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Estado de Minas

Moradores antigos do Sagrada Família tentam se habituar ao crescimento do bairro


28/08/2011 07:15 - atualizado 28/08/2011 07:29

Nova companhia: Sebastião Amaro agora tem como vizinho um prédio de nove andares
Nova companhia: Sebastião Amaro agora tem como vizinho um prédio de nove andares (foto: Jackson Romanelli/EM/D.A Press)
Acostumado com a tranquilidade das casas espalhadas por seus extensos limites, o Bairro Sagrada Família, na Região Leste de Belo Horizonte, abriu suas portas para o crescimento. Quem puxa a fila das mudanças são os prédios, que, antes escassos, agora são comuns na paisagem urbana da região. Como resultado, o bairro, que ocupa o topo do ranking dos mais populosos da capital, com 34.395 moradores, de acordo com o Censo de 2010 feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), passa por uma transformação no trânsito que obriga moradores antigos a mudar hábitos. A reorganização da circulação começou em outubro do ano passado e continua em andamento.

É o caso do aposentado José Cirino Vieira, de 78 anos, morador do Sagrada Família desde 1956 e um dos atingidos pelas 21 mudanças de circulação feitas pela BHTrans nas ruas do bairro. “Seu” Zezinho, como é conhecido na Rua João Gualberto Filho, não gostou da nova configuração. “Antes, a linha de ônibus 9104 (que faz o itinerário Sagrada Família/Luxemburgo) subia a minha rua e me deixava na porta de casa. Agora, o ônibus não sobe mais e tenho que descer mais longe. Como tenho 78 anos, acaba complicando minha vida”, afirma. A mudança à qual se refere o aposentado José Cirino é o principal eixo de modificação viária proposto pela BHTrans.

Barulho

A Rua Conselheiro Lafaiete, que antes era mão dupla, passou a ser mão única desde a Avenida Silviano Brandão até a Avenida José Cândido da Silveira, dando possibilidade apenas de chegada ao bairro para aqueles que estão no Centro da capital. O sentido contrário foi distribuído pelas ruas São Lázaro, São Roque, João Gualberto Filho e Caldeira Brant. Como a rua de José Cirino, antes tranquila, virou rota de quem está deixando o Sagrada Família, o aposentado sentiu ainda outros efeitos. “Aumentou muito o volume de carros e por isso o barulho é recorrente. Já estou até pensando em vender minha casa e deixar o bairro, depois de 55 anos”, diz.

Para muitos, a situação do tráfego melhorou com a nova configuração. O taxista Pedro do Rosário Santos Filho, de 58, conta que acabaram os congestionamentos, comuns na Conselheiro Lafaiete. “Acabaram as filas principalmente em horário de pico. Além disso, melhorou a fluidez. Já ocorreu de ficar atrás de um ônibus em toda a Conselheiro”, afirma. O comerciante Anderson Abgussen, de 30, que há dois anos tem uma loja de acessórios para celular na mesma rua, aponta ainda a diminuição das batidas na via. “Quando era mão dupla, os acidentes aconteciam todos os dias. Hoje, essa situação melhorou demais”, afirma o comerciante.

Segundo a presidente da Associação dos Moradores e Empresários do Sagrada Família, Luciene Pedrosa, a reengenharia do tráfego era uma das demandas da comunidade. “Trânsito e segurança são os assuntos que mais nos preocupam. As mudanças feitas pela BHTrans conseguiram minimizar o impacto do crescimento, mas o problema é que essa situação está indo de vento em popa. A tendência é que muitas casas sejam vendidas e virem prédios,” afirma. O mecânico Sebastião Amaro, de 80, morador do Sagrada Família há 60, ainda tenta se acostumar com o cenário de expansão imobiliária no bairro. Há dois anos, ele passou a ter como vizinho na Rua São Joaquim um prédio de nove andares. “Os prédios podem acabar prejudicando as casas, porque eles tiram o sol. Só temos sombra por aqui”, diz.

A Prefeitura de BH informou que a Linha Verde e a futura Via 710, que fará a ligação da Avenida dos Andradas com a Avenida Cristiano Machado, além do estudo de um futuro projeto viário para a Rua Conselheiro Rocha, são intervenções viárias significativas no sentido de contribuir para a melhoria das condições do bairro, além das regionais Norte, Nordeste e área central.

Buracão: via de obstáculos e aventuras

Se tinha um ponto que dava medo no Sagrada Família era o famoso “Buracão”, trecho na Rua Genoveva de Souza. Um quarteirão inteiro sem asfalto ou calçamento, com enorme cratera no meio, no alto de um barranco. Feio, sujo, perigoso, proibido. Os mais antigos contam que existiu ali uma pedreira que empregou muita gente nos primeiros anos do bairro. O negócio foi embora, os riscos ficaram. Na época das chuvas, tudo piorava com a lama e os deslizamentos. Famílias inteiras que moravam na encosta foram soterradas. A notícia ruim corria logo entre os vizinhos, deixando as mães aflitas com os filhos passando por lá a caminho do grupo Helena Pena ou do Colégio Sagradinha. Fazer o percurso pela rua paralela, a Pitangui, dava trabalho. Ficava mais longe chegar ao outro lado do bairro. Sem contar que perdia a graça andar por uma via livre de obstáculos. Ir e voltar da escola era mesmo uma aventura. Até que taparam o buraco. Vieram o asfalto, as construções e os carros em ritmo acelerado. Acabou a brincadeira.

Mais impactos com novo Independência

O músico Eurico Eduardo Paulino, de 76 anos, nascido e criado no Bairro Sagrada Família, Região Leste, em meio a uma partida de tranca na Praça Nilo Peçanha, ainda se lembra dos jogos a que assistiu da Copa do Mundo de 1950 em Belo Horizonte. À época, ele e seus amigos iam a pé ao Estádio Raimundo Sampaio, o Independência, uma das sedes daquele Mundial. “Assisti a três jogos daquela Copa. Era uma beleza porque a gente andava por todo o bairro e não havia nenhum problema”, afirma o músico. Hoje, ele acredita ainda poder voltar ao estádio, desta vez totalmente revitalizado. “Se Deus me der forças até o ano que vem, pode ter certeza de que marcarei presença nos jogos novamente”, diz.

A alegria de Eurico em ver o Independência novo contrasta com o possível impacto que o empreendimento para 25 mil torcedores pode causar. De acordo com o presidente da Associação dos Amigos e Moradores do Entorno do Independência, Adelmo Gabriel Marques, a entidade já ouviu vários órgãos do poder público que garantiram trabalhar para evitar os problemas na região. “Conversamos com a Polícia Militar, BHTrans, Regional Leste, entre outros, que nos prometeram garantir a segurança e a boa circulação da comunidade”, afirma.

A BHTrans informou que está analisando um estudo viário produzido como condicionante à reforma do estádio para a região. Segundo a empresa, o estudo foi produzido por uma empresa contratada pelo governo do estado e é necessário o parecer do órgão gestor do trânsito da capital para dizer o que é viável e o que deve ser mudado. Somente depois disso é que o estudo final é produzido.


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