Design popular. É como tem sido chamado o artesanato moderno e fora do comum, que ganha em qualidade quando se associa ao conhecimento técnico. Com o seu olhar sensível e curioso, Mary Arantes mostra exemplos de trabalhos que representam esse novo momento do artesanal na 19ª edição da Quermesse da Mary, que será realizada de sexta a domingo, no Bairro Serra, em Belo Horizonte. Em destaque, bordados e crochês como você nunca viu.
A feira, que já se antecipa aos presentes de Dia das Mães, vai reunir 44 expositores, a maioria mulheres e da capital. “Toda a curadoria é uma caça de novos talentos, com o objetivo de mostrar pessoas que ninguém nunca viu e técnicas que a gente conhece, mas de forma inusitada”, pontua Mary. Os produtos vão de objetos de decoração a roupas, joias, cosméticos, plantas e comidas.
Se você quer presentar alguma mãe com um objeto decorativo diferente, não pode deixar de conhecer as Doninhas de Lavras Novas. São senhoras com mais de 80 anos (a mais velha tem 95) que se encontram para bordar. “Juntamos os balaios de taquara, que são uma tradição dos homens, com os bordados das mulheres e criamos uma nova superfície. Deixa de ser balaio e vira uma escultura”, explica a artista Silvana Machado Coelho, que coordena voluntariamente o grupo.
Impressionam os balaios que se transformam em pessoas através de bordados que criam expressões faciais, roupas e acessórios. As Doninhas levam um mês e meio para fazer cada um deles. “Esse trabalho machuca muito a mão, mas a força da puxada delas é impressionante”, comenta Silvana, lembrando que essas mulheres tiveram uma realidade muito dura nas lavouras de chá. Hoje elas conseguem ter renda e se sentem produtivas.
O trabalho das Doninhas tem o título de patrimônio imaterial de Ouro Preto e já ganhou um prêmio do MEC de cultura popular. Silvana conta que, com o dinheiro, deu para todo mundo ir ao médico para fazer óculos e isso virou um acontecimento. “Acho incrível ver a alegria delas, a fé na vida, a fé em Deus. São um exemplo.” Os produtos já chegaram à Austrália, França e Portugal.
Outro trabalho manual que chama a atenção é o da argentina Valentina Bocchetto, que há dois anos mora em BH. Arquiteta, ela se apaixonou pelo bordado e passou a desenvolver o que chama de arte têxtil. Os produtos mais conhecidos são quadros com bordados de linha em tecido e papel. Como gosta de misturar técnicas, ela também trabalha com xilogravuras.
Os bordados, em geral, reproduzem elementos da natureza. “Normalmente, fico inspirada por algo, procuro estudar o tema e depois desenvolvo os bordados. Faço diferentes séries simultaneamente, é mais enriquecedor”, comenta a arquiteta. Valentina tem coleções dedicadas a temas como café, cebola, mar, praia e o jardim botânico do Inhotim.
Entre as roupas, destaque para o trabalho de reaproveitamento de retalhos de tecidos de Cinara Espíndola. Ela conta que isso é uma herança do pai, que era marceneiro e achava utilidade para tudo na oficina. “Quando todo mundo começou a falar em sustentabilidade e reúso, isso não era novidade para mim. Ficava injuriada de jogar retalho fora, comecei a brincar com eles e fui tomando gosto”, relembra a costureira, que entrega as roupas em sacolas e cabides enfeitados com retalhos.
Cinara vai participar pela primeira vez de uma feira. Sua arara terá jaquetas de shantung, vestidos de linho e blusas de crepe. Em especial, ela cita uma blusa de organza cheia de lacinhos de peças íntimas com miçanga no meio e uma saia mídi de patchwork de renda com cós jeans. Todas são peças únicas. “Além do meu prazer de encontrar a harmonia, sou muito caprichosa e tenho muito cuidado para combinar as cores e os tecidos, então não parece roupa feita com retalhos.”
JOIAS Na pandemia, Elisa Cordeiro descobriu um caderno de desenhos perdido e decidiu retomar a ideia de fazer joias. A marca Elisa fala um pouco da trajetória da criadora, que é arquiteta, já teve marcenaria e atualmente trabalha com design. “Sempre desejei levar no corpo esses meus projetos”, diz. Ela começou pelos anéis e brincos e vai lançar na feira colares e braceletes.
Os acessórios são uma combinação de prata (“que remete a uma beleza mais simples da joalheria, mas permite muitas possibilidades de desenho”), madeira, pedras naturais e formas arquitetônicas. Tudo isso transformado com o olhar do design.
Uma das peças que mais representam o trabalho de Elisa é o brinco pendente Copos, formado por cones sobrepostos em materiais diferentes (prata e madeira ou prata e pedra natural) com movimento. Entre os anéis, destaque para o Duplo jacarandá, que combina formas curvas e retas.
A novidade desta edição é o salão dos brinquedos, com objetos que deixam a criança livre para brincar como quiser. Alguns exemplos são os brinquedos de papelão para montar e colorir da Mobri, brinquedos de madeira, como o balancê, da Brotos Oficina, e os bonecos de crochê da Crochelô.