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Estado de Minas Criadores

Olhar introspectivo

A escolha pelo design autoral leva dupla do Estúdio Dentro a sempre buscar referências internas, assumindo uma criação livre, com identidade


28/02/2021 04:00 - atualizado 27/02/2021 22:03

Luminária Volta(foto: Dentro Fotografia/Divulgação)
Luminária Volta (foto: Dentro Fotografia/Divulgação)


Um arquiteto que gosta de experimentar formas, materiais e técnicas. Um designer que sempre buscou liberdade criativa. Marllon Morais e Rodrigo Queiroz estão no início da carreira, mas já sabem bem o que querem. A história deles se une pela vontade de construir um trabalho verdadeiramente autoral, em um processo de dentro para fora. Há três anos, eles criam objetos com a assinatura do Estúdio Dentro, em Belo Horizonte, que dizem muito sobre quem produz e a matéria-prima escolhida.
 
Penduradores Gira(foto: Dentro Fotografia/Divulgação)
Penduradores Gira (foto: Dentro Fotografia/Divulgação)
 
 
A dupla não gosta de definir exatamente o que faz, isso soa como um pensamento limitador. O interessante é estar sempre aberto a insights que surgem no dia a dia. “Fui conhecendo e me interessando pelo design autoral. O trabalho fechado, que é muito burocrático, não me atrai tanto. Quero explorar a liberdade, a poesia da criação”, pontua Rodrigo, que é formado em design de produto e estudou marcenaria, resgatando o passatempo do avô de fazer entalhes geométricos.
Diante do catálogo, dá para dizer que o trabalho se concentra em objetos para casa. Por enquanto, vemos vasos, centros de mesa, luminárias e móveis. Mas nada impede que, daqui a pouco, surjam esculturas ou joias, por exemplo. É esse o desejo, deixar as ideias fluírem.
 
Vasos Amuleto(foto: Dentro Fotografia/Divulgação)
Vasos Amuleto (foto: Dentro Fotografia/Divulgação)

 
A primeira peça lançada funciona como um manifesto sobre a proposta do estúdio, que tenta fugir de todos os preconceitos, aposta na mistura de materiais e busca a versatilidade. Formada por uma estrutura retangular vazada de aço inox e duas chapas de madeira, a luminária Solta se molda de acordo com a necessidade. Os laminados podem ser posicionados em vários ângulos, o que permite mudar a intensidade da luz e aumenta as possi- blidades de uso. Assim, a peça ilumina de forma direta ou indireta, tem lugar em um escritório ou no quarto.
 
Banco Cauê(foto: Dentro Fotografia/Divulgação)
Banco Cauê (foto: Dentro Fotografia/Divulgação)
 
 
A aproximação com mobiliário se concretiza a partir da coleção Talvegue, que tem mesa central, mesa lateral e centro de mesa que pode ser bandeja. De estáticos, esses móveis não têm nada. “O design está aquecido no Brasil, produz-se muita coisa, existe muita gente talentosa, que são uma inspiração, mas está cada vez mais difícil olhar para dentro para conseguir trazer ideias novas. Essa é uma coleção muito importante como estudo e acho que conseguimos dizer algo que foge de tudo, trazemos uma linguagem nova para o mobiliário”, pontua Marllon, arquiteto com formação em artes visuais e escultura.
O desenho das peças surge como uma materialização da palavra talvegue, que vem da geografia e se refere à linha mais profunda de um vale, por onde as águas correm. Chapas de metal são dobradas para formar o vale e pousam em dois pés sólidos de madeira. Vidros retangulares estão ali não só para funcionar como superfície de apoio – subjetivamente falando, entregam leveza. Um detalhe que torna os móveis versáteis: os vidros são soltos e podem ser colocados em qualquer parte do tampo.
 
Centro de mesa Bela Vista(foto: Dentro Fotografia/Divulgação)
Centro de mesa Bela Vista (foto: Dentro Fotografia/Divulgação)
 
 
A coleção Dossel também reforça a questão da versatilidade. Inspirada na sobreposição das copas das árvores, é composta por cinco vasos com diferentes alturas e diâmetros, que, juntos, dão a sensação de se olhar para uma floresta. Dependendo da posição da peça de alumínio, que fica apoiada na estrutura cilíndrica de madeira, os objetos funcionam como centro de mesa, porta-objeto e fruteira.
 
Luminária Solta(foto: Dentro Fotografia/Divulgação)
Luminária Solta (foto: Dentro Fotografia/Divulgação)
 
 
Nem mesmo os penduradores Gira se esgotam em sua função habitual. Além de servir para pendurar casacos e bolsas, Marllon e Rodrigo enxergam as peças como adornos de parede. A sugestão é usar a criatividade para fazer composições, misturando materiais, cores e tamanhos diferentes.
 
Mesa Talvegue(foto: Dentro Fotografia/Divulgação)
Mesa Talvegue (foto: Dentro Fotografia/Divulgação)
 
 
A vontade de Marllon de homenagear a cidade onde nasceu deu origem à coleção Itabira. Um dos objetos dela é o centro de mesa Bela Vista, bairro onde os avós moram até hoje, no limite entre a cidade e a barragem do Pontal, da mineradora Vale.
Para ressaltar a questão do limite territorial, os jovens criaram uma peça que se divide em duas. A estrutura metálica circular, revestida com um trabalho minucioso de tecelagem, é separada ao meio por um caibro de madeira. As cores das lãs representam o processo de oxidação do minério de ferro, que, a céu aberto, ganha várias tonalidades. O centro de mesa carrega muito da experimentação de Marllon com fibras e a vivência no curso de escultura (ele mesmo faz tudo a mão, por isso a tiragem é limitada).
 
Coleção Refúgio(foto: Dentro Fotografia/Divulgação)
Coleção Refúgio (foto: Dentro Fotografia/Divulgação)
 

GARIMPO Também faz parte da coleção Itabira o banco Cauê, nome do pico destruído pela exploração do minério de ferro, que aparece em vários poemas de Carlos Drummond de Andrade. O designer nem chegou a conhecê-lo, mas sempre ouviu muitas histórias. “Como a minha família sempre morou no limite com a área da mineradora, meus tios garimparam e a minha avó fazia marmita para alimentar os trabalhadores”, conta. O banco, quadrado, combina três materiais: aço nos pés, madeira no tampo e lona no assento, que é solto e tem forma de bateia, instrumento de garimpo manual.
 
Os materiais também podem ser um convite para a criação. O interesse em explorar a pedra-sabão levou ao projeto da luminária Volta. “Conversamos para saber como fazer sem ficar parecido com o que já existe. Então, veio a ideia de a pedra-sabão ser base, e não o objeto em si”, explica Marllon. Inspirada no movimento art nouveau, a cúpula de tecido se complementa com uma repetição de curvas em aço que dão ritmo à sua forma. A intenção era ir do pesado ao leve, do bruto ao monumental.
 
Vaso Itabira(foto: Dentro Fotografia/Divulgação)
Vaso Itabira (foto: Dentro Fotografia/Divulgação)
 
 
A dupla também usa a pedra-sabão na coleção Refúgio, desta vez como protagonista. Objetos de mesa cilíndricos, com diâmetros e alturas variados, têm base de madeira e acabamento em latão. A forma como o metal dourado aparece, como tampa, fundo ou divisória, define o uso das peças. Ou seja, elas podem ser potes, vasos, fruteiras, porta-objetos ou elementos decorativos. “Trabalhamos o latão de forma introspectiva, reforçando sua preciosidade e delicadeza. Ele está protegido pela pedra- sabão, um material mais robusto e forte”, observa o arquiteto.
 
Rodrigo Queiroz e Marllon Morais tentam fugir de todos os preconceitos, apostam na mistura de materiais e buscam a versatilidade das peças(foto: Dentro Fotografia/Divulgação)
Rodrigo Queiroz e Marllon Morais tentam fugir de todos os preconceitos, apostam na mistura de materiais e buscam a versatilidade das peças (foto: Dentro Fotografia/Divulgação)
 
 
Outra coleção que coloca a matéria-prima como elemento central é a Amuleto. Marllon trabalhou por dois anos com o ceramista de BH Máximo Soalheiro (não quis fazer estágio em um escritório convencional e foi parar em um ateliê de artista) e leva essa vivência com o barro, a olaria, para o conjunto de vasos. “Trazemos a cerâmica de um jeito popular e rústico, no mesmo ponto do filtro de barro, mais porosa, com toque mais áspero, não é esmaltada”, comenta.
 
Quando fazem lembrar o filtro de barro, o arquiteto acredita que as peças se conectam com casa de avó, de mãe, por isso o nome da coleção ser Amuleto. A proposta é falar sobre a memória dos objetos, a relação de afetividade, e uso deles quase como um amuleto dentro de casa. Os vasos são resultado de experimentações de formas não perfeitas – ali fica claro como as mãos do artesão são importantes. A tampa circular de aluminío tem um detalhe em madeira que funciona como puxador.


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