Jornal Estado de Minas

Aglomerado da Serra

Moradores dizem que policiais corruptos aceitam até eletrodoméstico como propina

Pedro Rocha Franco

População exibe faixas com fortes denúncias contra autoridades de segurança - Foto: Jackson Romanelli/EM/D.A Press

Pouco a pouco, moradores se sentem amparados – seja pela própria polícia, pela imprensa ou por outros órgãos – e denunciam a participação ativa de militares num esquema de corrupção ativa no Aglomerado da Serra, o maior da capital mineira, que abriga mais de 50 mil pessoas. Depois de denúncias anônimas, foi confirmada extraoficialmente a investigação que apura a participação de dois militares na formação de um grupo de milicianos no conjunto de favelas de Belo Horizonte, que reúne as vilas Nossa Senhora de Fátima, Nossa Senhora da Aparecida, Nossa Senhora da Conceição, Marçola, Santana do Cafezal e Novo São Lucas.

Veja as fotos do aglomerado nesta terça-feira

São eles o sargento Tiago Santiago, o Pica-Pau, do Tático Móvel do 22º Batalhão, e um outro policial chamado pelo apelido “Cabeça de Repolho”. Esse último, bastante conhecido nas vilas, é acusado por moradores de ser o mais truculento dos PMs que atuam na área e apontado como chefe de uma boca de fumo no Alto Vera Cruz.

Segundo o líder comunitário Paulo (nome fictício), que detalhou ao Estado de Minas o esquema de milícia, “uma vez por semana, Cabeça de Repolho e outros militares iam ao aglomerado cobrar propina de traficantes”, mas, “quando não recebiam em dinheiro vivo, aceitavam em troca eletrodomésticos e outros objetos de valor”. Mas o esquema dele não se limitava à cobrança de ‘favores’ na favela. “Ele mantém uma boca no Vera Cruz e parte da droga que apreendia na Serra revendia lá”, denuncia. Na seugnda-feira, informantes da polícia que preferem ter os nomes preservados confirmaram que a ficha dos dois está sendo analisada, mas antecipam que as denúncias têm fundamento.

“Os PMs cruzavam o aglomerado gritando: ‘Cadê nosso negócio? Cadê o dinheiro?’ Isso toda a população podia ver a olho nu”, reforça Paulo. O denunciante diz que “oito homicídios é pouco para Repolho”. Segundo testemunhas, o militar esteve pouco depois da suposta execução no local do crime e orientou como deveria ser a atuação dos PMs para tentar encobrir a atuação.

Também sem o menor constrangimento, segundo Paulo, o consumo de drogas entre militares seria frequente. “Eles cheiram cocaína no olho de todo mundo. Não é um só, é a maior parte deles”, afirma o líder comunitário, que, por medo de retaliação a familiares, prefere não procurar a Corregedoria da Polícia Militar e outros órgãos que possam ajudar nas investigações.