Jornal Estado de Minas

Conflitos entre tribos fazem da Praça da Liberdade um território vigiado

Cenas intoleráveis de violência levaram a polícia ao alerta sobre segurança na praça

Arnaldo Viana
Com presença da Polícia Militar, tribos se reuniram no coreto - Foto: Marcos Vieira/EM/D.A Press
O que faz da Praça da Liberdade, ex-coração político e administrativo de Minas Gerais e futuro corredor cultural, um violento campo de batalha entre jovens é a intolerânciaEssa atitude manchou de sangue, em duas ocasiões, na última semana, um dos cartões-postais da Região Centro-Sul de Belo HorizonteIsso antes de a polícia entrar em cena com a tarefa de botar ordem nas tribos de jovens que marcam território nas praças das áreas nobres da cidade.

As últimas cenas intoleráveis começaram com uma provocação de um grupo de inspiração nazista, os skinheadsDois deles foram esfaqueadosNa calada da noite, voltaram em busca de vingança e machucaram dois jovens homossexuaisCorreu nas redes sociais que as madrugadas de quinta-feira e a sexta-feira seriam de vingança e violência na Praça da LiberdadeNão foi assim, mas isso não é garantia de sossego naquele que já foi um inspirador paraíso de palmeiras, pássaro e flores, cercado de história.

A ameaça de batalha levou a polícia a também marcar território na praça, para tranquilidade de quem a usa para caminhar, respirar ou namorarNa noite de quinta-feira, diante da presença de uma dupla de PMs do 1º Batalhão e dois guardas municipais, jovens casais se arriscaram a trocar carícias nos bancos dos jardinsRapaz com moça, mulher com mulher, homem com homem.

Na noite e na madrugada de quinta-feira, nenhuma tribo bateu ponto na praçaOs caminhantes agradeciam o policiamento“Deveria ser assim em todos os dias
Pelo menos duas duplas de policiais 24 horas.” Na praça, nesses dias conturbados, ninguém dá nome ou qualquer outra informação que possa levar à identificaçãoÉ cautela e até medo de retaliação.

Na sexta-feira, agitaçãoA praça foi invadida por metaleiros, góticos, blackmetals e trashmetalsGente que idolatra grupos musicais como Matanza, Sepultura, Iron Maiden e não despreza Jimi Hendrix, Janis Jolin e Pink FloydMas gente que vê os emos com reserva“Não dá, ‘véi’Eles gostam de RestartAquilo é música?” Axé, pagode e sertanejo também não entram na dieta musical desses gruposGente que repudia e teme a presença violenta e “ariana” dos skinheads“Eles estupram, agridem, matam
São sorrateirosAtacam de surpresa…”

Metaleiros, góticos, blackmetals, trashmetals e afins se vestem de negro, usam bota pretas com adornos de metalPoderiam se perfeitamente confundidos com emos, pelos desavisados, mas não sãoInvadiram a praça, vigiada na sexta-feira por duas guarnições motorizadas da PM e uma da Guarda Municipal, para o que chamam de Orkontro (marcado via Orkut)“A gente é do bemConvocamos todas as tribos para esta reuniãoTodos serão bem-vindos, até os emos…” Todos, não, os skinheads, de cabeça raspada, calça e botas militares, são exceção“Eles são altos, fortes, andam armados e atacam todos, principalmente negros, homossexuais, idosos e mendigos.”

E como foi o atrito entre vocês e os skinheads? “A gente estava aqui numa boaEles chegaram e quebraram o violão de um meninoOs metaleiros reagiram e dizem que dois deles ficaram feridosEram poucos mas muito fortesSe não fossem os metaleiros...” Como os carecas não foram à Liberdade na policiada sexta-feira – a irracionalidade é ignorante, mas não burra –, nem estavam à vista em outras praças, ficam sem a sua versão dos fatos.