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Estado de Minas

Grande BH tem 1,4 milhão vivendo em condições precárias


postado em 22/10/2008 07:29 / atualizado em 08/01/2010 04:09

Ângela Maria, de 33 anos, Maria Vicentina Ferreira, de 50, Maria Lima dos Santos, de 38, Maria Expedita, de 53, e Neuza Maria, de 50, contam com a solidariedade para enfrentar as condições precárias de habitação às margens do Ribeirão do Onça(foto: Beto Novaes/EM/D.A Press)
Ângela Maria, de 33 anos, Maria Vicentina Ferreira, de 50, Maria Lima dos Santos, de 38, Maria Expedita, de 53, e Neuza Maria, de 50, contam com a solidariedade para enfrentar as condições precárias de habitação às margens do Ribeirão do Onça (foto: Beto Novaes/EM/D.A Press)

Cinco vizinhas da Vila São Tomaz, na Região da Pampulha, carregam na certidão de nascimento uma homenagem à mãe de Jesus. Mas as cinco Marias, todas com a pele marcada pela árdua labuta diária debaixo do sol forte, não têm apenas o nome em comum. Elas fazem parte de um dado alarmante divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea): 1,428 milhão de moradores da Região Metropolitana de Belo Horizonte – ou 28,7% dos 4,974 milhões de habitantes – vivem em casas com condições inadequadas. No Brasil, são 54 milhões de homens e mulheres, o equivalente a 34,5% da população urbana. Os números foram calculados com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad)/2007, elaborada, anualmente, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A situação na Grande BH é melhor do que a média do chamado Brasil metropolitano (68,8%), mas as cinco vizinhas – Maria Expedita Lima dos Santos, de 53 anos, Neuza Maria Lima, de 50, Maria Lima dos Santos, de 38, Maria Vicentina Ferreira, de 50, e Ângela Maria Ribeiro, de 33 – não levam uma vida fácil. “Há de ser observado que a situação na Grande BH é bem melhor do que a de outras regiões, pois 71,3% da população da RMBH estão em moradias adequadas. Em Porto Alegre são 71,1%. No Rio de Janeiro, cidade mais conhecida fora do Brasil, 70,6%”, observa a pesquisadora Maria Piedade, xará das mulheres da Vila São Tomaz. O pior resultado ficou com Belém (29,6%) e o melhor com Curitiba (82,1%).

As cinco vizinhas moram em pequenos barracos, construídos à margem esquerda do Ribeirão do Onça, cujo leito é infestado de ratos e baratas. Nenhuma tem emprego com carteira assinada. Ajudam os maridos a sustentar a casa com os bicos que fazem como diarista ou catadora de material reciclável. O Ipea se baseia em várias observações para classificar uma moradia como inadequada. Fazem parte da lista, por exemplo, o banheiro fora do lar, o chamado adensamento de pessoas – moradores que dividem o mesmo dormitório –, o alto gasto com aluguel, a proliferação de assentamentos precários e casos de família diferentes que dividem o mesmo lar.

É nesse último quesito que está Neuza Maria. Ela mora com o marido, José Alexandre, de 30, e a filha Joélia, de 18, no mesmo endereço do sobrinho Aloísio, de 31, que divide o barracão com a mulher, Adriana, de 24, e os dois filhos do casal: Maciel, de 6, e Michele, de 10 meses. Dona Neuza Maria não se incomoda de dividir o endereço com outra família. E justifica: “Comprar uma residência em BH é muito caro. Eles podem ficar aqui o tempo que quiserem”. O Ipea constatou que as pessoas que moram em lares urbanos com superlotação domiciliar – aqueles com densidade superior a três pessoas por cômodo – somam 12,3 milhões de habitantes. Em percentual, 7,8% da população urbana.

A história de Maria Vicentina, que não tem vergonha de dizer que sabe apenas “assinar o nome”, é repleta de bondade. Casada com seu José, de 55, a mulher, que ganha por mês R$ 100 com o material reciclável que recolhe nas ruas da capital e mora num barracão sem rede coletora de esgoto, cria a pequena Isabella, de 11 anos, desde que ela era um bebê. Apesar das dificuldades, as amigas estão sempre com sorriso no rosto. O de dona Ângela Maria ajuda a disfarçar o árduo trabalho em casa. Ela e o marido, o jardineiro Renildo, não vivem no meio das rosas, mas, como diz a mulher, “vão levando a vida”.

Quando recém-casados, compraram um barraco de madeira, onde viveram por cinco anos. Conseguiram juntar dinheiro suficiente para derrubar a antiga moradia, que deu lugar a um barraco de três cômodos – quarto, cozinha e banheiro – feito de tijolo. O teto, de amianto, ainda não é o ideal, pois, na época de calor, deixa o ambiente bastante quente. “Quero crescer e ser jogador de futebol. Quem sabe do Atlético, para ajudar minha família a morar num lugar melhor”, planeja o filho de Ângela Maria, Marcos Vinícius, de 11, que não deixa de lado os estudos. “Estou na 5ª série. Nunca fui reprovado”.

O dia-a-dia na casa de Maria Expedita também não é nada fácil: “Moro quase dentro do ribeirão”. À noite, ela deita na cama e lamenta que o filho mais velho, Luciano, de 29, tenha que fazer o mesmo no sofá. O caçula, Marcos, de 21, se aconchega num colchão na sala. Mas ela não perde a esperança de que dias melhores virão, como sua sobrinha Maria Lima. “Temos um teto. Podia ser pior.”

Todas elas, por outro lado, fazem parte de uma estatística importante: têm acesso a água encanada. Na Grande BH, 98,4% dos moradores estão nesse universo, o segundo melhor do país, que perde apenas para a Grande São Paulo (98,9%). O Ipea informou que o Brasil alcançou a meta do milênio referente à oferta de água potável nas áreas urbanas.


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