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Estado de Minas

Penas leves incentivam estalionatários


postado em 27/10/2008 06:38 / atualizado em 08/01/2010 04:08

Zé do Fusca amargou prejuízo de R$ 5 mil em golpe dado por hacker em site de comércio na internet(foto: Cristina Horta/EM/D. A Press)
Zé do Fusca amargou prejuízo de R$ 5 mil em golpe dado por hacker em site de comércio na internet (foto: Cristina Horta/EM/D. A Press)
Quando consultou o saldo no banco, o motorista Sérgio Xavier, de 45 anos, levou um susto: não havia um tostão. Criminosos tiveram acesso à sua senha e limparam a conta. A aposentada Aparecida dos Santos, de 71, também quase zerou o saldo no banco, mas por conta própria: uma mulher a abordou na rua e tentou convencê-la a comprar um bilhete “premiado” da Mega-Sena. O gerente do banco desconfiou e chamou a polícia. Militares prenderam José Wilson Gonçalves, que montou escritório no Centro e se passava por advogado para forjar processos e aplicar golpes em seguradoras. Também foram parar na cadeia Juarez Aquino e Altamiro Pacheco, malandros que usavam permanganato, terebentina e guaiacol para falsificar notas.

Os golpes ocorreram em diferentes momentos das últimas cinco décadas, mas parecem fenômenos de um mesmo tempo. Pelo menos enquanto houver vigaristas armados com uma lábia inconfundível e vítimas descuidadas ou iludidas com a oportunidade de ganhar dinheiro fácil.

Nos dez primeiros meses do ano, a Polícia Militar registrou 5.482 ocorrências de estelionato em Minas Gerais, 20 por dia, segundo a Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds). Apenas em Belo Horizonte foram 518, quase dois por dia. Os números são melhores que os registrados no mesmo período do ano passado, mas piores na comparação com 2006 (ver tabela). “Velhos golpes são reciclados e assumem formas diferentes. A maior arma dos bandidos ainda é a conversa, bastam cinco minutos. O golpista se passa por bobo e faz com que você se sinta inteligente”, conta o delegado Nelson Geraldo da Rocha Fialho, chefe-adjunto do Departamento de Crimes contra o Patrimônio da Polícia Civil.

Quando era detetive responsável pela investigação de fraudes, em 1977, Fialho já investigava o ex-jogador do Atlético Berinque Cantelmo, que aplicava o “golpe do lote”. Depois de descobrir os números de registros das propriedades em cartórios de BH, ele falsificava procurações que o autorizavam a negociar os lotes. Até faixas de terras localizadas dentro da Lagoa da Pampulha foram vendidas dessa forma.

“Prendi o Cantelmo pela primeira vez quando eu tinha 20 anos de idade. No início dos anos 2000 ele ainda estava aplicando golpes”, diz o delegado, que se especializou em fraudes e atualmente é o chefe da divisão responsável pela investigação desse tipo de crime. A ficha de Cantelmo mostra que ele passou pela polícia, nada mais, nada menos, que 95 vezes.

Impotência

Por se tratar de crime sem violência contra a pessoa, as penas por estelionato variam de um a cinco anos, dificilmente cumpridas integralmente. E ainda é possível pagar fiança para responder em liberdade. “É um trabalho do qual não se vê o resultado. Você prende o cara, apura a história, e ele não vai pegar cana. Não conheço um que se regenerou”, Fialho.

Hoje, não é mais preciso falsificar assinaturas para ter acesso a contas bancárias. Basta um clique errado em e-mail com vírus para que um programa se instale no computador da vítima e o criminoso passe a acompanhar tudo o que é digitado na máquina, inclusive a senha do banco. “Os caras fazem transferências eletrônicas, usam o dinheiro para colocar créditos em aparelhos celulares ou pagar contas de pessoas em outros estados. São velhos golpes que assumem formas diferentes”, diz o agente da Delegacia Especializada de Repressão a Crimes de Informática e Fraudes Eletrônicas (Dercife), Raul Moraes Euclides.

Velhas técnicas voltam a ser usadas também no golpe mais investigado atualmente pela Dercife, que vitima usuários do site Mercado Livre, especializado na comercialização de mercadorias entre internautas. Usuários falsos vendem produtos inexistentes, ou então usam senhas de usuários verdadeiros e com boa reputação para vender itens que não são entregues. Abrem-se contas fantasmas para que os “compradores” façam depósitos. “A fraude é descoberta depois de 10 ou 15 dias da ação do criminoso. A essa altura, ele já sacou o dinheiro e desapareceu, como ocorre há mais de 40 anos com golpe do falso empréstimo”, conta Moraes.

José Augusto Silva, o Zé do Fusca, de 52, ainda tenta rever os prejuízos causados por um hacker, que usou sua senha do Mercado Livre para oferecer produtos que não foram entregues. Especializado em venda de peças de carros antigos, Zé do Fusca conta que o golpe mais duro não foram os R$ 5 mil que perdeu, por ter de pagar anúncios postados pelo fraudador e enviar peças, pelas quais não recebeu um tostão, a internautas. “Quanto vale o meu nome? Tinha uma reputação no site, agora as pessoas estão desconfiadas na hora de comprar meus produtos”, lamenta.

O antigo golpe com o bilhete da loteria mineira, agora, é aplicado com bilhete da Mega-Sena. O bilhete antigo tinha cinco números e um deles era recortado para se colocar outro no lugar. “Não dava para perceber, eles falavam que usavam gilete, mas era impressionante”, lembra Nelson Fialho. Com o bilhete premiado falso em mãos, o criminoso usava a lábia para coagir as pessoas a comprá-lo. Atualmente, forjar um papel de loteria é mais fácil por causa das ferramentas tecnológicas. Mas o poder de convencer as vítimas de que o bilhete é verdadeiro continua sendo a maior arma do bandido.


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