Vale tudo para escapar da fiscalização quando se trata do transporte clandestino de passageiros em Belo Horizonte
Zilméia, segundo a BHTrans, é dona de oito vans e de um ônibusEla faz transporte para cidades dos vales do Aço, Rio Doce e MucuriNessa sexta-feira, ela tinha abordado, na Praça da Estação, 15 pessoas que pretendiam viajar no trem da Vale e as levou em um coletivo para o Bairro Goiânia, Região Nordeste da capital, onde havia deixado sua van Fez até uma graça aos clientes, pagando os R$ 2,45 da tarifa do ônibus
Zilméia, o marido, o filho e um cunhado, conforme o coordenador de fiscalização da BHTrans, Carlos Xavier, sempre abordam pessoas na Praça da Estação e oferecem passagens mais baratas do que as do trem“Antes, ela colocava no metrô e elas desembarcavam na Estação Santa Inês, onde as vans ficavam esperandoDepois, ela foi para o Bairro Capitão Eduardo, mas mudou de região devido ao problema com a ponte do Rio das VelhasAgora, migrou para o Goiânia
Há uma semana fiscais da BHTrans vêm monitorando os passos delaÀs 7h54 dessa sexta-feira, a Sprinter dirigida por Zilméia foi interceptada saía da Rua Manoel Tavares de Abreu, no Goiânia, com 15 passageirosUma menina de 8 anos estava sozinha, sem autorização judicialA mãe a havia deixado aos cuidados de Zilméia, na Praça da Estação, e a avó da criança ficou de buscá-la quando chegasse a Governador Valadares, no Vale do Rio DoceA menina chorava e a mãe foi chamada ao local para recebê-la“Se houvesse um acidente na estrada com a menina, a condutora do veículo seria responsabilizada”, alertou o cabo da PM Marcos Mendes
Carlos conta que as vans da condutora já haviam sido apreendidas, no mínimo, três vezes“Quando ela não dá conta de atender a demanda, freta ônibus
Como a van dirigida por Zilméia já foi apreendida outras vezes, tinha 10 autuações e duas multas não pagas, por excesso de velocidade na Rodovia MG-10 e estacionar em local proibido na Praça da Estação, o veículo foi rebocado para o pátio da BHTrans e somente poderá ser retirado em 10 dias, mediante pagamento de diária de R$ 30 (totalizando R$ 300) e mais R$ 130 pelo reboqueCarlos explicou que não há multa pelo transporte clandestino intermunicipalMas se o perueiro age somente na capital, a multa judicial é de R$ 2 mil e o carro fica apreendido por tempo indeterminado, cabendo somente ao juiz liberá-lo.
Esquema facilita retorno
Em maio, o Estado de Minas revelou esquema que facilitava o retorno às ruas de perueiros com veículos apreendidosA pedido da reportagem, o Detran analisou a situação de cinco deles, reconhecidamente envolvidos no transporte clandestinoPor força de ordem judicial, todos tiveram determinação da liberação dos documentos de licenciamentoNa região metropolitana, as rotas mais movimentadas ligam Ribeirão das Neves a BH, passando por Contagem, via BR-040Nessa rodovia é registrada a maioria das multas aplicadas às vans irregulares, mas também há linhas para Betim e Nova Lima, na Grande BHNa capital, os clandestinos ficam sujeitos a multa de R$ 2 mil e apreensão do automóvel, liberado apenas com determinação da JustiçaNas vias intermunicipais, o carro apreendido é liberado mediante pagamento das despesas do pátio e de possíveis pendências com taxas e multasDesde janeiro de 2009, a BHTrans estima ter feito cerca de 2,2 mil apreensões.
Três equipes no flagrante
Nessa sexta-feira, fiscais da BHTrans começaram a trabalhar ainda de madrugada para buscar o flagranteUma equipe ficou de prontidão na Praça da Estação e mantinha contatos via rádio com colegas posicionados na Avenida José Cândido da Silveira, no Santa Inês, Região LesteOutros monitoravam o local de embarque, no Goiânia
Segundo a BHTrans, moradores do Goiânia se sentem incomodados com os embarques clandestinos“Há denúncias de pessoas reclamando do barulho que fazem de madrugada, aguardando amanhecer para embarcarUma mulher falou que sua rua parecia mais uma rodoviária, com tantos carros particulares chegando com passageiros”, disse Carlos
A costureira Noemia Oliveira Costa, de 64, que nessa sexta-feira optou pela van de Zilméia, conta que seu marido a deixou na Estação Ferroviária, mas as passagens de trem tinham acabado “A mulher (Zilméia) se aproximou e disse que ia para Governador ValadaresFalou que seu transporte era seguro e me apresentou o marido e o filho delaEla colocou a gente num ônibus, a gente passou pela roleta e ela até pagou as passagensDepois, descemos aqui nesse bairro para pegar a vanAgora, nem sei onde estou, nem para onde ir com toda essa bagagem”, reclamouZilméia foi obrigada pela polícia a devolver o valor das passagens
O operador de máquinas Weverton de Oliveira Vila Nova, de 21, conta que decidiu pela van por não achar bilhetes para Governador Valadares, onde tinha audiência marcada numa agência bancária“A dona da van me disse que a viagem seria mais rápida e mais barataAcabou que vou perder a audiência e ter prejuízo de R$ 3 mil”, lamentou.