Jornal Estado de Minas
Artesanato

Moda feita a mão



Depois da temporada internacional de desfiles com presença de público e declarada uma certa normalidade sanitária baseada em cuidados essenciais, o que se percebe, de acordo com especialistas, é que houve muita expectativa e pouca mudança. 
Segundo a revista Elle Brasil, “a temporada de verão terminou com um certo sentimento de frustração para quem esperava grandes transformações e a sensação de que a moda anda desconectada do tempo em que vivemos”. 
 
Fass Brand em mix de texturas - Foto: Crochê e tricô/divulgação 
 
Sim, o apelo do sexy, com pele à mostra, barriga de fora, comprimentos mínis e decotes, está entre os grandes hits do verão 2022, assim como há uma tendência forte da cintura baixa, que vem ensaiando seu retorno há um tempo.
 
Fass Brand em crochê nude - Foto: Crochê e tricô/divulgação 
 
Diante do grande mosaico de opções, o que fica cada vez mais evidente é que a “salvação da lavoura”, como de dizia antigamente, está no trabalho artesanal. Naquilo que lembra o feito a mão com técnicas tradicionais, passadas de geração para geração, que não perdem o encanto porque remetem ao emocional das pessoas.
 
Flávia Soares: %u201CNossa curadoria é um processo bem direcionado para clientes especiais, e a escolha das marcas passa por um processo de estudo profundo%u201D - Foto: Crochê e tricô/divulgação 
 
Isso em Paris, Nova York ou Belo Horizonte. Foi por isso que a stylist mineira Inês Yamaguchi deteve seu olhar no handmade no desfile que concebeu, recentemente, para a Fass Brand, de Flávia Soares. A empresária, nascida em Belo Horizonte, sabe muito bem como essas características mexem com a emoção, porque morou 16 anos na Europa, quatro deles na Holanda e 12 na Inglaterra. E, lá fora, o artesanal é admirado e valorizado muito mais que aqui no Brasil.
 
Tingimentos em degradês na Angela Souza Handmade - Foto: Crochê e tricô/divulgação 
 
Na história de Flávia, o gosto por aprender novas coisas é um caminho sem fim e a levou, primeiro, a uma sociedade em uma agência de publicidade, onde se inteirou de todos os departamentos da empresa, do financeiro ao marketing. Mas a moda sempre esteve na sua vida, tanto que abriu uma loja bem-sucedida em Londres. 
 
Com a pandemia, antecipou os planos de passar uma temporada no Brasil, Belo Horizonte, com o marido e filhos, e, no ano passado, inaugurou a Fass Brand em um formato diferente: a multimarcas funciona em um andar na Vila da Serra, em Nova Lima, e trabalha com uma curadoria exclusiva de marcas internacionais e nacionais, se detendo, grande parte das vezes, na oferta de peças únicas. É um exercício de garimpagem em busca de originalidade, que vem incluindo também labels mineiras.
 
No último desfile, o que se viu na passarela foi uma amostragem do que ela acredita para o alto-verão brasileiro: o deslocamento da cintura nos shapes escolhidos é uma aposta, além da forte presença de franjas, do crochê e de uma pitada de tricô. “A nossa curadoria é um processo bem direcionado para clientes especiais, e a escolha das marcas passa por um processo de estudo profundo.
Tenho no meu DNA importância com o planeta, sustentabilidade, e com o próximo”, explica a empresária. A escolha do handmade, como uma das estrelas do desfile define bem seu pensamento e o carinho pelo artesanal, que, como ela opina, enche os olhos de quem mora no estrangeiro.

Intuitiva Angela Souza nunca frequentou uma escola de moda, mas é uma estilista nata, com um grande senso de proporções, escolha de shapes e de cores. Suas criações em crochê passam pelo desenho de croquis e por um processo apurado de modelagem para que a peça vista como uma luva no corpo das mulheres. Intuitiva, é filha de mãe crocheteira e, há sete anos, resolveu seguir o mesmo caminho.
 
“Um dia, ao sair da missa na igreja do Belvedere, o vestido que estava usando chamou a atenção, muita gente veio me perguntar a origem e elogiar a delicadeza”, ela conta. O mais interessante é que era um modelito tecido pela mãe há mais de 15 anos. Foi aí que veio a ideia de ganhar dinheiro investindo na atividade. 
 
Formou uma equipe de crocheteiras, cerca de 20 mulheres que trabalham com exclusividade sob sua orientação. “Crio os modelos, decido a paleta, aprovo tudo.
Vendo minhas peças em boas lojas, como a Anna Tomé e a Deluxe, mas não tenho condições de fazer uma coleção completa, cada roupa é praticamente única e leva até mais de mês para ficar pronta, conforme sua complexidade. O processo é demorado.”
 
Para os que reclamam do preço por não se sensibilizarem com as etapas da construção manual, ela costuma lembrar o tempo envolvido em cada etapa. “Supervisiono também os tingimentos naturais, às vezes uso muitos degradês para valorizar o trabalho.” 
 
Um novelo nunca fica exatamente como o outro. Depende da estação do ano, da colheita das flores e das raízes”, especifica. A matéria-prima é outro quesito escolhido com muita propriedade. Além das linhas de algodão, prioriza as em seda pura, que geram produtos altamente sofisticados. Uma das suas inspirações é a estilista Vanessa Montoro, pelo trabalho primoroso que executa. Algumas peças são obras de arte no vestir, ela garante.
 
No seu caso, as vendas começaram na base do boca a boca e Angela usa também a internet como canal de divulgação.
É nessa plataforma que vem sendo descoberta por celebridades, como a cantora Preta Gil, a atriz Paola de Oliveira e a influencer Lalá Rudge.
 
“Elas viram o Instagram da marca (@angelasouzahandmade), se encantaram e entraram em contato querendo comprar. Fiz também uma parceria com a RP Maria Flávia Zech Coelho, que foi muito proveitosa”, relata a artesã, que faz questão de crescer organicamente nas redes sociais. “Acredito em um movimento espontâneo, um cliente satisfeito indica a outro, e isso traz fidelização, porque o crochê não é descartável, é atemporal, remete a memórias afetivas, é algo para guardar”, acredita.
O tricô também faz parte do repertório de habilidades de Angela, particularmente nas criações para o inverno. E, agora, ela já está preparando outra novidade envolvendo o trabalho com renda renascença. Para aguardar.
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