A sensação de que todos os ventos sopram a favor da ilegalidade dos flanelinhas em Belo Horizonte não é só dos motoristas
“Quem paga o pato é o próprio guardador cadastrado, pois ele pensa: cadastrar para que, se estão todos de volta à rua sem nenhum problema?”, questiona Martim dos Santos, presidente da SintralamacA Regional Centro-Sul informa que os cadastrados têm crachá e que os coletes são de responsabilidade do sindicatoA regional também informou que há um ano não faz cadastros por falta de demanda
Ganhando em média R$ 100 por dia, ele diz que “as portas estão abertas para quem quiser ocupar os quarteirões”Segundo ele, moradores de rua estão “tomando conta” e ameaçando os motoristas
Há oito anos atuando como guardador de carros no Bairro Funcionários, A.Dnão gosta de usar o crachá da PBH, apesar de ser cadastrado, mas não sabe explicar o motivoDiz que a falta de vagas de estacionamento na cidade tem impulsionado a ocupação“Tem mais carros nas ruas e menos lugares para pararOs ilegais ficam de olho”, adverte
Nesse clima, motoristas se dizem reféns do medoO advogado Rogério Senna destaca que a abordagem já mudou“Antes era um cafezinho, mas agora é R$ 5, R$ 10 Eles estipularam o valor
Na Savassi, o medo de motoristas é constanteMorian Faria, fisioterapeuta e comerciante da região, se sente ameaçada“Eles te obrigam a comprar a folha de estacionamento e é um perigo contrariá-los, pois não há fiscalização Como paro todos os dias, a gente acaba se rendendo, por medoCom mulheres é ainda piorEstão protegendo nossos carros de quem?”
Entrevista
O.S.D.
Flanelinha clandestino
“Isso está aumentando e ficando perigoso”
Há 16 anos trabalhando como guardador de carros na Rua dos Otoni, na Região Hospitalar, O.S.Dnão está cadastrado pela prefeitura e, por esse motivo, já foi levado duas vezes pela Polícia MilitarFiscalização que, para ele, não passa de “perda de tempo” e de dinheiroChegando a contabilizar cerca de R$ 100 por dia com o trabalho, ele não pensa em largar a profissão tão cedo
Você já foi detido por atuar na rua ilegalmenteComo foi essa prisão?
É uma verdadeira perda de tempoA polícia não faz nada e os fiscais, também nãoVocê vai para a delegacia, fica sentado e depois, no mesmo dia, é liberadoJá fui detido duas vezes e voltei no mesmo diaO que eu perdi com isso? O dinheiro do meu trabalho, porque tem um cliente para pagar a cada minuto
E a multa de R$ 1,5 mil, você chegou a pagar?
Multa? Não falaram nada dissoA fiscalização é um zero à esquerdaNo meu caso, foi tudo arquivadoEles já me conhecemSou antigo aqui e, muitas vezes, fico com a chave dos clientes
Mas você pretende se cadastrar para entrar na legalidade?
A prefeitura não está legalizando ninguémEm uma das minhas prisões, o delegado chegou até a me sugerir fazermos uma greve na cidade, para abrir o cadastro de novoO grande problema são outros guardadores que estão chegando e pegando nosso espaçoIsso está aumentando e ficando perigoso.