Jornal Estado de Minas

Capacidade de BH para tratar lixo hospitalar se esgota em três anos e meio

Valquiria Lopes

No aterro da BR-040, célula específica recebe os detritos de serviços de saúde, mas em menos de quatro anos unidade estará saturada - Foto: Beto Magalhães/EM/D.A Press

Se o complexo de atendimento médico-hospitalar de uma cidade pode ser comparado a um organismo vivo, em que cada sistema deve funcionar precisamente para que o conjunto não pare, Belo Horizonte já tem diagnosticado um preocupante problema de saúde, que pode evoluir para uma crise sem precedentesEm três anos e meio o município esgotará sua capacidade de receber e processar o que hoje equivale a 40 toneladas diárias de detritos hospitalaresO volume, gerado nas 450 unidades do setor, ainda é recebido em célula específica do aterro sanitário da BR-040, na Região Noroeste da capitalQuando a unidade estiver saturada, além de enfrentar um problema ambiental, a cidade pode ver seu gasto para tratar da questão se multiplicar algumas vezesA capital ainda não tem outra área para destinar esse tipo de resíduo nem encontrou solução financeiramente viável para isso, embora estude um processo de queima em altas temperaturas chamado pirólise.

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O baque no orçamento provocado pelo lixo não é novidadeA cidade já esteve às voltas com ele no fim de 2007, quando viu esgotada a capacidade do aterro sanitário de processar rejeitos comuns e precisou terceirizar o serviço de coleta e aterramento dos resíduos sólidos domésticos, comerciais, de varrição e dos resíduos de podaNa época, dos R$ 14 por tonelada gastos somente com coleta do lixo, a conta subiu mais de 8 vezes e passou para R$ 121 por tonelada, sendo R$ 86 de coleta e R$ 35 para processamento no Aterro Macaúbas, unidade particular em Sabará, na Região Metropolitana de Belo HorizonteNo caso do lixo hospitalar, o agravante é que o depósito da Grande BH não aceita esse tipo de rejeito.

Mesmo sem ter na ponta do lápis o atual gasto com a coleta e aterramento dos resíduos dos serviços de saúde, a Superintendência de Limpeza Urbana (SLU) informou que cobra das unidades R$ 175 por tonelada para recolher e processar os detritosCom o projeto de queima, o custo para tratamento vai subirO processo, que transforma material orgânico em carvão e aquilo que é volátil em gás, está em fase de avaliação.

Na terça-feira, a SLU informou não ter estimativa do preço por tonelada para tratamento com pirólise, mas, em entrevista ao Estado de Minas em abril, o diretor de Operações da superintendência, Rogério Siqueira, afirmou que o custo poderia chegar a R$ 500E completou: “Não acho caro, porque no mercado o custo da queima ainda está acima

As usinas cobram em torno de R$ 1.000 a R$ 1.500 por tonelada”, disseSegundo ele, para fazer a certificação da usina, criada por meio de convênio com a Fundação Cristiano Otoni, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a prefeitura fez um investimento de R$ 720 mil.

Saiba mais / Pirólise

É a decomposição que ocorre pela ação de altas temperaturas, capazes de provocar ruptura da estrutura molecular original de determinado compostoO sistema é muito usado na indústria petroquímica e na fabricação de fibras de carbonoNo tratamento do lixo, compostos ou elementos químicos se separam pela diferença de temperatura, gerando subprodutosNa reação, a matéria orgânica é transformada em carvão e o que é volátil vira gásOs testes para tratamento do lixo hospitalar de Belo Horizonte vão começar em agosto