Jornal Estado de Minas

Faltam bombeiros em Minas

Número de profissionais de plantão no pelotão de Itabira, na Região Central, é menor que o de veículos - Foto: Jackson Romanelli/EM/D.A Press
Quase seis milhões de mineiros estão sem proteção imediata do Corpo de Bombeiros. Responsáveis pela prevenção e combate a incêndios, buscas, salvamento e resgate de vítimas, os militares estão em apenas 46 das 853 cidades de Minas e não há perspectiva de atingir os 109 municípios com mais de 30 mil habitantes, meta do plano estratégico da corporação. Faltam unidades em cidades com mais de 100 mil pessoas, como Santa Luzia, Ibirité e Conselheiro Lafaiete. Pelo menos 15 unidades criadas nos últimos anos não saíram do papel. Além da carência de estrutura, a instituição tem dificuldades para alcançar o efetivo previsto na legislação: hoje, há 4.679 militares na ativa. Pelo menos 3,3 mil precisam ser contratados para chegar aos 7,9 mil profissionais estabelecidos na Lei Estadual 16.307/06.
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O ingresso de pessoas que sonham em virar heróis esbarra no rigor das provas e no despreparo da maioria dos candidatos. No último concurso, 24 mil pessoas se inscreveram e só 500 foram selecionadas para o curso de preparação. Apenas 343 conseguiram se formar. O comandante-geral do Corpo de Bombeiros, coronel Gilvam Almeida Sá, reconhece em ofício endereçado aos comandados que a falta de profissionais é o maior problema da corporaçao. Mas festeja a aprovação pelo governo do estado de concurso no ano que vem para 657 soldados e outro em 2010 para mais 500. A última formação para soldados ocorreu há três anos.

“A idéia é recuperar o efetivo, que diminui com aposentadorias. Já tivemos mais de 5 mil militares, número que já era distante do ideal”, afirma o tenente Thiago Miranda, chefe do setor de comunicação e porta-voz da instituição. Ele considerou atípico o resultado do último curso, que reprovou 31,4% dos candidatos. Muitos alunos não passaram nos exames de saúde e psicotécnico.

A falta de bombeiros gera situações curiosas. Para atender 13 municípios, o pelotão de Itabira, na Região Central, precisaria de 21 subtenentes ou sargentos, mas tem apenas quatro. O número de cabos e soldados previsto para o pelotão era de 34, mas há só 23. São em média sete militares em cada um dos três turnos. O número é menor que o de veículos: um caminhão autobomba, duas caminhonetes, dois carros, uma unidade de resgate, dois barcos e um jet ski.

“Estamos atendendo todas as ocorrências porque o pessoal tem boa vontade”, afirma o comandante do pelotão, tenente Márcio Toledo, que diz ser fundamental o apoio do Samu, instalado recentemente. Hoje, a unidade tem pouco mais da metade do total de militares previstos na sua inauguração. A mesma proporção se repete em Nova Serrana e Divinópolis, no Oeste de Minas, Frutal e Uberaba, no Triângulo.

A falta de profissionais põe em risco o que os militares chamam de “triângulo da eficiência”: a presença de equipamentos, técnicas e homens. Até a última quinta-feira comandante operacional dos bombeiros em Minas e atualmente responsável por função administrativa no setor de recursos humanos, o coronel Cláudio Vinícius Teixeira destaca a importância de haver equilíbrio para que o trabalho da corporação seja eficiente e por isso critica a falta de homens. Em entrevista no início da semana, lembrou que o preço para resolver o problema não é baixo: será preciso dobrar a folha de pagamento dos bombeiros, que, segundo ele, atualmente consome entre R$ 150 milhões e R$ 200 milhões do estado. “Em qualquer lugar do mundo, segurança é caro. Para suportar as situações a que é submetido, o profissional precisa de um salário digno”, destacou Teixeira.