Jornal Estado de Minas

BH tem primeiro casamento gay

Ana Clara Brant
Maria, de 41 anos, e Andrea, de 42 (*), formam o primeiro casal homossexual de Belo Horizonte a oficializar a relação desde que o Supremo Tribunal Federal (STF) reconheceu a união homoafetiva estável
Na sexta-feira passada, um dia depois da aprovação unânime no STF que equiparou direitos e deveres de casais heterossexuais e homossexuais, as duas foram até um cartório na capital registrar o contrato do relacionamento, que já dura cerca de sete anosO Estado de Minas fez ronda, desde a decisão, nos 12 cartórios de união civil da capital“Na verdade, queríamos fazer isso há mais de um anoAcabou coincidindo com a aprovação do Supremo no dia anteriorMas era uma desejo nosso e acredito que foi uma grande conquista”, comenta Maria

O casal nem quis divulgar muito o feito, e só as pessoas mais próximas é que ficaram a par da decisão“Muita gente ainda não sabe, porque é algo muito pessoal, íntimoA gente chegou no cartório bem no fim da tarde de sexta, assinamos contrato que nosso advogado havia feito e tudo funcionou sem muita burocraciaFoi bem rápido”, acrescenta

Antes da aprovação pelo STF, alguns casais podiam registrar a união em cartório, mas mesmo agora, ainda pairam dúvidas para quem quer regulamentar o relacionamento
Segundo funcionários de cartórios de Belo Horizonte, muitas pessoas têm procurado esclarecer alguns pontos, entender como vai funcionarA decisão do STF fez com que a união homoafetiva seja reconhecida como entidade familiar e, portanto, regida pelas mesmas regras que se aplicam à união estável dos casais heterossexuais, conforme o Código CivilIsso dá aos casais gays segurança jurídica em relação a direitos como pensão alimentícia, herança e compartilhamento de planos de saúde, além de facilitar a adoção de filhosO único direito que não foi estendido aos casais homossexuais foi o casamento, já que este exige registro civilA relação homoafetiva era considerada antes apenas um regime de sociedade no Código CivilPela interpretação anterior, o casal homossexual era tratado como tendo uma relação de sociedade, ou seja, se houvesse uma separação, os direitos eram equivalentes aos existentes em uma quebra de sociedade

Para Maria e sua companheira, a decisão do STF é uma maneira de garantir o direito não só delas, como de vários casais na mesma situaçãoEntretanto, elas não têm a intenção de realizar alguma cerimônia ou celebração posteriormente“No dia do cartório, a gente saiu para jantarMas não pensamos em fazer festa, nada nesse sentido
Já discutimos a questão da adoção de uma criança, mas agora, isso não está nos nossos planos”, frisou

União carioca Para celebrar a decisão do Supremo Tribunal Federal, o governo do Rio de Janeiro vai realizar em 10 de junho, próximo ao Dia dos Namorados, uma cerimônia coletiva para oficializar o relacionamento de 50 casaisO evento contará com o apoio da Defensoria Pública fluminense, que concederá isenção do pagamento do registro a quem apresentar atestado de pobreza

(*) Nomes fictícios a pedido das entrevistadas