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Estado de Minas

Violência entre torcedores causa mais uma morte em Minas


postado em 05/06/2011 07:03 / atualizado em 05/06/2011 09:20

Rivalidade ou obsessão que leva à violência e à morte? Essa é a pergunta sem resposta diante dos homicídios de torcedores em Minas Gerais nos últimos anos. Desde 1978, 13 famílias choram a perda de parentes assassinados por causa da paixão por este ou aquele clube de futebol. O episódio mais recente ocorreu domingo, em Montes Claros, no Norte do estado, onde Paulo Pimenta Freire, de 22 anos, estudante de biomedicina, foi morto a tiros depois de uma briga com integrantes de uma torcida rival. Até agora, a polícia não tem pistas dos dois homens que mataram o rapaz no meio da rua no Centro da cidade.

O Estado de Minas foi em busca de histórias em que a truculência roubou do esporte preferido dos brasileiros o romantismo e a alegria. O quadro é o mesmo em todos os lares onde as vítimas moravam. A tristeza sem consolo quando os parentes falam das vítimas. Na hora do almoço, o prato principal é a saudade. Nas reuniões em torno da TV, prevalece a certeza de que o lugar vazio no sofá nunca mais será ocupado. São casos de jovens trabalhadores com objetivos traçados, mas que tiveram o caminho interrompido pela fúria dos adversários.

As palavras da aposentada Terezinha Pereira Anastácio, de 85 anos, resumem a extensão da perda: “Quando me lembro dele, tenho vontade de chorar e gritar. Era minha companhia, era minha joia. Sinto muita falta, já pedi para a imagem dele sair da minha presença, mas não sai”, lamenta, aos prantos, a avó de Lucas Batista Anastácio Marcelino, que aos 20 anos caiu com um tiro no pescoço na Avenida Silviano Brandão, no Bairro do Horto, Região Leste de Belo Horizonte, quando se preparava para acompanhar o jogo do clube do coração, em 15 de fevereiro de 2009. Ele foi vítima de dois homens que passaram em uma moto atirando contra um grupo de torcedores.

Tudo acabado

Dolorosas também são as memórias do aposentado João Jacinto Teixeira, de 63, que pensou em desistir de tudo quando o filho Washington Sebastião Teixeira, de 26, foi baleado na cabeça, quando esperava o ônibus em um ponto da mesma Silviano Brandão, em 5 de agosto de 2005. O tiro partiu de um carro. Dentro dele estava uma pessoa que disparava indiscriminadamente contra torcedores adversários. “A gente não consegue mais ser a pessoa que era. Há uns dois anos não tinha vontade de viver, entrei em depressão e quase morri. Tudo havia acabado”, desabafa João Jacinto, com a voz embargada.

São dessas memórias que essas 13 famílias alimentam a saudade. O único consolo, se assim se pode definir, para quem perdeu um ente querido em decorrência de um simples jogo de futebol, é ver a Justiça ser cumprida. Mas, condenações são poucas e, quando ocorrem, podem ser proteladas por anos.

O esporte deveria servir à paz

Por causa de um agasalho do time de sua admiração, o estudante de biomedicina Paulo Pimenta Freire, de 22 anos, morador de Montes Claros, no Norte de Minas, foi assassinado a tiros na madrugada de 29 de maio, depois de se desentender com o dono de uma festa na qual estava, e que seria torcedor adversário, num apartamento na Região Central da cidade. Para os parentes de Paulinho, como o estudante era chamado em casa, a morte não tem explicação, pois o rapaz era um torcedor tranquilo, que via as partidas pela TV, em bares ou em casa e nunca havia se envolvido em confusão.

Como conta o pai do estudante, o funcionário público e pastor Danilo Freire, Paulinho passou a se interessar mais por futebol por influência do tio, médico, que durante muitos anos trabalhou no departamento médico de uma das equipes de futebol de Belo Horizonte. Foi ele quem deu de presente a Paulinho o agasalho que o estudante usava quando foi assassinado.

A brutalidade do crime, ainda não assimilada pela família, faz Danilo refletir sobre o que ocorre nos campos de futebol: "O esporte deveria ser usado em favor da paz, mas, hoje, os jovens estão sem referência. Aí, recorrem ao futebol como maneira de extravasar, para fomentar a rivalidade. Acabam por seguir o caminho da violência", avalia o pastor, que espera da polícia a identificação dos autores do crime.

O que se sabe até agora é que Paulinho teve um desentendimento na festa, onde foi agredido, saiu do apartamento, encontrou quatro amigos que torcem pelo mesmo time que ele e, juntos, resolveram voltar à festa. Poucos metros adiante, reencontraram o dono do apartamento e mais um torcedor rival, reiniciando as discussões. Nesse momento, chegaram dois homens em uma bicicleta, um deles sacou um revólver e disparou três vezes contra Paulo, que foi atingido na cabeça e no peito, morrendo na hora. Amigos do estudante também não entendem o crime, pois Paulinho, para eles, era “de paz” e não procurava brigas.


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