Essa diferente visão de papéis foi analisada pela pesquisa da PUC Minas, que apontou que as jovens de baixa renda da Região Centro-Sul tendem a ser mais conservadoras que as moradoras de bairros. No questionário, no que diz respeito ao lugar da mulher e do homem na relação com trabalho e renda, 50% das adolescentes e jovens da favela concordaram que o homem deve ser o principal responsável pelas despesas da casa, contra apenas 5% da classe média.
Os valores entre as duas realidades são diversos. As meninas de menor poder aquisitivo concordam, de acordo com o estudo, que o homem sabe lidar melhor com o dinheiro (27,5% contra 4,8%). Dessas, 15% concordam que a mulher só deve trabalhar fora se o companheiro deixar. Na classe média, as jovens que concordam com a afirmativa representam apenas 0,7%. Na mesma linha, 45,4% das jovens da favela justificam que o trabalho em tempo integral prejudica a vida familiar, contra 19,1% das jovens de bairro.
“As meninas do morro acreditam que uma mãe, ao trabalhar fora, não consegue estabelecer uma relação tão carinhosa e dedicada com seus filhos”, conta a pesquisadora Mônica Maia, ao revelar que 49,3% das entrevistas que moram no morro concordam com a afirmativa, contra 11,9% das demais ouvidas. “É uma questão de valores relacionados às oportunidades que elas têm”, avalia.
Para a professora do Departamento de Ciências Sociais Lúcia Lamounier, os valores podem ser a grande explicação desse abismo entre as duas realidades. “Muitas meninas da favela engravidam cedo porque ficar grávida significa estar relacionada com alguém. E esse companheiro, quanto mais visibilidade tem no morro, melhor é esperar um filho dele. Um homem que esteja envolvido com o tráfico, tem uma arma, talvez uma moto, é respeitado na região. Ou seja, ele não é um qualquer, nessa situação os filhos não são problemas”, analisa. E acrescenta: “Independentemente da classe social, elas tendem a repetir o destino das mães”.