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Estado de Minas Beleza

Marcas de maquiagem desenvolvem produtos para públicos até então marginalizados pela indústria

Um mineiro se volta para mulheres maduras, enquanto um norte-americano lança no Brasil marca para a pele negra


01/11/2020 04:00 - atualizado 02/11/2020 10:06

LaRóz(foto: Gabriel Tanzi/Divulgação)
LaRóz (foto: Gabriel Tanzi/Divulgação)

O conceito de beleza vem se distanciando dos ditos padrões. Cada vez mais fala-se em respeitar as singularidades e valorizar as pessoas como elas são. A indústria de cosméticos entra neste novo momento disposta a conquistar consumidores que até então se sentiam excluídos, o que resulta, por exemplo, em maquiagem para públicos específicos. Um mineiro desenvolve produtos para mulheres maduras, enquanto um norte-americano lança no Brasil uma marca para a pele negra.
 
Lázaro Lambertucci trabalhou como maquiador em desfiles de moda, na TV e com noivas. Em  todas as situações, o que mais faziam falta eram produtos para a pele madura. “Sentia que o público 30+ era marginalizado, as empresas não davam importância. Mas, como precisava para o meu trabalho, comecei a fazer a minha maquiagem a duras penas, com o meu próprio dinheiro, para usar nas minhas clientes e chegar ao melhor resultado”, conta o fundador da LaRóz, com sede em Belo Horizonte.
 
Era comum ouvir mulheres mais velhas dizendo que não usavam maquiagem porque os produtos ressaltavam as rugas, deixavam a pele craquelada e o semblante carregado. Muitas tinham até desistido de se maquiar porque não se adaptavam ao que encontravam no mercado. A tentativa de fazer uma maquiagem adequada pra essas clientes acabou virando uma oportunidade de negócio.
 
Mayore(foto: Rodolfo Corradin/Divulgação )
Mayore (foto: Rodolfo Corradin/Divulgação )
 
 
Foram cinco anos de pesquisas e testes para chegar ao resultado desejado. Lázaro considerou a pele de mulheres reais, com poros dilatados, vincos, rugas e outras imperfeições. “A tecnologia que desenvolvemos proporciona o melhor efeito para as peles maduras e em amadurecimento. As mulheres querem uma aparência bonita, natural e impecável, sem mostrar rugas.”
 
Um dos segredos está na fórmula. A marca vegana trabalha com água mineral, e não silicone, como é comum de encontrar. Lázaro explica que desenvolveu produtos “completamente saudáveis”, pensados para a mulher que quer nutrir a pele, e aponta outra vantagem da escolha. “Maquiagem feita à base de água mineral espalha-se de maneira uniforme na pele, então deixa um acabamento perfeito, não marca nada. Quando a maquiagem se acumula entre as rugas, dá o efeito craquelado.”
 
A marca já lançou cinco tipos de produtos: corretivo, base, pó compacto, batom e blush, cada um com a sua particularidade. Os batons, por exemplo, têm efeito “sem vinco”, que não deixa a boca com aspecto trincado nem escorre pelos cantos. Já a formulação dos blushs (matte, acetinado ou iluminador) ajuda a disfarçar poros e marcas. “O nosso blush é dois em um. Como a mulher é dinâmica e geralmente não tem paciência de andar com muito coisa na bolsa, ele também pode ser usado como sombra.”
 
LaRóz(foto: Gabriel Tanzi/Divulgação)
LaRóz (foto: Gabriel Tanzi/Divulgação)
 
 
As bases (cremosas) e os corretivos (com textura de gel) contam com vitamina E, substância com efeito antioxidante, que deixa a pele aveludada e hidratada, e Aloe vera, que protege de ações externas, como queimadura de sol. “Os produtos estimulam a hidratação natural da pele, proporcionando um efeito glow, de viço e nutrição. A pele fica menos danificada e mais saudável”, pontua. Um dos corretivos tem o poder de neutralizar olheiras e manchas (incluindo melasmas).
 
Sobre o pó compacto, ele combina nanopartículas (que aderem melhor à substância) e tecnologia que deixa a pele aveludada e com acabamento natural. “Não corre o risco de ficar grosseiro, de você ficar com a cara branca na foto. A pele fica acetinada e impecável”, tranquiliza Lázaro, que quer deixar a pele das clientes linda da forma mais natural possível, sem parecer que está com maquiagem. A marca já está desenvolvendo lápis de olho e de boca no Japão e planeja chegar, em breve, aos Estados Unidos.
 

Inclusão da pele negra

 
Criado entre a África e os Estados Unidos, Silver Oghayore se lembra, ainda criança, de ouvir a mãe lamentando a falta de produtos para o seu tom de pele. Já adulto, decidiu lutar pela melhor representação e inclusão do negro na indústria da beleza, lançando no Brasil, onde tem outros negócios, a marca de maquiagem Mayore. “O Brasil é um dos principais mercados de cosméticos do mundo. Também atua como o segundo maior mercado para pessoas de cor depois da Nigéria. Por esse motivo, a escolha do país foi natural para a nossa marca”, justifica.
 
Depois de uma extensa pesquisa de mercado em vários países, o norte-americano confirmou o que percebia em casa: não havia produtos de qualidade para negros. “Uma mulher de pele escura é forçada a usar maquiagem destinada a uma mulher de pele mais clara porque a indústria tradicional não acha lucrativo investir em seu tom de pele”, aponta.
 
Mayore(foto: Rodolfo Corradin/Divulgação )
Mayore (foto: Rodolfo Corradin/Divulgação )
 
 
A marca tem como carro-chefe as bases líquidas, disponíveis em 20 tonalidades, com acabamento matte e resistente à água. Os corretivos também são específicos para a pele negra e têm 10 variações, enquanto o pó compacto tem cinco e a paleta de sombras nove. Em relação aos batons, foram escolhidas as cinco cores que mais se destacam na pele negra. Ainda chama a atenção o produto que funciona como blush, iluminador e contorno, vendido em três tons. A variedade de cores vai continuar crescendo.
 
Ana Jacobs, brasileira que mora nos Estados Unidos há 19 anos, foi convidada para fazer o desenvolvimento da nova marca. Silver buscava alguém que acreditasse na beleza negra. “Mergulhei nesta comunidade para entender o que se passava e comecei a escutar relatos impactantes de meninas negras, as dificuldades que passam, o racismo que vivem, o que falam do cabelo delas, a queixa de que não existe maquiagem para a pele negra”, comenta.
 
Em uma sessão de fotos com mulheres comuns, todas de São Paulo, Ana observou como elas estavam felizes, orgulhosas e lisonjeadas de modelar para uma marca que pensou nelas em primeiro lugar. “Ouvi repetidamente: 'Agora tem uma base para mim', 'Existe uma cor que posso usar', 'Não preciso fazer uma mistura com três, quatro tonalidades'. Não estamos falando só de produtos, é muito mais. É a inclusão dessas mulheres, que se sentiam excluídas, no mercado da beleza.”
 
Embora tenha escolhido começar no Brasil, Silver diz que a Mayore é uma marca global. Já existe demanda em países africanos, europeus, Emirados Árabes, Canadá e, naturalmente, Estados Unidos, onde o lançamento está previsto para o ano que vem. O desejo da marca é conseguir combater o racismo e promover a valorização da pele negra no mundo todo. “Como uma marca inclusiva, que atende principalmente negros, devemos nos posicionar ao lado da justiça e da igualdade. Queremos mostrar valor e respeito pelos tons de pele que os líderes do setor esqueceram.”


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