(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas Criatividade

Joias ou esculturas?

Mineira de Juiz de Fora, Nathalie Edenburg une arte, moda e design em peças com formas orgânicas moldadas a mão


29/08/2021 04:00

(foto: Nathalie Edenburg/Divulgação)
(foto: Nathalie Edenburg/Divulgação)
 
Como aproximar a arte do dia a dia das pessoas? A modelo internacional e artista Nathalie Edenburg, mineira de Juiz de Fora, encontrou na joalheria a resposta para o que buscava. No seu ateliê, em São Paulo, ela desenvolve joias como se fossem esculturas. Em um processo totalmente artesanal, molda todas as peças-piloto com as próprias mãos. Sente o material, segue a intuição e normalmente se inspira nas formas da natureza e do corpo feminino.
 
(foto: João Arraes/Divulgação)
(foto: João Arraes/Divulgação)
 
 
Foi durante uma viagem a Barcelona que a ideia se materializou. Nathalie passou um mês sozinha na cidade, em uma imersão artística intensa, e concluiu que poderia unir arte e joalheria em um novo trabalho. “A cidade respira arte, o modernismo, a art nouveau, as esculturas, as curvas de Gaudí.
Tudo isso me encantou e comecei a pensar em como levar isso para o dia a dia das pessoas”, conta.
 
(foto: João Arraes/Divulgação)
(foto: João Arraes/Divulgação)
 
 
A então modelo quis entender melhor o processo da joalheria, e não parou mais. Fez curso de ourivesaria em Nova York, em busca de um conhecimento mais prático, e continuou os estudos depois que voltou para o Brasil. Nathalie conta que ficou encantada com os materiais e a possibilidade de moldar os metais. Com o tempo, foi entendendo que era mais que isso. “As joias unem moda e arte e isso tem tudo a ver comigo, com a minha história.”
 
(foto: Nathalie Edenburg/Divulgação)
(foto: Nathalie Edenburg/Divulgação)
 
 
A joalheria, inclusive, se conecta com a sua infância. Nathalie sempre foi muito fascinada pelas pedras e suas formas orgânicas. Criar joias para ela é um resgate do passado. “Desde pequena, coleciono pedras e a minha brincadeira preferida nas férias era juntar conchinhas para fazer colar.”
Nathalie gosta de ser guiada pela intuição. Às vezes, ela até já tem um desenho, mas, quando chega à oficina, pode seguir outro caminho. Vai sendo levada pelo que sente no momento, como se estivesse esculpindo uma obra de arte. O resultado, em geral, são peças que ela descreve como minimalistas ousadas. Os traços são simples, mas com personalidade.
 
(foto: Nathalie Edenburg/Divulgação)
(foto: Nathalie Edenburg/Divulgação)
 
 
O primeiro lançamento, há dois anos, mostra bem isso. É o brinco Golden Nips, em formato de mamilo, que virou um clássico da marca e se mantém como o produto mais vendido. “Vi essa forma numa pérola grudada na concha e achei que parecia um mamilo. Me inspirei numa forma da natureza”, conta a artista, que enxerga os mamilos de ouro como uma representação da força fe- minina. Hoje tem também pingente e broche no mesmo formato.
 
Como as joias e as pinturas se conectam? “Apesar de serem artes completamente diferentes, meus quadros falam do feminino, das curvas das mulheres, do imperfeito e busco na joalheria a assimetria e traços bem orgânicos e curvilíneos”, aponta.
 
O brinco Curves exalta as curvas femininas (duas pequenas pérolas representam os seios). De uma maneira nada óbvia, o brinco Misty pode ser visto como um corpo (com cabeça, tronco e pernas) em movimento, como se estivesse dançando. Já no colar Face e no broche Two Faces vemos o perfil de uma pessoa, com os contornos da testa, nariz, boca e queixo e um dos olhos em evidência.

UNIVERSO A marca trabalha com séries de joias, que não ficam limitadas a datas ou temas. O que guia os lançamentos é o processo criativo, sempre livre, de Nathalie. Por acaso, recentemente, ela acabou olhando bastante para o universo e os astros. O brinco Sistema Solar exibe círculos disformes e duas perólas no meio, remetendo ao movimento dos planetas ao redor do Sol. Já o pendente Cometa lembra uma chuva de meteoros. Ainda tem o anel em formato de Lua, inspirado em uma pintura.
 
Todas as joias são feitas em prata (as douradas recebem banho de ouro). “Acho que é um metal nobre e lindo, ao mesmo tempo um pouco mais acessível que o ouro. A nova geração quer mais joias com design autoral, mas que possam ser mais acessíveis”, justifica.
 
As pedras são recorrentes. Para além de um fascínio inexplicável, que vem desde criança, Nathalie acredita na energia que elas carregam e na vivacidade que representam através das cores. Jade, ônix, citrino e ametista são alguns exemplos. A artista também usa bastantes pérolas, de preferência irregulares. Também gosta do cristal e da sua transparência.
 
Uma pedra incomum usada pela marca é o fóssil de um animal pré-histórico chamado amonite. Com uma forma circular que lembra uma concha, ela se transforma em pingente no colar Úrsula. A assimetria do cordão, metade pérola, metade corrente, deixa a peça ainda mais interessante.
 
Nathalie segue um processo bem artesanal. Gosta de fazer todos protótipos antes de encaminhar para os ouvires parceiros, que assumem a produção. “Todas as peças-piloto são feitas por mim. Eu que moldo, derreto o metal, faço a fundição e tudo o que precisar até sair uma peça de que gosto. Quando fico feliz, levo para a fábrica, que tira o molde e reproduz”, descreve. A mineira não tem planos de ter loja (só vende on-line). Quer continuar recebendo as clientes no ateliê, como uma artista.

Arte como companhia A artista tem o maior orgulho da sua origem mineira. A mãe nasceu em Juiz de Fora e conheceu o pai, que é argentino, em São Paulo, quando saiu de casa, nos anos 1980, para trabalhar como modelo. Apesar de ter sido criada na capital paulista, ela tem uma ligação forte com a família em Minas.
 
Nathalie seguiu os passos da mãe e virou modelo aos 13 anos. Trabalhando, fez muitas viagens internacionais, morou em Tóquio, Londres e Paris até se estabelecer em Nova York, onde ficou por cinco anos. No início, ela era acompanhada pela mãe. Depois dos 18 anos, a pintura passou a ser sua companheira pelo mundo.
 
O interesse por arte e cultura a acompanha desde pequena. “Sempre gostei de me expressar assim, mas não acreditava no meu potencial. Até que comecei a me descobrir como artista e criei o meu primeiro projeto”, o How do I feel today”, conta. É como um diário. Usando técnicas e materiais diferentes, ela criou 365 versões de um mesmo retrato seu para mostrar o que estava sentindo em cada dia do ano.
 
As obras de arte ganharam espaço na Bienal de São Paulo, foram vendidas para grandes colecionadores e deram o impulso para Nathalie fundar o projeto social How do I feel today. Desde 2016, ela dá oficinas de arte para crianças. “A arte foi uma ferramenta fundamental de autoconhecimento para mim e acredito que ela tem, sim, a função de ajudar você a se conhecer e a se expressar.”
 
No ano passado, Nathalie participou da exposição Drivethru.Art, em São Paulo. O projeto, com curadoria de Luis Maluf, inaugurou o formato de ver obras de arte de dentro do carro e foi mencionado até em um jornal de Nova York. A tela da artista tinha 10 metros de largura por cinco metros de altura.
 
 


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)