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Estado de Minas

Iphan quer transformar Estrada Real em patrimônio da humanidade


17/11/2008 06:51 - atualizado 08/01/2010 04:02

Sinalização informa as principais cidades e pontos turísticos dos 1.632 quilômetros ligando Diamantina e Ouro Preto ao Rio de Janeiro e Paraty
Sinalização informa as principais cidades e pontos turísticos dos 1.632 quilômetros ligando Diamantina e Ouro Preto ao Rio de Janeiro e Paraty (foto: Eulher Júnior/EM/D. A. Press)

Do Brasil para o mundo, com escalas na história, gastronomia, arquitetura, festas populares e belezas naturais. A Estrada Real (ER) caminha a passos largos para se tornar patrimônio da humanidade sob a chancela da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco). A iniciativa de pedir o título na categoria Itinerário cultural partiu do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), que terá um grupo de trabalho para fazer estudos e o dossiê sobre a rota que ligava, desde o século 17, Diamantina e Ouro Preto ao Rio de Janeiro e Paraty (RJ), para escoamento de ouro e diamantes em direção a Portugal. A intenção do Iphan, diz o superintendente regional em Minas, Leonardo Barreto de Oliveira, é apresentar toda a documentação dentro de um ano.

Confiante no potencial da ER para ganhar reconhecimento internacional, Leonardo tem em mãos um primeiro levantamento sobre o trajeto de 1.632 quilômetros, que passa por 198 municípios de três estados, sendo 168 em Minas Gerais, 22 em São Paulo e 8 no Rio de Janeiro. Nesse roteiro, há 50 quilômetros de trechos calçados de pedras, remanescentes do período colonial, além de cidades e monumentos reconhecidos pela Unesco, como Ouro Preto, Diamantina e o Santuário de Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas, e outros tombados pelo Iphan. Se obtiver o título, a ER estará no patamar de outros tesouros da Terra, entre eles o Caminho de Santiago de Compostela, na Espanha, e a Rota do Incenso e das Especiarias, no Oriente Médio.

Há alguns fatores que poderão favorecer o sucesso da empreitada, entre eles a maior visibilidade internacional conquistada pelo Iphan. Desde o ano passado, o Brasil ocupa uma cadeira no Comitê do Patrimônio Mundial da Unesco, órgão que delibera sobre o reconhecimento dos bens, fazendo com que o país atue como um dos porta-vozes da América Latina. Outro ponto positivo está na criação do Centro de Formação e Lista Indicativa, no Rio de Janeiro, descentralizando as ações, que eram sempre avaliadas em Paris, França. Assim, explica Leonardo, o escritório do Rio, instalado no Palácio Gustavo Capanema, cuida dos assuntos da América Latina e África, enquanto o de Hong Kong, na China, fica com os da Ásia, e o de Bahrein com as questões relacionadas ao Oriente Médio.

Mapas antigos

Nos dois últimos anos, uma equipe multidisciplinar, formada por historiadores, geógrafos e outros profissionais, sob o comando do jornalista Américo Antunes, fez uma pesquisa profunda sobre a ER, que foi entregue ao Instituto Estrada Real/Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (IER/Fiemg) e ao Iphan. Nos mapas de divulgação, a estrada tem o desenho de um Y invertido e se compõe de três trechos e uma variante: no eixo principal estão os caminhos Velho (liga Paraty a Ouro Preto), Novo (Rio de Janeiro a Ouro Preto) e dos Diamantes (de Ouro Preto a Diamantina), e a variante de Sabarabuçu (do distrito de Glaura, em Ouro Preto, a Barão de Cocais). “O nosso objetivo foi identificar os elementos que caracterizam a rota cultural da estrada e seu patrimônio natural. Para tanto, nos fixamos nos mapas feitos pelo engenheiro português José Joaquim da Rocha, que veio para o Brasil em 1760 e morou em Ouro Preto. No século 18, os mapas da região das minas eram guardados a sete chaves e proibidos, pela corte portuguesa, de serem consultados”, explica Antunes.

Na comparação entre antigos mapas – “para analisar, cartograficamente, como era a ER” – e a base geográfica atual, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a equipe viu poucas diferenças, com variações médias em torno de 500 metros. O traçado que se vê, agora, portanto, é autêntico, guardando trechos de pedras no distrito de Serra do Cipó (ex-Cardeal Mota), em Santana do Riacho, a 100 quilômetros de Belo Horizonte; no Caminho dos Escravos, em Diamantina, antigo acesso para as minas de Mendanha; na comunidade de Vau, entre Diamantina e Serro, no Vale do Jequitinhonha; e no Caminho do Ouro, em Paraty, na Serra da Bocaina. A trilha de pedras da Serra do Cipó causa impacto por manter intacto o sistema construtivo, com drenos e canaletas. Além de tudo, na parte mais alta tem-se uma visão estonteante da paisagem, com a vegetação do parque nacional e dos rios cristalinos.

“Os 50 quilômetros, não lineares, de trechos calçados da ER resistiram exatamente por estar na subida de morros ou no alto das serras. Do contrário, a expansão agropecuária já teria acabado com eles”, analisa Antunes, lembrando que os trechos foram pavimentados para que fosse possível fazer a travessia, com as tropas de burros, nos períodos chuvosos. Na pesquisa, a equipe destacou ainda as pontes de pedra de cantaria do Caminho Novo, entre Ouro Preto e Ouro Branco, por onde transitaram Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho (1730-1814), Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes (1746-1792) e os imperadores Pedro I (1798-1834) e Pedro II (1825-1891); os sítios tombados; e as unidades de conservação ambiental sob proteção. Cada monumento é acompanhado de uma ficha específica com as suas características.

O diretor geral do IER/Fiemg, Baques Wladimir Carvalho Sanna, aguarda com “expectativa e muito trabalho” a futura indicação, certo de que as chances são boas: “Já temos o pré-dossiê e vamos fazer mais ainda para enriquecê-lo com informações atualizadas e dados históricos, a fim de pavimentar esse caminho da ER até a Unesco”. Criado há nove anos, o programa turístico Estrada Real tem gestão compartilhada entre o IER/Fiemg e o governo estadual, via Secretaria de Turismo.


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