Jornal Estado de Minas

entrevista/Luiz Raul Barcelos - 48 anos, Proprietário, diretor financeiro e de novos negócios da Luiza Barcelos

Momento é de união

 
A história da professora Maria Auxiliadora Aleixo Barcelos é bem conhecida no meio da moda. Não apenas devido ao fato de ela, já aposentada, ter dado vazão ao seu empreendedorismo tardio, abrindo a Luiza Barcelos – hoje a maior fábrica de calçados femininos no gênero fashion de Minas Gerais –, mas porque conseguiu envolver os quatro filhos em seu projeto vencedor. Ao longo do tempo, eles foram muito além do que a dona Dorinha poderia supor: além da fábrica em Belo Horizonte, no Bairro Caiçara, a marca hoje é conhecida em todo o Brasil, tem operações no Sul do país, onde se concentram os ateliês das melhores grifes, participa de feiras nacionais e internacionais, e está presente nas vitrines das multimarcas mais sofisticadas. Com potencial para exportação, sua produção pode ser encontrada, ainda, em lojas próprias, localizadas nos shoppings das principais cidades brasileiras. Quando começou o projeto, dona Dorinha, que conhecia bem o perfil de cada filho,  os escalou para funções específicas dentro da empresa. Tudo foi definido de acordo com as habilidades que detectava em cada um. Luiz, caçula e único homem da família, que já cursava administração de empresas, ficou encarregado da parte financeira. A Luiza Barcelos cresceu e ele, além desse cargo, é responsável ainda pela diretoria de novos negócios.
“Como somos três mulheres, o Luiz é nosso ponto de equilíbrio. Ele é a razão”, define Luiza Márcia, irmã e sócia, que coordena a equipe de estilo da marca. Ao assumir a presidência do Sindicato das Indústrias de Calçados de Minas Gerais – Sindicalçados-MG – pela segunda vez, o empresário leva para a casa uma experiência gigante acumulada ao longo do tempo e tem como objetivo unir o setor em um dos momentos mais conturbados da humanidade, tirando partido dos valores e vantagens do associativismo em prol dos interesses da classe. Discreto e low profile, ele tem em mente um plano estratégico para conduzir as pequenas e médias marcas, em sua maioria, que fazem parte do sindicato.
 
Exatamente 15 anos depois, você retorna à presidência do Sindicalçados - MG. O que o levou a encarar o desafio?
Vários fatores me fizeram aceitar novamente o desafio de representar um setor tão importante para Minas Gerais. Sem dúvida, o principal fator incentivador foi a presença do presidente Flávio Roscoe à frente da Fiemg e o compromisso de atuar em firme defesa do segmento, sempre em sintonia com os anseios da sociedade.

Como você faz um paralelo entre aquela época e o cenário de hoje?
Neste momento, é quase impossível traçar um paralelo entre o cenário atual e o daquela época. São tempos muito distintos, mas temos um objetivo comum: atuar pelo desenvolvimento da indústria calçadista mineira.
E, agora, estou mais experiente e isso pode ajudar ainda mais na unidade do sindicato.

O que aprendeu ao longo do  tempo que pretende utilizar na sua gestão?
A lição maior de quem se propõe a estar à frente de uma entidade associativa é clara: a união, ainda mais agora, é fundamental.

Quais são seus planos de trabalho?
Estamos elaborando um planejamento estratégico do sindicato, que tem como maior objetivo aumentar o associativismo.

Qual a importância desse sindicato para a indústria mineira de calçados?
Enorme. Com o sindicato atuamos para unir um setor que gera cerca de 30 mil empregos diretos em Minas Gerais. São anseios e pleitos que aglutinamos em uma estrutura capaz de representar aproximadamente 1,5 mil empresas.

Como ela está posicionada nacionalmente?
Representamos mais de 10% dos empregos e das empresas do setor em todo o país. Para além dos dados, é importante lembrar que a indústria mineira é reconhecida pela qualidade do que fabricamos.

E como está a posição da indústria brasileira no ranking da economia?
Hoje, a indústria representa 21,7% do PIB brasileiro e 25,3% do mineiro. Vivemos um momento atípico, o da pandemia do novo coronavírus. Ele nos mostra como a indústria é importante para a economia do país. É nas fábricas que produzimos nossos medicamentos para quem precisa se tratar, nossos alimentos para aqueles que precisam ficar em casa, a energia, os combustíveis, e, claro, nossas roupas e calçados, fundamentais para a saúde e para a segurança. Infelizmente, a indústria vem perdendo participação no PIB brasileiro devido à concorrência em condições desiguais com o mercado estrangeiro.
É um processo que precisamos atuar para reverter.

O Sindicalçados - MG tem como associados pequenas empresas que trabalham no conceito fashion e algumas delas se afastaram no decorrer do tempo. Como fazer para resgatá-las?
Esse é nosso maior desafio, acreditamos que a união faz a força, ainda mais neste momento de crise.O Sindicalçados - MG tem como associados pequenas empresas que trabalham no conceito fashion e algumas delas se afastaram no decorrer do tempo. 

Acredita que haverá mais compartilhamento de projetos, troca de experiências entre as empresas após a pandemia?
Espero que sim. Para falar a verdade, já estou sentindo um pouco mais de união. Criamos um grupo de WhatsApp com vários associados e vejo que muitos estão colaborando e interagindo para criarmos sinergias importantes para o setor.

O que a tecnologia trouxe de positivo para a indústria de calçados, que ainda depende muito das mãos em seus processos produtivos?
Existem alguns processos mais automatizados, o corte é um deles. Hoje existem máquinas a laser que executam essa atividade. Mas o tipo de calçado produzido por aqui ainda é muito artesanal. A tecnologia hoje está muito mais voltada para novas formas de venda do que a fabril propriamente dita.

A mão de obra especializada sempre foi um problema no segmento. Esta questão melhorou com o passar do tempo?
Continua sendo um problema. Vamos trabalhar também para que a formação profissional atenda ao setor e para que possamos ser competitivos na atração de talentos.

Você é proprietário e diretor financeiro da maior fábrica mineira de calçados femininos com foco em moda de Minas Gerais. Considera a marca uma inspiração para os calçadistas?
Essa é uma pergunta difícil de ser respondida, mas talvez sejamos exemplo para muitos fabricantes de que é possível produzir calçados fora de um grande polo da indústria calçadista.

Sua empresa, além do atacado, atua no varejo e tem lojas abertas nos principais shoppings do Brasil.
Quais saídas você encontra para contornar o prejuízo causado pela pandemia?
Estamos trabalhando duro junto com nossos colaboradores, fornecedores e clientes. Nosso pilar sempre foi baseado na parceria. E acreditamos piamente que essa será nossa maior alavanca para a retomada.

Qual será o papel das vendas on-line na vida de uma empresa daqui para a frente?
Fundamental. Não só no B2C como no B2B.

No seu caso, o on-line significa que percentagem de venda?
Antes da pandemia, representavam 20% do total do faturamento da companhia.

Vocês são quatro irmãos, cada um em uma área da empresa. Como administrar família e negócios?
Tivemos uma ótima professora, nossa mãe. Temos muitas divergências no campo das ideias, mas com diálogo sempre conseguimos chegar a um denominador comum. Logicamente que tentamos separar a empresa da família, mas se eu falar que o assunto “empresa” não aparece no almoço de domingo eu seria um grande mentiroso.

Por falar em família, a sua prima pela discrição. Além do trabalho, o que você gosta de fazer? Como relaxa?
Gosto muito de acompanhar meu time de coração, o Galo, jogar tênis e estar com minha família.

Vocês continuam seguindo as recomendações da sua mãe no comando da Luiza Barcelos?
Sempre! 
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