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Estado de Minas

Menos renda, mais conservadorismo


postado em 02/11/2008 08:49 / atualizado em 08/01/2010 04:06

“O verdadeiro papel de uma mãe é se dedicar à casa, aos pequenos e ao marido. Sempre. O trabalho distancia essa relação.” As palavras são da manicure Renata Nonato, de 22 anos, mãe de três crianças, uma menina de 6 meses, outra de 2 anos e um menino de 4, e moradora da Barragem Santa Lúcia. Como atende as clientes em casa, ela conta que consegue dar mais atenção aos meninos. Morando com o companheiro, ela afirma que a voz da casa é a dele, o que acredita ser essencial para manter a harmonia na família. “A mulher fica muito sobrecarregada, é preciso que o homem seja o chefe, tome decisões e tenha pulso firme para manter a organização e a ordem”, diz. E aconselha: “O melhor é aceitar, para não criar confusão”.

Mas a recomendação está muito longe de ser um consenso entre jovens da mesma faixa etária. Só de pensar que um namorado a proíba de fazer alguma coisa, a universitária Silvia Pereira Guimarães, de 19 anos, sente arrepios. Moradora do Bairro Luxemburgo, ela acredita que, em uma relação entre homens e mulheres, é preciso que ambos se respeitem e tenham os mesmos direitos. “Por que a mulher tem que parar de trabalhar quando tem filho? Quando eu me casar, quero usar a licença-maternidade e depois voltar ao trabalho”, afirma. Ela justifica dizendo que na relação dos pais, hoje separados, ela sempre viu uma amizade muito grande. “Não tinha essa de quem mandava na casa, os dois tinham os mesmos poderes”, afirma.

 Essa diferente visão de papéis foi analisada pela pesquisa da PUC Minas, que apontou que as jovens de baixa renda da Região Centro-Sul tendem a ser mais conservadoras que as moradoras de bairros. No questionário, no que diz respeito ao lugar da mulher e do homem na relação com trabalho e renda, 50% das adolescentes e jovens da favela concordaram que o homem deve ser o principal responsável pelas despesas da casa, contra apenas 5% da classe média.

Os valores entre as duas realidades são diversos. As meninas de menor poder aquisitivo concordam, de acordo com o estudo, que o homem sabe lidar melhor com o dinheiro (27,5% contra 4,8%). Dessas, 15% concordam que a mulher só deve trabalhar fora se o companheiro deixar. Na classe média, as jovens que concordam com a afirmativa representam apenas 0,7%. Na mesma linha, 45,4% das jovens da favela justificam que o trabalho em tempo integral prejudica a vida familiar, contra 19,1% das jovens de bairro.

“As meninas do morro acreditam que uma mãe, ao trabalhar fora, não consegue estabelecer uma relação tão carinhosa e dedicada com seus filhos”, conta a pesquisadora Mônica Maia, ao revelar que 49,3% das entrevistas que moram no morro concordam com a afirmativa, contra 11,9% das demais ouvidas. “É uma questão de valores relacionados às oportunidades que elas têm”, avalia.

Para a professora do Departamento de Ciências Sociais Lúcia Lamounier, os valores podem ser a grande explicação desse abismo entre as duas realidades. “Muitas meninas da favela engravidam cedo porque ficar grávida significa estar relacionada com alguém. E esse companheiro, quanto mais visibilidade tem no morro, melhor é esperar um filho dele. Um homem que esteja envolvido com o tráfico, tem uma arma, talvez uma moto, é respeitado na região. Ou seja, ele não é um qualquer, nessa situação os filhos não são problemas”, analisa. E acrescenta: “Independentemente da classe social, elas tendem a repetir o destino das mães”.


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