Jornal Estado de Minas

Uma cidade desconhecida

Personagem do centenário de Contagem: a dança

Desconhecidos dos contagenses mais jovens, bailes reúnem os moradores mais velhos da cidade em festas com muito mais do que 100 anos de história

Emerson Campos

Dona Tereza: histórias de meio século de Contagem - Foto: Emerson Campos/EM/DA Press

Durante a procura por um morador antigo de Contagem que pudesse relatar grande parte da trajetória da cidade, sob o ponto de vista de quem a viu e vivenciou, a reportagem do Estado de Minas se deparou com locais que têm ficado cada vez mais famosos no município por reunir muito mais do que cem anos de história: as pistas de dançaDe domingo a domingo, se você procurar por algum dos contagenses mais velhos, provavelmente irá encontrá-los riscando o piso de algum dos vários salões da cidade.

Foi se preparando para mais um passeio de dança (excursões para clubes onde o forró dita o ritmo durante todo o dia), que Terezinha Fernandes da Silva, de 75 anos, nos recebeu logo pelo amanhecer em sua residência, no Bairro FlamengoMoradora da cidade há meio século, Dona Tereza (como é conhecida pelos amigos) conta que já participou de associações de moradores na região para buscar recursos para o bairro, buscou água na cisterna e morou ao lado de onde "era só mato", mesmo local que hoje dá lugar a algumas das mais luxuosas casas do Bairro Jardim Riacho.

"Quando me mudei pra cá, não tinha nada disso por aquiA cidade cresceu muito, melhorou demais nos últimos anos, mas os problemas também cresceramJá era o tempo que eu conseguia sair do bairro", contou se referindo ao trânsito para acessar a rodovia Fernão Dias pela saída do Bairro Flamengo.

Mas, para ela, os problemas ficam em segundo planoDona Tereza é o retrato da dança na cidade: alegre e popularEntrevistá-la às vésperas de sair para dançar é tarefa difícil, mas, com muita boa vontade e direito até à pausa para comprar pão de queijo, ela recebe a reportagem e logo começa a falar com orgulho sobre o Forró da Creche Dona Belinha, organizado por ela às quintas-feiras no Bairro Jardim RiachoPor lá, cerca de 100 pessoas se divertem todas as semanas"Antes era na escola estadual, mas a diretora proibiu", reclamou.

Como nem só de forró se vive a dança em Contagem, sempre às quartas, quem passar pelo Cantinho da Suave Idade, próximo à prefeitura, poderá se impressionar com os passos precisos e bonitos de dança de salãoA música mesmo só começa às 13h, mas por volta de 12h30 já é possível avistar os mais ansiosos esperando seus parceiros e parceiras numa praça próximaEvento que as amigas Eunice e Eliana, ambas com mais de 60 anos, não perdem
E Eliana, uma das damas mais concorridas pelos dançarinos, garante: quem é bom de dança, não fica sentado.

Com variações entre bolero, sertanejo, forró, entre outros, os bailes seguem de segunda-feira a domingo, sejam em casas de dança, organizados por vereadores ou particulares, com Dona Tereza quase sempre lá, levando uma mensagem que garante ter ensinado aos nove filhos, 35 netos e dois bisnetos"A vida tem que ser mais que sua casa, acho que nós temos é que sair, fazer mais amigos, participar mais da nossa comunidade e ser mais felizes em nossa cidade", finalizou.

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