Jornal Estado de Minas

Cerca com arame farpado vira polêmica no Anel Rodoviário

Barreira precária não impede que pedestres, que estão entre as principais vítimas, se arrisquem transpondo as pistas fora das passarelas - Foto: Euller Júnior/EM/D.A Press
O Departamento de Infra-Estrutura de Transportes (Dnit) adotou uma estratégia polêmica na tentativa de reduzir as trágicas estatísticas no Anel Rodoviário de Belo Horizonte, onde, neste ano, houve 2.070 acidentes e 22 mortes, sendo 10 de pedestres e seis de motociclista. Uma cerca com arame farpado foi instalada em trechos entre o viaduto sobre a Avenida Dom Pedro II e o Shopping Del Rey, na Região Noroeste da capital, para impedir que motoristas mudem de pista passando sobre o canteiro de grama. A manobra é bastante perigosa, pois os condutores que praticam a imprudência reduzem a velocidade, repentinamente, numa via de trânsito rápido. A medida divide opiniões. O Dnit informa que a estratégia é paliativa e que estuda uma forma de substituir a cerca.
Muitos moradores e usuários aplaudiram a iniciativa, pois avaliam que, além de barrar a imprudência de motoristas, a cerca dificulta a travessia de pedestres fora das passarelas. O caminhoneiro Hermilson Verdinho, de 34 anos, que passa pelo local duas vezes na semana, já testemunhou muitos acidentes nos 26,2 quilômetros da via e defende o obstáculo. “A cerca é útil, porque evita a perigosa manobra. Acredito, ainda, que impede a passagem de pedestres”, justifica. Mas muita gente pensa diferente e avalia que a cerca representa grande armadilha.

“O movimento de motos aqui é intenso. Imagine se um motoqueiro sofrer um acidente e for jogado para o canteiro? O arame farpado pode até degolá-lo”, critica Pedro Paulo Vidal, de 30, que mora em Santa Luzia, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, e trabalha numa empresa às margens da via. Ele, porém, se arrisca, todos os dias, numa perigosa travessia das pistas, pois o restaurante que almoça fica do outro lado do Anel. “A passarela mais próxima está bem longe”, justifica.

Radar

Enquanto isso, para reduzir os acidentes, o poder público aposta no radar móvel que entrou em operação na quarta-feira. O aparelho, cedido pelo Departamento de Estradas de Rodagem (DER) à Polícia Militar Rodoviária (PMRv), flagrou, apenas no primeiro dia, mais de uma infração por minuto. Ao todo, foram 811 autuações em 10 horas de fiscalização. Na quinta-feira, apenas no período da manhã, pelo menos mais 189. “Foram mais de mil multas entre segunda e o início da terça-feira”, diz o capitão Agnaldo de Lima Barros, subcomandante da PMRv.

O Estado de Minas percorreu quinta-feira os 26,2 quilômetros da via, construída na década de 1960 para ligar a BR-040 à BR-381, e constatou várias irregularidades, como motoqueiros aproveitando buracos na mureta de concreto que separa os dois sentidos da pista para fazer uma conversão arriscada. A quantidade de pessoas que atravessam a rodovia debaixo de passarelas também espanta. Motoristas que dirigem com excesso de velocidade e caminhões pesados trafegando na faixa da esquerda, o que é proibido, foram outros maus exemplos.

O governo federal e a prefeitura destinaram, em 2006, cerca de R$ 80 milhões para revitalizar o Anel, que recebeu camada de asfalto, passarelas, pintura na sinalização horizontal, placas e outras intervenções importantes. Porém, há brechas na segurança, como as 10 lombadas eletrônicas desativadas há 12 meses. O Dnit havia providenciado a licitação do serviço, mas empresas que perderam o processo ajuizaram ações na Justiça e conseguiram a suspensão do processo.