Jornal Estado de Minas

Vila do ouro

Vilas no ouro nasceram para ordenar e normatizar as comarcas

Gustavo Werneck
Singela Igreja do Ó é uma das principais atrações turísticas de Sabará - Foto: Beto Novaes/EM/D.A Press - 6/1/11

Para entender os 300 anos de elevação à categoria de vila é preciso voltar no tempo, conhecer um pouco dos homens da época, suas ambições e sonhosA descoberta do ouro despertou cobiça, atraiu gente de todo canto e gerou praticamente uma terra sem lei nos arraiais mineradores, no século 17 e no início do 18“Era uma verdadeira desordem, pois não havia autoridades e o governo se encontrava sempre distante”, diz a professora Carla Anastasia, do Departamento de História da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)Para colocar ordem e normatizar administrativamente os lugarejos, explica, o governador da Capitania das Minas de Ouro e São Paulo, Antônio de Albuquerque, criou, em 1711, as primeiras vilas, que, na sequência, passam a funcionar como cabeça de comarca.

Dentro desse cenário, nascem Mariana, elevada à condição de vila em 8 de abril de 1711, e Ouro Preto, ex-Vila Rica, em 8 de julho de 1711 – ambas ficando à frente da comarca de Ouro Preto –, e Sabará, antiga Vila Real de Nossa Senhora da Conceição de Sabará, em 17 de julho de 1711, centro da comarca do Rio das VelhasSão João del-Rei muda de categoria em 1713 e se torna sede da comarca do Rio das Mortes.

A nova condição deu às vilas uma série de avanços políticos e administrativos, como a formação da câmara de vereadores, o chamado Senado da CâmaraComo sede da comarca, receberam um juiz ordinário e a figura do ouvidorA professora lembra que nem todos deixaram de ser arraiais por decisão espontânea de PortugalDe acordo com os autos, Mariana, Ouro Preto, Sabará, São João del-Rei e Serro foram os únicos povoamentos que chegaram à condição de vila por decisão da Coroa PortuguesaAlguns povoados, como Pitangui, foram elevados por pedidos dos paulistas que estavam na regiãoA solicitação, no entanto, não implicava resposta positiva, já que o governador da capitania poderia aprová-la ou não.

É bom lembrar que, em pleno século 18, os arraiais não apresentavam o menor sinal do que são hoje as cidades do circuito do ouroCarla Anastasia ressalta que eram formados por ranchos cobertos de sapé
Passados 300 anos, as cidades ainda apresentam uma série de problemas, sendo um dos mais difíceis de conciliar o crescimento urbano com a preservação de seu casario histórico, construído em especial nos séculos 18 e 19.

Outras vilas

Até o Mundial, outras três cidades mineiras vão comemorar 300 anos de elevação à condição de vilaSão elas São João del-Rei, no Campo das Vertentes, Caeté, na Grande BH, e Serro, no Vale do JequitinhonhaEm 1715, será a vez de Pitangui, a sétima vila do ouro de Minas, que terá festas entre o Mundial e as Olimpíadas de 2016Os prefeitos têm desafios e mostram seus planos e esperanças, em termos de serviços, melhoramento de rodovias, construção de terminais turísticos e resolução de problemas urbanos.

A proximidade dos eventos internacionais causa preocupação ao presidente da Associação dos Municípios do Circuito do Ouro, Ubiraney de Figueiredo Silva“Na verdade, estou desesperado, principalmente porque os prefeitos estão muito morosos, sem fazer os investimentos necessários em qualificação de mão de obra, estradas, receptivos turístico e outros serviçosMinas tem cerca de 70% do patrimônio colonial edificado no país e vai receber muitos visitantesÉ preciso que gestores e lideranças se mobilizem, pois o prazo é curto”, alertaA associação congrega 17 municípios e funciona como instância de governança regional, por meio da qual o Ministério do Turismo e governo do estado trabalham políticas públicas e a regionalização do turismo