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Estado de Minas

Estudo mostra disseminação da Aids entre pacientes mentais


postado em 12/11/2008 07:26 / atualizado em 08/01/2010 04:04

Estigmatizados, segregados e vítimas de preconceito, os portadores de transtornos mentais também foram esquecidos pelas políticas de prevenção da Aids. Uma pesquisa inédita do Ministério da Saúde realizada com 2.238 pacientes em 11 hospitais psiquiátricos e 15 Centros de Apoio Psicossocial (CAPs) revelou que 0,8% deles são portadores do vírus HIV. Entre a população em geral, o índice é de 0,61%.

De acordo com o coordenador do estudo, Mark Drew Guimarães, da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), isso não significa que a incidência seja maior entre os doentes mentais, já que a diferença percentual é pequena. Mas ele diz que os dados revelam a necessidade de estratégias na área de prevenção para os pacientes que, diferentemente do que se possa imaginar, têm uma vida sexual ativa. Oitenta e oito por cento dos entrevistados relataram ter tido uma relação sexual na vida, sendo que 61,3% passaram pela experiência nos últimos seis meses.

Leia mais: Faltam informação e camisinho a portadores de distúrbios

O coordenador de Saúde Mental do ministério, Pedro Delgado, afirma que os resultados não deixam de ser positivos. "Mostram que o fato de estarem em tratamento não os impede de ter vida normal no exercício de sua sexualidade. Isso reduz os estigmas", diz. "Por outro lado, eles estão numa situação na qual necessitam se proteger." E não é o que vem ocorrendo. Apenas 7% dos entrevistados que já tiveram relações sexuais afirmaram ter usado camisinha em todas as ocasiões. No restante da população brasileira, o percentual é bem mais alto: 33%.

A bibliotecária S.S.G., de 45 anos, é loura, altiva, casada há 10 anos, tem vida sexual estável, mas não responde por seus atos quando passa por crises provocadas pelo transtorno bipolar. “Você faz loucuras porque não tem noção de nada, age compulsivamente e a depressão só vem depois da coisa já feita.” No entanto, ela diz que seu impulso no momento de crise é voltado para compras. “Você precisa daquilo e pronto. Na minha última crise, por exemplo, gastei R$ 13 mil em cinco dias para trocar móveis da minha casa, sem a menor necessidade. Mas tenho certeza de que a pessoa com sentido sexual aflorado não mede conseqüências na hora do ato”, diz.

Segundo ela, sua libido é muito aguçada, mas os medicamentos que ingere para controlar a doença reduzem o apetite sexual. “Tomo um estabilizador de humor que evita convulsões e um antidepressivo que diminui o interesse sexual”, acrescenta. Antes de ser diagnosticada bipolar, S. pesquisou por dois anos o que provocava seus picos de humor e de convulsões. “Não tenho vergonha de falar que sou bipolar porque levo uma vida normal, mas existe uma grande falta de informação sobre a doença que pode interferir, sim, na questão sexual.”

Conhecimento

Os pacientes pesquisados no Brasil demonstraram conhecer os riscos do sexo desprotegido. "A percepção do risco existe. O fato de alguém ser psicótico não quer dizer que não sabe se proteger", diz Pedro Delgado. Para a equipe do Ministério da Saúde, o problema está na falta de programas de educação sexual, como palestras, oficinas e cursos, integrados ao tratamento psíquico. Somente 26,9% das unidades que participaram do estudo realizavam tais programas. "O que falta é a saúde pública reforçar as iniciativas de promoção do sexo seguro", reforça Delgado.

“A pobreza, a exclusão social e a vulnerabilidade dessa população a agravos diversos de saúde, além do sofrimento mental, entre os quais as doenças infecciosas e as sexualmente transmissíveis, impõem que se repensem as atuais estratégias setorializadas, focalizadas exclusivamente nas ações em prevenção e atenção em saúde mental, estendendo-as para uma visão mais ampla de saúde coletiva. Em outras palavras, isso significa compreender a reforma psiquiátrica na perspectiva da reforma sanitária brasileira”, alertam os pesquisadores que redigiram o estudo. De acordo com Pedro Delgado, a parceria entre as áreas de Saúde Mental e de DST/Aids para promover o acesso à educação sexual aos pacientes psiquiátricos começará ano que vem.


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