Dia de festa para Congonhas, na Região Central de Minas, a 89 quilômetros de Belo Horizonte. Como parte das comemorações dos 70 anos de sua emancipação política, o município recebe, nesta quarta-feira, totalmente restaurados, dois painéis pertencentes à capela-mor da Igreja de Nossa Senhora da Ajuda, no distrito de Alto Maranhão. Para que moradores e visitantes apreciem o trabalho, feito pela equipe do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha-MG), as obras vão ficar expostas no Museu de Arte Sacra da Romaria, no Centro Histórico. Assim que todo o restauro estiver concluído, em meados de 2009, o conjunto, de 25 peças, vai retornar ao forro do templo construído no século 18 e tombado pelo Iepha há 30 anos.
Os painéis em madeira, medindo, cada um, 103 x 84cm, estavam cobertos por grossas camadas de tinta, que escondiam pinturas representando as ladainhas de Nossa Senhora. Segundo a equipe da Gerência de Elementos Artísticos, o material, ao chegar ao ateliê, em Belo Horizonte, apresentava péssimo estado de conservação, com danos na policromia e nos suportes, ataque de cupim e infiltração. Outros dois painéis, já restaurados, servirão de referência para que especialista de uma empresa contratada pelo instituto possam concluir todo o conjunto. O custo total da recuperação do forro (R$ 110 mil) provém de verba estadual. O trabalho de restauração dos 21 painéis restantes começou em outubro e tem duração prevista de oito meses.
“É um patrimônio importante de Congonhas, já que a igreja é datada de 1746, uma das mais antigas da região. Os painéis ficaram guardados, na sacristia da igreja, de maneira inadequada, por mais de 15 anos”, lembra o integrante do Conselho do Patrimônio local, Maurício Geraldo Vieira. Para receber o forro, a Igreja de Nossa Senhora da Ajuda passa por um processo de descupinização e de recuperação estrutural, sob comando da Prefeitura de Congonhas, via Fundação Municipal de Cultura, com consultoria e supervisão da Gerência de Ação Preventiva do Iepha.
Símbolos
Em março do ano passado, o Estado de Minas mostrou o início do restauro e um enigma que cercava os painéis, já que símbolos da ladainha – lírio, torre de Davi etc. – convivem, lado a lado, com motivos bem diferentes, como caravelas. A gerente de Elementos Artísticos do Iepha, Vânia Parreira, explica que, na época da construção da Igreja de Nossa Senhora da Ajuda, nenhum clérigo podia sair de Portugal sem consentimento do rei e de um juramento de fidelidade. “Esse compromisso se refletia na construção dos monumentos religiosos, os quais conciliavam símbolos ligados à Igreja e à Coroa, o sagrado e o profano, o temporal e o atemporal”, disse. As caravelas, portanto, remetem às viagens e descobrimentos dos portugueses no século 16. A entrega dos painéis será feita na Romaria, às 18h, pelo diretor de Conservação e Restauração do Iepha, Renato César de Souza.