Jornal Estado de Minas

BH sem lei

Ressaca da baderna na Praça do Papa incomoda moradores da região

Flávia Ayer
Lixo espalhado, garrafas de bebida jogadas nos jardins, além de casais tresnoitados no gramado, eram indícios de uma madrugada quente. O cenário foi visto por quem chegou bem cedo domingo à Praça do Papa, no Bairro Mangabeiras, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte, para curtir um dos principais cartões-postais da cidade. O ambiente incômodo, criticado por aqueles que se propuseram a aproveitar a manhã na área verde, é o rastro da ação de baderneiros. Também na madrugada deste domingo, eles transformaram a praça num baile funk a céu aberto. A situação lamentável foi escancarada por reportagem publicada no domingo no Estado de Minas, que acendeu a esperança de moradores de que providências sejam tomadas para pôr fim à balbúrdia.
Há 30 anos morador de um dos metros quadrados mais caros da cidade, o comerciante Oswaldo Ribeiro, de 82 anos, espera agora uma ação por parte do poder público. “A expectativa é de que alguém escute o nosso grito. O ambiente da praça à noite é pesado demais. Tem mulher de peito de fora, casais fazendo sexo dentro do carro”, conta Ribeiro, relatando que o incômodo é tanto que o som dos carros parece estar debaixo do travesseiro, opinião compartilhada por outro morador do bairro, o médico dermatologista Francisco Maia, de 69.

Sem alternativa, moradores das proximidades se viram para suportar a situação. Já quem não é vizinho da Praça do Papa, evita frequentar o local em certos horários. “Sempre gostei de vir aqui, por causa da vista. Era um clima de lual, violão. Ontem, passei na praça à noite e vi uma farra com música eletrônica. Os caras estavam dançando break, eles também arrastam o pedal das motos no asfalto. Me deu uma sensação muito ruim e preferi não ficar”, afirma o estudante João Pedro Nemer, de 21, que passeava com o cachorro Faruk na área verde pela manhã.

Apesar de a Praça do Papa ser uma das opções de lazer preferidas do casal Nilton e Mariella Novaes, de 37 e 33 anos, e da filha deles, Camila, de 5, a família passou a ter um cuidado especial quando vai ao local, depois de se deparar com cenas desagradáveis. “Já chegamos aqui muito cedo e encontramos pessoas aparentemente drogadas”, comenta Mariella. “Depois disso, começamos a chegar um pouco mais tarde à praça, quando há mais crianças”, acrescenta Nilton.

Pós-festa

Prestes a fazer uma sessão de fotos na área verde, a fotógrafa Juliana de Moura Ribeiro, de 34, se espantou com a quantidade de lixo espalhada pelo cartão-postal. “Quando cheguei aqui, achei a praça muito suja. Fiquei bem assustada, pois parece que teve um evento e ainda não foi limpo. Essa sujeira afasta quem quer aproveitar a praça”, afirma. Numa vistoria ao ponto turístico ontem, o EM constatou plástico, papel e latas no chão. Em uma das lixeiras, lotadas de garrafas de vodca e vinho, era possível encontrar uma embalagem de papéis de seda, usados para fazer cigarros de maconha.

“Vemos que a praça está bem cuidada, mas há um descaso por parte dos frequentadores”, afirma o estudante Ramon Silva Queiroz, de 21, que, na manhã de ontem, foi passear na praça com a namorada Maria Júlia Graciano Alcântara, de 19. “O cenário aqui parece com um pós-evento”, afirma. A situação é confirmada até pela Polícia Militar. O cabo Milson Antônio da Silva, da 127ª Companhia do 22º Batalhão da PM fazia ontem o policiamento da área e conta que, normalmente, às 7h, quando chega à área verde, vê muitas pessoas embriagadas. “Mas, nessa hora, quem tem que usar droga já usou. Não podemos tirar as pessoas da praça”, diz.