Jornal Estado de Minas

Parentes de vĂ­timas do acidente entre escolar e trem congestionam hospital em BH

O desespero dos pais das crianças feridas no choque entre um trem e um ônibus escolar em Entre Rios de Minas, na Região Central do estado, se misturava ao barulho intenso das sirenes de ambulância, que não paravam de chegar ao pronto-socorro do Hospital João XXIII, em Belo Horizonte, durante toda a manhã de quarta-feira
Em busca de notícias, muitos aceitaram a ajuda de uma empresa que está em instalação no município e custeou a viagem até Belo HorizonteSão lavradores, a maioria pessoas humildes da zona rural, que faziam questão de dar educação dos filhosAbalados, pais e moradores da região denunciam que não há sinalização para a travessia da linha férrea.

“Se ele (o motorista) levava crianças, alunos a caminho da escola em busca de um futuro melhor, tinha que ter responsabilidade e dar segurançaEram nossos filhos que estavam ali e ele precisava ter parado para olhar se vinha trem, antes de atravessarNão há sinalização para os motoristas que cruzam a via, só para os trensMas a lei só é rigorosa com a genteAquele escolar não tinha cinto de segurança, porque, se tivesse, ninguém tinha voado dentro dele, quando o trem de ferro arrastou o ônibusMinha filha Lívia, de 9 anos, ficou muito ferida e estava sentindo muita dorPerdi uma sobrinha de 16 anos que também ia estudar, e minha irmã, Leiva Fonseca, de 35, que trabalhava como costureira na cidade e pegava carona no ônibus”, desabafou o lavrador Glênio Fonseca, tentando conter as lágrimas.

Onze pessoas foram internadas no HPS João XXIII, sendo oito crianças e adolescentesQuatro, em estado mais grave, foram socorridas de helicóptero
O motorista do escolar, Antônio Geraldo de Assis Moura, de 50 anos, estava entre os socorridos em BH, mas não resistiu aos ferimentosA lavradora Marlene Conceição da Fonseca Silva, de 31 anos, estava nervosa, em busca de notícias sobre as filhas Jaqueline Fabrícia Silva Resende, de 10, e Janaína das Dores Silva Resende, de 11, que teve traumatismo craniano grave e chegou de helicóptero, entubadaMarlene conta que a travessia é perigosa, porque são duas linhas férreas, pelas quais o ônibus passa na ida e na volta.

“Já tinha pedido na escola que colocassem outro carro por uma estrada de terra, para que as crianças não precisassem cruzar a linhaLá é perigoso, não tem sinal de trânsito nem alerta de som, só uma placa avisando para pararTem uma curva próxima à linha do trem, mas, se o motorista parar, consegue verMinhas filhas pegaram o ônibus no ponto às 6h e uma vizinha, que levava a filha para a Apae, ligou contando sobre o acidente”, disse Marlene, que mora na zona rural do distrito de Brumadinho.

A mãe do estudante William Pedro da Silva, de 15, disse que o adolescente teve ferimentos leves e já torcia por sua recuperação rápida, para ele comemorar o aniversário em casaAluno do segundo ano da Escola Estadual Expedicionário Geraldo Breta, em Entre Rio de Minas, o menino sofreu o acidente a cinco quilômetros de casa, na zona rural de Moinho Velho.

“Na hora que recebi a notícia da batida do trem no ônibus, achei que todo mundo tinha morrido e minha preocupação de todo dia com aquela linha de trem virou desesperoAcho que ele só quebrou a pernaWilliam quer ser médico, é ótimo aluno e nunca perdeu médiaDia 29 ele faz 16 anos e o presente será voltar logo para casa e para a escola”, disse a lavradora Maria Neuza Vieira Silva, de 35
“Graças a Deus ele está bemPoderia ter sido muito pior”.