numa jardineira de 24 lugares. Os homens, em sua maioria, de terno e chapéu; as mulheres de vestidos e cabelos muito bem arrumados. Em anos seguintes, ao voltar a BH, passear de bonde, ziguezagueando pelo Centro da cidade, era meu passatempo predileto. Em Minas, havia sistemas de transportes semelhantes em Juiz de Fora, Além Paraíba, Ubá, Lavras, Pedro Leopoldo, Bom Sucesso, Sacramento e muitas outras cidades. BH ficou sem os bondes em 1963. Na realidade de então, esse prosaico meio de locomoção desempenhava magnificamente seu papel. Hoje, se tornou um belo retrato na parede.

 


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