Jornal Estado de Minas

BH

Viaduto Santa Tereza ganha colorido com grafiteiros

Os oficineiros Leandro e Giovani, do programa Fica Vivo! de Betim, fazem suas intervenções nas paredes de BH - Foto: Jackson Romanelli/EM/D.A Press "Estou pintando a cidade que existe dentro da cidade, mas que ninguém quer ver. Estou pintando a favela." Assim, de forma curta e direta, o oficineiro do Programa Fica Vivo! Fabiano Valentino, o Pelé, de 34 anos, resumiu o trabalho que ele e mais três oficineiros fizeram na sexta-feira à tarde debaixo do Viaduto Santa Tereza, no Centro de Belo Horizonte.

Os quatro foram convidados a grafitar quatro telas, explorando o tema "cidade", com o objetivo de despertar o interesse da população para a exposição de grafite dos participantes do Fica Vivo!, a partir de quinta-feira no foyer do Palácio das Artes. Até dia 13, 130 trabalhos feitos por jovens de 19 núcleos do programa em Belo Horizonte e na região metropolitana serão expostos ao público. Os quatro trabalhos feitos na sexta vão integrar a exposição.

Trabalhando há três anos como oficineiro do Núcleo de Prevenção à Criminalidade do Santa Lúcia, Pelé descobriu o grafite há pouco tempo e está encantado com as possibilidades dessa manifestação artística. "Antes, meu interesse maior era o desenho, mas percebi que o grafite tem um efeito mais vivo e, além disso, permite uma intervenção mais direta no cotidiano das pessoas", sintetizou o oficineiro.

Enquanto Pelé buscava expressar um conteúdo mais social em sua obra, Valdi, de 27, oficineiro do Núcleo da Cabana do Pai Tomáz, procurou sintetizar a paixão pelo grafite pintando uma cidade onde os edifícios residenciais e comerciais têm o formato de latas de tinta em spray, a matéria prima dos grafiteiros. Tudo muito colorido e alegre, de acordo com a visão do artista sobre o grafite e as comunidades onde trabalha. Vadi é oficineiro há seis anos e, além do Fica Vivo!, trabalha em escolas.

Além de Pelé e Valdi, os oficineiros Leandro e Giovani, dos núcleos do Fica Vivo! do Barreiro e do Bairro PTB, em Betim, participaram da interferência de ontem no Centro de BH. Cerca de 160 jovens atendidos pelo programa acompanharam e auxiliaram os artistas a fazer o trabalho. Música alegre, sob o comando de um DJ, completou o clima de animação e integração entre os participantes do projeto e as pessoas que passam diariamente pela região.

Potencial

Criado em 2003, o Programa Fica Vivo! atende hoje cerca de 15 jovens entre 12 e 24 anos em todo o estado, com núcleos implantados em 29 localidades de Belo Horizonte e de mais 12 municípios, segundo informou Fabiana Leite, superintendente de prevenção à criminalidade da Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds).

Acompanhando a ação de ontem, Fabiana disse que uma das preocupações do Fica Vivo! é justamente usar a arte e a cultura como instrumento de inclusão dos integrantes do programa, todos moradores de áreas de risco social. “Essa grafitagem, bem como a exposição no Palácio das Artes, serve para mostrar à população o potencial artístico dos jovens que moram nos aglomerados. É uma ferramenta importante de combate à violência, pois dados da Polícia Militar mostram que os números de homicídios nas áreas do Fica Vivo! tiveram uma queda média de 40%, mas vai além. Também funciona como incentivo à integração entre esses jovens e a população das cidades onde vivem.”