Jornal Estado de Minas

Bares e taxistas se preparam para lucrar com retorno de blitz da Lei Seca

Paula Sarapu
Roberta Girão diz que incentivo já faz com que mais frequentadores optem pelo táxi, antes mesmo do início das blitzes conjuntas programadas para os fins de semana - Foto: Cristina Horta/EM/D.a press
A dois dias do retorno das blitzes da Lei Seca às ruas de Belo Horizonte e da região metropolitana, donos de bares nem de longe cogitam perder clientelaPor isso, planejam abraçar a campanha “Sou pela vida, dirijo sem bebida”, estimulando o uso de táxisAs cooperativas, por sua vez, esperam faturar com a tolerância zero à combinação do álcool e direçãoNa Ligue Táxi BH, por exemplo, a direção mandou fazer 5 mil chaveiros com o telefone do grupo e a inscrição “Se beber, me chame!”, para serem distribuídos entre os usuários e frequentadores de barzinhos.

“Se a fiscalização realmente funcionar, como vemos em outros estados como o Rio de Janeiro, nossa expectativa é de que haja um aumento de mais de 30% nas chamadasAos sábados, fazemos uma média de 3 mil corridas e esse número pode chegar a quase 4 milSe calcularmos uma corrida considerada média, com preço de R$ 7, o taxista vai lucrar na faixa de R$ 630 numa noite”, contabiliza o diretor financeiro da cooperativa, Bronsibel Ribeiro

Ele perdeu a conta de quantas vezes ficou na torcida para que a Lei Seca emplacasse em BHAgora, está confiante “Vamos até fazer um trabalho de conscientização com nossos motoristas, porque muitos não gostam de atender a pessoas que beberamMas o importante é a sociedade apoiar a iniciativa, que já devia ter sido implantada para valer há muito tempoVai reduzir o número de carros nas ruas e o que a gente tem que pensar é que o motorista alcoolizado que vai de táxi não arrisca a própria vida e a de outros.”

Alguns bares já organizam parcerias
As duas unidades da cervejaria Devassa na Região Centro-Sul, a partir de quinta-feira vão chamar o táxi e oferecer desconto na corrida“Independentemente da fiscalização, a Devassa faz uma campanha permanenteNo meu grupo de amigos mesmo já percebo uma mudança de cultura: o que não bebe leva todo mundo para casa ou o pessoal prefere andar de táxi”, conta o sócio Daniel Balesteros.

Na rede Albano’s e na cervejaria alemã Haus München, os clientes receberão um voucher“Queremos que o nosso cliente beba com responsabilidade Colocamos jogos americanos e displays nas mesas, conscientizando os frequentadores sobre os perigos de assumir o volante depois de beber Aqui, nós pagamos a bandeirada, que custa R$ 3,40É uma forma de fazer a nossa parte”, diz a gerente de marketing das casas, Roberta Girão.

A campanha foi lançada antes mesmo do anúncio da Secretaria de Estado de Defesa Social de que aumentaria a fiscalização e recebeu grande adesão dos clientes, há dois meses“Cerca de 20% dos frequentadores passaram a pegar táxi depois de beber.” Roberta lembra que a tendência sofreu uma queda, mas acredita que as blitzes nas ruas farão o cliente pensar duas vezes antes de pegar o carro ao sair do bar ou de uma festa“Celebramos no bar momentos de descontração e relaxamentoNinguém quer ver acidentes de trânsito e vítimas por aí
Com o aumento da fiscalização, acho que as pessoas vão optar pelo táxi mesmo”, aposta.

O que você vai ver nas ruas


» As blitzes vão ocorrer de quinta a sábado, entre 22h e 5h Eventualmente haverá fiscalização às quartas-feiras e domingos, dias de jogos de futebolMotoristas flagrados alcoolizados perderão o direito de dirigir por um ano.

» Serão quatro blitzes simultâneas, com equipes compostas de policiais
civis e militares, guardas municipais e bombeirosEles terão acesso
aos bancos de dados das corporações para identificar outras infrações, como falta de pagamento do IPVA e licenciamento vencidoDois cadeirantes vão participar da abordagem educativa.

» A fiscalização ocorrerá em pontos de grande concentração de bares, boates e restaurantes, como nos bairros de Lourdes e Sion, na região Centro-Sul
da capital, e na Avenida Raja GabagliaAs entradas da cidade, corredores
viários e pontos com alto registro de acidentes e mortes no trânsito também terão blitzes.

» As equipes vão se movimentar e trocar de ruas durante a noite e a madrugadaA fiscalização também poderá ser feita em horários flexíveis, por causa de algum evento específico na cidade ou happy hour.

» Os motoristas serão convidados a soprar o bafômetroSerão liberados
se o resultado for até 0,11 miligrama de álcool por litro de sangue, o que representa uma dosagem muito pequenaDe 0,12 mg/l a 0,29 mg/l, o condutor será multado em R$ 957,70 e terá a carteira apreendidaSe o resultado do teste for superior a 0,30 mg/l, o motorista sofrerá as mesmas punições, mas vai responder também criminalmente e, por isso, será levado para a delegacia.

» Os que apresentarem sinais de embriaguez, como fala desconexa e desequilíbrio, ainda que se recusem a fazer o teste, terão a carteira apreendida e serão multadosSe não houver ninguém para dirigir o carro, o veículo será rebocado

Análise da notícia

Novo desafio

Dias antes da “reestreia” da Lei Seca, a dúvida do mineiro é se desta vez vai pegarNo Rio de Janeiro, o projeto virou modelo por causa de um tripé fundamental: fiscalização, transparência e igualdadeAs blitzes são diárias – nada menos que 35 por semana – e não há tratamento diferenciado, seja o motorista celebridade, artista, autoridade, músico, jogador de futebol ou filho de qualquer personagem influenteTodos correm o risco de ser paradosE todos ficam sabendo quem foi pego, e até se soprou o bafômetroCom isso, a sociedade acabou comprando a ideia, que funciona apesar do “serviço” que divulga os endereços das blitzes no TwitterPela cidade, é comum ver os carros com adesivos “Lei Seca – Eu apoio”, distribuídos nas próprias operaçõesAlém de conscientizar o condutor e reduzir as mortes no trânsito, a campanha “Sou pela vida, dirijo sem bebida” tem o desafio de recuperar a credibilidade da Lei Seca mineira, mostrando que desta vez a fiscalização vai ser rotineira, permanente e rigorosa