Jornal Estado de Minas

Impasse sobre entulho incentiva bota-foras clandestinos em BH

Luciane Vidigal - Especial para o EM Pedro Rocha Franco

Belo Horizonte enfrenta um problema bem maior do que sua capacidade de resolvê-lo
A falta de bom senso de moradores e de empreendedores, somada à estrutura deficiente e à ausência de ações efetivas da prefeitura, põe à prova a capacidade da cidade de absorver montanhas de resíduos sólidosEm 2010, a Superintendência de Limpeza Urbana (SLU) retirou 140 mil toneladas de entulho dos 600 bota-foras clandestinos do municípioComo estímulo à falta de conscientização, as unidades de recebimento de pequenos volumes (URPV’s), oito anos depois de inauguradas como uma aposta para o fim dos depósitos irregularidades, estão saturadas, o que abre brecha para a ilegalidade

Veja as imagens dos bota-foras

A prefeitura mantém contrato anual, no valor de R$ 1,5 milhão com uma empresa particular para fazer o recolhimentoMas, sem revelar detalhes, o diretor operacional da SLU, Rogério Siqueira, diz que o custo do serviço é bem maior porque, além de recolher materiais nos reservatórios ilegais, a empresa tem que destinar maquinário para a limpeza das 31 URPV’s da cidadeCom a capacidade para 100 toneladas/dia, esses depósitos estão recebendo pelo menos cinco vezes mais“Para recolher o entulho extra e levá-lo para as estações de reciclagem usamos máquinas e caminhões que deveriam estar recolhendo o lixo nos bota-foras clandestinos”, revela Rogério

O efeito colateral é cidade entupida de materiais sólidos, que atraem insetos e roedores e se tornam um risco à saúde públicaNa teoria, cada URPV, destinada ao cidadão que faz pequenas reformas em casa e precisa desovar sobras de material, teria que ter quatro caçambas e dois caminhões para transportar o material às três estações de reciclagem (veja arte)“Mas é necessário muito mais
Os materiais são deixados fora das caçambas, porque estão lotadasEntão, os carroceiros despejam o entulho em área improvisada e os caminhões e máquinas, que deveriam fazer outro trabalho, o recolhemPor isso, estamos com o projeto de reformar essas unidades”, afirma Rogério

Alternativa

Enquanto as mudanças não ocorrem, algumas regionais acharam um meio de minimizar o problema, apesar de o remédio resultar no incentivo aos depósitos irregularesNa URPV Dona Clara, na Região da Pampulha, com a sobrecarga no ano passado foi proibida a entrada de carros particulares com carrocerias na unidade“Muitos reclamaram, mas não houve jeitoReduzimos em 50% a quantidade acolhida”, diz o gerente regional de Varrição e Serviço Complementar (Gevarc/Pampulha), Janir Alves NunesQuem ganhou com isso foram os carroceiros“Antes, os moradores entupiam tudoAgora, a preferência é nossa”, comemora José Geremias Costa Almeida, que há 32 anos faz o serviço e afirma estar vivendo a melhor época da profissão
“Com a expansão da construção civil, chego a fazer 10 viagens por dia, ao preço de R$ 15 a R$ 20 cadaNo mês, ganho até R$ 1,8 mil.” Segundo ele, nesse ritmo o espaço no Dona Clara estará saturado em dois anosEle admite que a manobra encontrada pela regional pode resultar em entulho nas ruas, pois “muitos têm preguiça de levar os resíduos às estações”

Exemplos dessa “má vontade” não faltamNa cidade há 600 bota-foras em lotes vagos, ruas de vilas e bairros afastados, assim como nas margens do Anel Rodoviário e das rodovias que desembocam na capitalA multa para quem for flagrado jogando entulho em espaço público varia de R$ 126 a R$ 4,1 milA SLU não informa o quanto já foi arrecadado com autuações“A fiscalização é por conta de cada regional, mas admitimos que não se consegue pegar todos os infratores, porque a irregularidade ocorre à noite e em lugares isoladosNossa esperança está na criação da Secretaria Municipal Adjunta de Fiscalização, que vai centralizar as vistorias, melhorar o trabalho e dar nova direção a esse cerco”, aposta Rogério.