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Estado de Minas

Pinturas do século 18 achadas em casarão no interior de Minas

Em estilo rococó, afrescos são encontrados no imóvel onde viveu o ex-presidente Affonso Penna, em Santa Bárbara


18/11/2008 10:03 - atualizado 08/01/2010 04:02

Restauração do painel, localizado no forro da sala principal, foi concluída semana passada
Restauração do painel, localizado no forro da sala principal, foi concluída semana passada (foto: Carlos Magno de Araújo/Divulgação)

As comemorações do centenário de morte do ex-presidente da República Affonso Penna (1847-1909), o primeiro mineiro a ocupar o cargo, eleito por voto direto, vão ter um cenário à altura de sua importância na história do Brasil. Durante todo o próximo ano – o ponto alto será em 14 de junho –, moradores e visitantes poderão acompanhar uma programação especial e, ver, de perto, as pinturas recém-encontradas no casarão onde nasceu e morou o advogado e político, no Centro de Santa Bárbara, na Região Central de Minas, a 105 quilômetros de Belo Horizonte. O núcleo histórico é tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha/MG).

Na fase final de obras do casarão, que vai abrigar o memorial de Affonso Penna, a equipe de restauradores encontrou, na sala principal, sob cinco camadas de tinta, painéis do fim do século 18, medindo, no total, cerca de 35 metros quadrados. “As pinturas estavam encobertas havia mais de 100 anos, ninguém nunca viu essa beleza. São obras de grande qualidade”, afirmou Carlos Magno de Araújo, da empresa Anima Conservação e Restauração, que concluiu o serviço na semana passada. Em agosto de 2007, o Estado de Minas mostrou o início das obras e o projeto da prefeitura local para criar o memorial, onde vão ficar documentos, livros, fotografias, objetos de uso pessoal e muitas homenagens ao filho da terra.

O que mais chamou a atenção no forro, de acordo com o restaurador, foram as cenas profanas pintadas, em estilo rococó, sobre a madeira. “Geralmente, nas pinturas do século 18, os motivos eram sempre religiosos, apresentando figuras de santos e outros. Desta vez, encontramos referências aos quatro continentes – África, Europa, Ásia e América, já que, na época, ainda não se conhecia a Oceania – e elementos típicos”, disse o restaurador.

Da África, se destacam animais como o leão e o elefante; da Ásia, incenso e ervas; da Europa, imagens que representam as conquistas da ciência e o domínio do mundo, ilustrado por instrumentos científicos e bandeiras; e da América, o ambiente tropical, com animais silvestres (arara vermelha e o macaco, além de coqueiros, flores e frutas). Outra característica do painel é a presença da figura feminina, musa dos continentes, sempre próxima a um animal típico da localidade representada. Para o restaurador, o painel, de autor desconhecido, “representa uma das cinco artes profanas sobreviventes no cenário mineiro”. O trabalho demorou seis meses para ser concluído e implicou o desmonte parcial do forro para tratamento de descupinização e substituição de partes estruturais, atacadas por insetos e pela umidade.

O prefeito de Santa Bárbara, Antônio Eduardo Martins, o Toninho Timbira (PTB), disse que as pinturas descobertas valorizam ainda mais o casarão de Affonso Penna, cujo restauro custa R$ 1,3 milhão, sendo R$ 1 milhão do Ministério do Turismo e o restante da municipalidade. Com o trabalho já no fim, o próximo passo, segundo ele, será mobiliar o imóvel. A inauguração será em 2009, mas a data ainda não foi marcada.

Geração ilustre


Conselheiro e ministro do Império antes de se tornar presidente da República, Affonso Augusto Moreira Penna nasceu em 30 de novembro de 1847 em Santa Bárbara do Mato Dentro, hoje Santa Bárbara. Era filho do português Domingos José Teixeira da Penna e da brasileira Ana Moreira Penna. Jovem, estudou no Colégio do Caraça e, adulto, na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, no Largo de São Francisco (SP), diplomando-se na turma de 1870. Entre os colegas, estavam Ruy Barbosa, Rodrigues Alves, Joaquim Nabuco e Bias Fortes.

Estudante de direito, Affonso Penna redigiu artigos sobre matérias jurídicas na revista Imprensa Acadêmica. Era abolicionista desde menino e, segundo seus biógrafos, discutia com o capataz da mineração de ouro do pai, pedindo-lhe melhor tratamento para os escravos. Obteve, então, permissão paterna para determinar ao capataz que as escravas, depois do sexto mês de gravidez, fizessem apenas trabalhos leves, como lavar e cozinhar. Jovem, se correspondia com Castro Alves, colega que não terminou o curso de direito, sempre com foco na abolição da escravatura. Mais tarde, quando ministro do Império, assinou a Lei dos Sexagenários.

Casou-se com Maria Gulhermina de Oliveira Penna, residente em Barbacena (MG), filha do Visconde de Carandaí e descendente do Marquês de Maricá. Tiveram nove filhos. Foi o fundador, em 1892, da Faculdade Livre de Ciências Jurídicas e Sociais, em Ouro Preto, da qual foi diretor e professor de economia política e ciência das finanças. Affonso Penna foi o responsável pela compra do terreno na Praça Affonso Arinos, em BH, doando-o para a construção da atual Faculdade de Direito da UFMG, que é denominada "a vetusta casa de Affonso Penna". Entre outros, exerceu os cargos de conselheiro e ministro de três pastas do Império, deputado estadual por Minas, senador, presidente do Banco da República (atual Banco do Brasil), presidente do estado de Minas Gerais, vice-presidente e presidente da República, em eleição direta.


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