
A palavra da vez é originalidade. Lucas Magalhães assume a direção de estilo da Frutacor com a missão de reforçar a identidade da marca, levando modernidade e assinatura para as roupas. “O momento é de renascimento, de entender que a marca precisa ter um crescimento aliado a um produto original, exclusivo, que seja muito particular”, explica. Já nos primeiros dias de venda da coleção de inverno Ciclos, muitas peças esgotaram.

Lucas nunca tinha trabalhado com a Frutacor. Ao aceitar o desafio, estudou quem é o público da marca e o tipo de matéria-prima que se usava, mas não para restringir seu campo de visão. Pelo contrário, o objetivo é sempre tentar fazer diferente. “Preciso acreditar no feeling da criação, no que está acontecendo no mundo, e isso está sendo muito legal. Consegui manter o DNA da marca, mas dando uma atualizada, uma renovada, tendo coragem de propor coisas mais autorais e assinadas.”
Isso tem a ver com quebrar regras que deixam as marcas rígidas e sem coragem de inovar. Por exemplo, chegou a informação de que o histórico de venda de blazer era péssimo. Em vez de se conformar com os números, Lucas quis propor um modelo que pudesse mudar esta realidade. Assim, desenhou o blazer cropped, na altura da cintura e com mangas mais amplas, que esgotou no primeiro dia.

O estilista acredita numa nova alfaiataria. “Existe um ranço de tailler, que só quem usa são senhoras, mas tenho visto nas ruas uma alfaiataria para o público mais jovem, que permite mais misturas.” O blazer cropped funciona quase como jaqueta, você joga por cima de qualquer look e está pronta. Dá também para usá-lo dentro da calça, com a mesma cor e tecido, simulando um macacão. Outra vantagem do comprimento incomum: não amassa ao sentar.

A cartela de cores tem a ousadia característica do trabalho de Lucas. Ele não tem medo nenhum das cores, por isso chega a misturas improváveis. Desta vez, combina verde, laranja e branco em um jacquard de viscose com textura de zebra. Observe a dupla de vestidos cheios de recortes em tiras, que combinam azul e marrom. Ainda tem o branco nos vivos, detalhe que moderniza o look. “Estamos surpresos, porque essas peças, que acreditávamos que seriam mais conceituais, para reforçar a imagem da marca, estão dando um retorno maior de venda do que esperávamos.”

O momento também foi de repensar a matéria-prima, buscando algo mais sofisticado. Se antes o foco eram algodão e poliéster, agora o mix de tecidos aumentou e pelo menos 70% são fibras naturais. O desejo de Lucas de trabalhar com seda pura resultou em vestidos longos com estampas florais exclusivas. Já as camisetas de malha deram lugar ao tricô, material que acompanha o estilista desde o início da sua carreira. Para mudar ainda mais, elas contam com bordados localizados.

Ainda sobre matéria-prima, uma novidade é a tricoline de algodão estruturada. “Criei vestidos que são superconfortáveis, por ser de algodão, ao mesmo tempo muito sofisticados. Pela estrutura, conseguimos fazer volumes nas mangas”, descreve. Um tem decote quadrado, o outro segue o estilo camisa, com gola e botões, mas ambas as peças funcionam em qualquer contexto. Segundo Lucas, não dá para investir em peça de qualidade para um único momento. É preciso pensar em versatilidade.
LINHO A marca já era forte na venda do linho, e isso não mudou. Mas a intenção era ultrapassar a barreira da alfaiataria básica e inovar. O vestido mídi azul- claro com faixas coloridas na barra (vermelho e marrom) transita bem entre encontros casuais e festas (quando a pandemia permitir). Destaque para faixa dupla face que funciona como cinto. O linho também aparece em um conjunto no estilo training, levando um tecido de alfaiataria para o mood esportivo.
Lucas quer explorar como nunca a expertise da marca em modelagem. O vestido vermelho que ele considera icônico na coleção deixa isso bem claro. O shape é básico, um tubinho curto de um ombro só, mas o charme está na manga ultravolumosa. “Ela é toda feita em moulage, técnica que fui percebendo dentro da fábrica e quero aproveitar ao má- ximo.” A peça combina a sofisticação da modelagem com o conforto do linho, uma boa pedida para o momento de pandemia.
Deu frio na barriga de assumir uma marca com quase 40 anos, neste momento de reposicionamento de mercado. Mas Lucas fala que a liberdade criativa e a confiança no seu trabalho tornam tudo mais fácil. “É hora de unir o meu legado criativo com os desejos da consumidora. Sempre acreditei nisso. Moda é propor novidades, mas dentro da realidade, porque no fim temos que reverter o trabalho em venda”, comenta o estilista, que continua com a marca de pijamas Kanssei.
