Jornal Estado de Minas

Pela web, estudante com leucemia busca doador de medula

Pais recebem cerca de 20 ligações por dia

Sandra Kiefer

Felipe Henrique da Silva, estudante "Esse sou eu. Quem me conhece sabe que sou assim e tento passar aquilo que realmente penso" - Foto: CRISTINA HORTA/EM/D.A PRESS



Por meio de um e-mail despretensioso, o jovem estudante de computação Felipe Henrique da Silva, de 25 anos, conseguiu extrapolar os limites da cama do hospital Socor, onde está internado com leucemia há 62 dias, e levar a sua mensagem de esperança para o mundoEle escreveu o texto, pelo qual pede apoio para conseguir doadores de medula óssea que o ajudem a salvar sua vidaA chance de conseguir a compatibilidade genética é de um em cada 100 mil doadores e ninguém da família do rapaz mostrou-se compatível, mas nada disso consta da mensagem escrita por ele, que é altamente positiva do início ao fimComeça com um “Fala, moçada!” e termina com um “Aqueles que não puderem doar, esquenta não, só de orar por mim já me sinto muito feliz”.

Felipe redigiu a mensagem em uma tarde de quinta-feira e, com um clique, enviou para exatos 35 colegas da turma da faculdadeFoi o bastanteNa terça-feira da semana seguinte, o apelo já havia explodido na internet“Nunca imaginei a proporção que isso iria atingir”, revelaA vontade de viver de Felipe é tão forte que contagiou centenas de pessoas que receberam o e-mail na internet e repassaram para outros de suas listas de e-mails, transformando a mensagem numa espécie de corrente do bemOs pais de Felipe, Maurício e Oracina Silva, atendem em torno de 20 ligações por dia, de diversas partes do BrasilCalculam já ter falado com cerca de 300 pessoasÉ que, para conferir maior credibilidade à correspondência pela internet, Felipe abriu todos os números de telefone dos pais, do hospital onde está internado e até do Hemominas, que também passou a receber contatos de possíveis doadores e interessados no assunto
“Já ligou gente de São Paulo, do Rio, da Paraíba e até dos Estados Unidos Do interior de Minas já até perdi a conta das cidades – Ouro Preto, Araxá, IpatingaEles ligam, primeiro, perguntando se é verdade, depois, querendo ajudar meu filho, rezar por ele”, revela a costureira Oracina, que largou a profissão para fazer companhia ao filho no hospital, revezando com o marido, projetista de uma firma de engenharia de Belo Horizonte


O tom da mensagem eletrônica é inteiramente descontraídoPessoalmente, Felipe joga a bola ainda mais para cima do que já faz no e-mailRecebe a reportagem do Estado de Minas, no Socor, vestido com a camisa do Atlético e fala sobre a vontade de conhecer o ex-atacante alvinegro Marques, hoje deputado estadualNo hospital, não passa dois, três dias sem receber a visita dos amigos, seja da equipe de futebol do Bairro Belmonte, fundada por ele, ou da PUC do Coração EucarísticoTodos os colegas do time se cadastraram como possíveis doadores de medulaDurante a entrevista, Felipe evita responder a perguntas sobre a namorada ou planos para o futuro, apesar de já estar no sétimo período do curso, restando um para se formarTambém não conta – a mãe é quem revela – que, apesar de adorar futebol, está impedido de jogar bola, pois a doença provoca dores terríveis nas pernas, só combatidas com morfina, além de cansaço crônico


“Esse sou eu Quem me conhece sabe que sou assim e tento passar aquilo que realmente pensoClaro que a gente sempre acha que os problemas da gente são maiores que os do outro, mas não é porque estou no hospital que vou ficar debilitado, nem abaixar a cabeçaNão vou desistir nunca”, afirma FelipePara continuar conversando, o estudante precisa fazer pequenas pausas para beber água e descansar, pois a boca fica seca sob o efeito das sessões de quimioterapia, enquanto não chega a medula salvadoraJá a queda do cabelo não incomoda tanto“É última coisa que me preocupa Minha maior preocupação seria não encontrar um doador, mas tenho muita confiança de que vou conseguirNossa campanha está muito forte.”, conclui, com um sorriso nos lábios ressecados

Origem desconhecida

A leucemia é uma doença maligna dos glóbulos brancos (leucócitos), geralmente de origem desconhecidaTem como principal característica o acúmulo de células jovens anormais na medula óssea, que substituem as células sanguíneas normaisA medula é o local de formação das células sanguíneas e ocupa a cavidade dos ossos, sendo popularmente conhecida por tutanoNela são encontradas as células que dão origem aos glóbulos brancos, aos glóbulos vermelhos (hemácias ou eritrócitos) e às plaquetas.