Jornal Estado de Minas

Organizadora de festa onde menores foram flagrados alega que foi enganada pela filha

Thobias Almeida
- Foto: Reprodução internet
Na balada de sábado flagrada pelo Comissariado da Infância e Juventude de Minas Gerais, a American Pie, além da falta do alvará, havia o fornecimento de bebidas alcoólicas a menores e a presença deles desacompanhados dos responsáveisO estudante G.G, de 17 anos, e a amiga L..R., de 15, disseram às autoridades que organizaram o evento sozinhos, em função do aniversário da menina, que será em 16 de setembroEles confirmaram que houve venda de entradas: R$ 30, antecipadas, e R$ 50, na portariaOs adolescentes disseram que a participação de C.F., de 36 anos, mãe de L.R., se restringiu à assinatura do contrato com o espaço onde ocorreu o evento.

A mãe se defende das acusações de que teria permitido a balada irregular“Aluguei o salão para minha filha e contratei segurançaFiz ainda pulseiras que identificariam quem era maior e menor de idade, justamente por causa das bebidas”, contestaEla se diz enganada pela filha, pois não imaginava que haveria venda de ingressos e nem tinha ideia do volume de pessoas que compareceriam à festa, cerca de 300Além disso, a mãe afirma que nunca promoveu festas assim, a não ser um aniversário da filha, em que tudo correu bem

A mulher também se defende da acusação de que teria fugido do localEla alega que saiu da festa com a filha, deixando a carteira de habilitação com os comissáriosA coordenadora Denise Costa diz que vai pedir a abertura de inquérito policial contra C.F., que teria outras denúncias no Conselho Tutelar por infrações semelhantes
“Já estou sabendo que outras duas American Pie vêm por aíSó digo que estamos de olho”, adianta ela

Alerta para os pais

O rentável mercado da diversão noturna enxerga os adolescentes, cada vez mais, como um importante nicho de consumidoresMas os promotores de festas não têm se preparado para atender esse público de acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)A constatação parte do Comissariado da Vara Cível da Infância e Juventude de Minas Gerais, que detecta e autua até três festas comerciais sem alvará específico a cada final de semanaNos eventos autuados, a principal infração é a venda de bebidas alcoólicas a menores, mas há registros sobre a presença de drogasSegundo o comissariado, a prática se intensificou nos últimos seis mesesA última ação de peso dos comissários da Infância e Juventude ocorreu no sábado passado, em uma festa organizada na Avenida Raja Gabaglia, no Bairro Santa Lúcia, Região Centro-Sul, batizada de American Pie, em referência à série de filmes norte-americanosNa ocasião, 109 adolescentes, a maioria com idades entre 14 e 15 anos, foram recolhidos, pois consumiam vodka, tequila e chopp sem qualquer restrição.

“Esse mercado está crescendo, tornou-se um nicho muito exploradoA cada final de semana, flagramos duas, três festas ilegais
Há seis meses, a frequência era menorÀs vezes, nossas equipes saíam e não encontravam irregularidades”, relata a coordenadora substituta da Vara Cível da Infância e Juventude, Denise Pires CostaA coordenadora diz que, domingo, outra comemoração irregular com a presença de menores foi detectadaTrinta adolescentes foram recolhidos na “Domingueira Fest”, que ocorreu em uma casa no Bairro Dona Clara, na Região da PampulhaO responsável pelo evento foi preso, pois foram encontradas drogas no local.

Denise Costa explica que o comissariado atua basicamente por meio de denúncias do Conselho Tutelar, de pais ou responsáveis ou mesmo de relatos anônimosOs 210 comissários voluntários e os 50 efetivos que trabalham em Belo Horizonte também percorrem rotas sigilosas por casas de festas e comércios cadastrados pela varaEla explica que os comissários fazem buscas na internet para flagrar a divulgação das baladas que ocorrem em sítios e casas.

Cilma quente

Um dos organizadores da American Pie, G.G., de 17 anos, confirma a rotina de curtição desenfreada“Todo final de semana tem esse tipo de festa em BH, muitas em sítios, principalmente na PampulhaTem bebida e já vi gente saindo desacordada de algumasE é lógico que o clima esquenta”, confirma o menor, referindo-se aos excessos que surgem no embalo da bebidaEle próprio relata ter sido obrigado pela família a frequentar um psicólogo, depois de passar mal em razão da ingestão de álcool na balada.

“Se alguém quer promover uma festa que permita a entrada de adolescentes desacompanhados, é necessário pedir ao juizado um alvaráNesse pedido, deve constar a idade dos frequentadores, horário de início e término, local, contrato com empresa de segurança, ambulância e demais precauções”, diz a coordenadoraEla acrescenta que uma equipe da Vara da Infância e da Juventude se desloca até o local do evento para averiguar todas as condiçõesEm caso de desrespeito, o responsável responde a processo judicial e está sujeito a multa que varia de 3 a 20 salários mínimosCaso a irregularidade seja em um estabelecimento comercial, a casa pode ser fechada.

Ela aconselha os pais a ficarem sempre atentosAs dicas são acompanhar os filhos pelas redes sociais, uma das principais formas de divulgação de eventos do tipo, tentar sempre o diálogo e, caso se perceba que as coisas estão fugindo ao controle, procurar ajuda, seja com um psicólogo ou com o próprio Conselho Tutelar.