Jornal Estado de Minas

Novo laudo não desvenda morte de mineiro no Peru

Segundo o IML de Belo Horizonte, não foi possível determinar a causa da morte, mas os especialistas eliminaram causas naturais e envenenamento

Luana Cruz, Paulo Filgueiras, Cristiane Silva, Daniel Camargos, Mateus Parreiras, Pedro Rocha Franco, Luciane Evans, Leandro Couri Paula Sarapu
Mais uma vez exames não apontaram a causa da morte do engenheiro mineiro Mário Bittencourt encontrado sem vida no Peru
O diretor do Instituto Médico Legal (IML) de Belo Horizonte, José Mauro de Moraes, descartou a morte por causas naturais e eliminou, em partes, a possibilidade de envenenamentoO corpo do engenheiro foi examinado na capital a pedido de parentesPara a conclusão das investigações sobre a causa da morte, ainda falta o laudo das autoridades peruanas

De acordo com os resultados apresentados, o engenheiro mineiro não morreu por infarto, insuficiência cardíaca ou por qualquer causa violenta como tiro, espancamento, asfixia, enforcamento e esganaduraDe acordo com Moares, o corpo não apresentava marcasOs especialistas fizeram um raio x minucioso e não encontraram sinais de hemorragia ou fraturas.
Segundo o IML, não há como determinar se houve sufocamento, porque essa causa não deixaria marcas no corpoO que se pode afirmar, segundo Moraes, é que não havia sinais de luta corporal

Um abelha foi encontrada na base da língua de BittencourtEspecialista da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) avaliaram o inseto e concluíram que não é um animal venenosoA espécie costuma visitar corpos em decomposição


Os exames descartaram, também, alguns venenos e medicamentos, mas a contaminação por substâncias orgânicas (ervas, veneno de cobra, entre outros) não é possível determinarDe acordo com o IML, o corpo estava em avançado estado de decomposição e veio do Peru com produtos químicos usados no embalsamentoEssas substâncias podem prejudicar a análise

Os peritos brasileiros acreditam que exames feitos no Peru possam ser mais conclusivos, pois os peritos recolheram fragmentos do couro cabeludo, tecidos pulmonar, cardíaco, hepático e bilesA perícia do país vizinho também teve acesso ao corpo pouco tempo depois da morte, o que facilita as análises

Bittencourt estava acompanhado do geólogo paulista Mário Gramani GuedesEles eram funcionários da empresa Leme Engenharia, com sede em Belo Horizonte, e faziam levantamento sobre a possibilidade de instalação de uma usina hidrelétrica à beira do rio Marañón, próximo à Jaén, em PiónOs brasileiros desapareceram em 25 de julho, em momentos diferentes, mas os corpos foram localizados dois dias depois, a 200 metros de distância um do outro.

O IML de Brasília divulgou na quarta o resultado das análises histopatológicas e do exame toxicológico, que afasta a hipótese de envenenamento – em parteO material para análise foi enviado a BH e também Brasília a pedido dos parentesO dois laudos serão encaminhados à Fiscalía Provincial de Cumba, órgão semelhante ao Ministério Público, responsável pelas investigações


ENTENDA O CASO

23 de julho
O engenheiro mineiro Mário Augusto Soares Bittencourt, de 61 anos, e o geólogo paulista Mário Gramani Guedes , de 57 anos, desembarcaram em Lima e seguiram de avião para Chiclayo, no Norte do país, e de lá, de carro, para Jaén, a 600 quilômetros
Eles foram fazer estudos de viabilidade para construção de uma usina hidrelétrica na região da floresta amazônica peruana.

25 de julho
O trabalho de campo começou cedoA dupla brasileira, um engenheiro e um geólogo peruanos caminharam por uma estrada abandonada por cerca de duas horas e meiaSegundo o depoimento dos peruanos, Bittencourt sentiu dor no joelho e se sentou à beira da estrada
Guedes e os colegas seguiram por um trecho de subidaQuando voltaram, meia hora depois, o engenheiro mineiro já não estava mais láGuedes, então, decidiu esperar no local pelos peruanos, que tentaram acesso por outra trilha para chegar ao Rio Marañon

Os peruanos contaram à polícia que retornaram uma hora depois e Guedes também não estava no localSegundo eles, a impressão foi de que os dois brasileiros teriam retornado para o carro e estacionado no início da estrada, onde o motorista os aguardava

De acordo com o inquérito peruano, os funcionários da SZ Engenharia só perceberam o desaparecimento quando um outro colega, responsável pela logística, levou água aos pesquisadores e comentou que não havia cruzado com os brasileiros na estrada

27 de julho
Os dois corpos foram encontrados pela polícia peruana às 8h, a 100 metros da estrada principal, em área de cerradoA distância entre os dois era de 200 metrosNada foi roubado e não havia marcas de violência, segundo a polícia.

Segundo o engenheiro e o geólogo peruanos, dois camponeses são investigados pela morte de Bittencourt e GuedesUm deles, Juan Zorrilla Bravo, é líder comunitário e participou de manifestações contra usinas hidrelétricasEle teria atrapalhado as equipes de busca, conforme depoimento dos peruanosO outro, Jésus Sanchéz, teria oferecido água aos brasileiros no início da caminhada

Os corpos foram examinados no Peru, mas não havia indícios de violênciaA pedido das famílias, amostras foram trazidas para serem analisadas no BrasilNa semana passada, autoridades peruanas fizeram reconstituição, com a participação de ZorrillaOs acusados já prestaram depoimento e negam