Jornal Estado de Minas

Motos representam 13% da frota e estão envolvidas em 60% dos acidentes em BH

Cresce também o número de vítimas de acidentes com o veículo. BHTrans lança campanha de conscientização

Glória Tupinambás

Direção perigosa entre carros e ultrapassagem pela direita são comportamentos de risco apontados pela empresa que gerencia o trânsito na cidade - Foto: RENATO WEIL/EM/D.A PRESS


No trânsito caótico de Belo Horizonte, as motos se multiplicam e hoje representam 13% da frota do municípioMas, na garupa, levam a preocupante estatística de estarem envolvidas em mais de 60% dos acidentes com vítimasPara tentar frear a violência nas ruas e avenidas da capital, a BHTrans lança hoje a campanha “Andar de moto é legalArriscar a vida, não”, como parte das atividades da Década Mundial de Ações para a Segurança no Trânsito (2011/2020), instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU)O foco inicial do projeto é a conscientização dos riscos da alta velocidade sobre duas rodasApesar de reconhecer a importância da iniciativa, entidades representativas de motociclistas reclamam da tendência de culpar apenas as motos pelos números trágicos

Vejas os riscos da alta velocidade

O crescimento da frota, que aumentou 76,5% em cinco anos, contra 41% dos carros no mesmo período, impressionaHoje, diante das quase 170 mil motos e de 182,1 mil motociclistas em BH, o desafio é mudar o cenário presente nas macas e leitos do Hospital de Pronto-Socorro João XXIIIDe janeiro a abril, foram 2.379 atendimentos a motociclistas na principal unidade de saúde de BH – número 140% maior que o de vítimas de acidentes com carros“Fizemos uma pesquisa qualitativa e percebemos que não adianta tentar convencer a pessoa a deixar a motoO ideal é mostrar a ela a importância de dirigir sem cometer loucuras
Para isso, o mote da campanha é fazer o motociclista pensar em quanta falta ele faria à família, caso perdesse a vida num acidente”, diz o gerente de educação da BHTrans, César Teixeira Lopes

Com apelos emotivos, a mobilização visa a combater o excesso de velocidade, apontado como a principal agravante dos acidentes de trânsitoSegundo a BHTrans, uma batida a 60 quilômetros por hora num objeto parado equivale a cair de um prédio de 11 andaresMensagens como essa estarão, a partir desta quinta-feira, em 1 mil cartazes a serem espalhados pela cidade, 120 painéis de abrigos e traseiras de ônibus e adesivos para baús de motos“A velocidade é apenas o ponto de partida da campanhaAo longo do ano, teremos outros focos, como a necessidade de comunicação no trânsito (dar seta e fazer sinais de braço), risco de ultrapassagem pela direita e cuidado com capacetes, roupas reflexivas e faróis”, acrescenta Teixeira

Cicatrizes

Com quatro acidentes na memória e cicatrizes espalhadas pelo corpo, o motoboy Eduardo Byron Cardoso, de 28 anos, sonha com a oportunidade de deixar de lado a temida “ferramenta de trabalho”“A moto é meu ganha-pão, mas quero voltar a trabalhar numa barbeariaNo meu serviço é impossível não correr e não cometer deslizes no trânsitoTenho medo de perder a saúde ou de não ver minha filha de 4 anos crescer”, conta ele, com oito anos de experiência


Acostumado à correria do trânsito no Centro de BH, o entregador Gilbert Cássio Pereira, de 42, já perdeu as contas de quantos apertos passou entre carros e ônibus“Em 2008, sofri um acidente e tive que fazer cinco cirurgiasAinda não me recuperei do susto e hoje dirijo com mais atençãoSei que há imprudência e desrespeito de carros e motosEntão, penso que cada um deve fazer a sua parte”, alerta Gilbert

Brasil

Para marcar o início da Década Mundial de Ações para a Segurança no Trânsito, o Cristo Redentor, no Rio, e o Ministério da Saúde, em Brasília, foram iluminados na noite dessa quarta-feira com luzes de cor amarela e laranja, símbolos de atenção no tráfegoO governo federal também lançou o Pacto Nacional pela Redução dos Acidentes de TrânsitoApenas em unidades do Sistema Único de Saúde (SUS) foram 145,9 mil internações de vítimas de acidentes de trânsito em 2010, com custo de R$ 187 milhõesDados do Ministério da Saúde mostram que de cada 100 mil brasileiros, 16,5 foram internados no ano passado por causa de acidentes com veículos, sendo as maiores taxas de motociclistas (36,4 por 100 mil) e de pedestres (20,5 por 100 mil).

 


5 razões para o avanço das motos

Aumento da renda média da população

Facilidade de financiamento

Baixo custo de manutenção e menor consumo de combustível

Facilidade de deslocamento, mobilidade e estacionamento

Aumento da demanda por serviços de entrega


5 motivos para temê-las



Risco na circulação, por se deslocarem boa parte do tempo sobre a linha divisória e não nas faixas de trânsito

Ausência de proteção para o condutor, o que aumenta o risco de ferimentos e morte em caso de acidentes

Uso inadequado para transporte excessivo de cargas ou pessoas

Instabilidade sobre duas rodas, que requer maior cuidado e equilíbrio

Grande potencial poluidorNa comparação com carros e ônibus, a moto emite, proporcionalmente à potência do motor, mais gases poluentes