Jornal Estado de Minas

Ônibus queimados trazem rotina de medo, mas nenhum responsável é preso

Há uma semana, polícia prometeu deter os responsáveis. Já são 10 veículos incendiados

Vândalos ateam fogo em ônibus de transporte coletivo suplementar da linha 82 - Foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press

Passadas duas semanas de uma série de ataques a ônibus na Região Metropolitana de Belo Horizonte – totalizando 10 veículos queimados –, a Polícia Civil não cumpriu a promessa de identificar e prender os responsáveisNa noite de domingo, um escolar e três micro-ônibus da linha 21 (Dom Cabral/BH Shopping) foram atingidos pelas chamas em um estacionamento do Bairro Dom Cabral, Região Noroeste da capitalAos 30 minutos de ontem, outro micro-ônibus, da linha 82, foi destruído pelo fogo no pátio de um posto de combustível da Avenida Cristiano Machado com Rua Jacuí, no Bairro Ipiranga, Região Nordeste da capital, onde era deixado à noite pelo donoTestemunha anônima denunciou à PM ter visto dois homens jogando um produto inflamável no veículo e ateando fogoA dupla fugiu numa moto de cor escuraNão houve vítimas.

Em 27 de abril, quando o quinto coletivo foi incendiado no Bairro São Luiz, na Pampulha, a Polícia Civil prometeu fechar o cerco contra os incendiáriosA principal linha de investigação se voltava para a Penitenciária Nelson Hungria, de onde teria partido a ordem para queimar coletivos em reação a uma operação pente-fino feita no local, como também à troca do diretorOntem, o chefe do Departamento de Investigações de Crimes contra o Patrimônio, delegado Islande Batista, disse ter designado uma equipe do Departamento Estadual de Operações Especiais (Deoesp) para investigar os atentadosEle não descarta a hipótese de ser uma represália às mudanças feitas na Nelson Hungria, em 25 de abril“Não posso afirmar nem descartar alguma ligação com a operação feita no presídioTambém pode ser algum aproveitador”, declarou o delegado

Ele diz preferir manter o sigilo das apurações, sob argumento de “não atrapalhar os trabalhos”.

Segunda-feira da semana passada, quando um ônibus da linha 1950 (Olaria/Glória) foi queimado em seu ponto final, no Bairro Diamante, Região do Barreiro, a Polícia Civil afirmou que o serviço de inteligência já estava em açãoOntem, a assessoria de imprensa anunciou uma entrevista coletiva para falar sobre o andamento das investigações, mas a cancelou no meio da tarde.

A suspeita de que a ordem para queimar ônibus partiu de presos da Nelson Hungria foi sustentada ao Estado de Minas por mulheres em visita a companheiros naquela unidadeOs presos envolvidos, segundo elas, são ligados a uma facção criminosa de São Paulo.

No fim da tarde de ontem, Islande Batista informou que não obteve imagens dos dois últimos atentados, pois não havia câmeras de segurança nos locaisSobre o de domingo, adiantou que a perícia não encontrou elementos para afirmar se o incêndio foi criminosoPane elétrica é investigadaJá o laudo da perícia feita no micro-ônibus queimado no Ipiranga não havia sido concluído“Não posso afirmar se há suspeitoMesmo se houvesse, eu não diria, para não atrapalhar as investigações”, disse o policial.

Prejuízo

O dono do micro-ônibus queimado ontem, Sebastião Rosa, de 56 anos, levou um susto quando foi buscar o veículo, pela manhã, para trabalharA alta temperatura derreteu o teto e as laterais do coletivoDas poltronas restaram apenas as armações de ferro
“Eu guardava meu veículo aqui por três anos e nunca tinha acontecido nadaNão discuti com ninguém e não tenho qualquer desavença que possa justificar uma vingança”, disse Sebastião, que estima prejuízo de R$ 75 mil“O seguro do carro era apenas contra terceirosEle era meu único ganha-pão”, lamentou o motoristaNa linha 82 são apenas sete veículos circulando, cada um com um proprietário diferente, atendendo moradores dos bairros Palmares, Santa Cruz, Cachoeirinha, Ipiranga, Colégio Batista, Santa Tereza e FlorestaOs passageiros também tiveram prejuízo, segundo Sebastião, pois terão um carro a menos.

O micro-ônibus de Sebastião estava ao lado do escritório de uma locadora de veículos, que teve as vidraças estouradas pelo calor do fogoO taxista José Luiz de Aquino, de 59, também costuma deixar seu Palio passar a noite no posto“Por sorte, eu não havia deixado meu carro no local pela primeira vez”, contouO estabelecimento funciona até as 22h e estava fechado no momento do incêndio.


Rotina de medo

• 26 de abril - Dois ônibus são queimados, um no Bairro Nova Contagem, em Contagem, e outro no Coqueiros, em Ribeirão das Neves, Região Metropolitana de Belo Horizonte

• 27 de abril - Mais dois coletivos são destruídos pelas chamas no Bairro São Luiz, na Pampulha, em BH, e no Bairro Gávea II, em Vespasiano, Grande BH

• 2 de maio - Um ônibus é incendiado no Bairro Diamante, Região do Barreiro, na capital

• 8 de maio - Três micro-ônibus e um ônibus escolar são queimados numa garagem do Bairro Dom Cabral, Região Noroeste de BH

• 9 de maio - Outro micro-ônibus é queimado, no estacionamento de um posto de combustível da Avenida Cristiano Machado com Rua Jacuí, no Bairro Ipiranga, Região Nordeste de BHDois suspeitos foram vistos jogando um produto inflamável e ateando fogo ao veículo, fugindo em seguida numa moto