Jornal Estado de Minas

Arte na joia

Apenas o essencial

Bracelete Clarão - Foto: Amanda De Nardi/Divulgação

Há pelo menos três motivos para dizer que Amanda De Nardi quer mudar o mercado de joalheria. Primeiro, a designer faz um trabalho que aproxima a joia da arte. Depois, defende o uso do diamante de laboratório, que é uma inovação. Agora, ela inaugura o conceito de joalheria on-line. Já era um plano antes da pandemia, mas que nestes tempos ganha mais força. Na loja virtual, em vez de fotos das peças prontas, a venda ocorre através de um desenho. Basta um clique para ele se transformar em joia.
 
Anel Tocha - Foto: Frank Bittencourt/Divulgação 
 
Desde o início do ano, a designer de joias, cuja marca leva seu nome, parou tudo para pensar em uma forma diferente de se colocar no mercado. “A minha joia é artesanal, a prata tem um custo alto e fazer estoque se torna mais desafiador para uma empresa pequena.
Estava em busca de um modelo de negócio que fizesse mais sentido, com menos estoque, minimizando os riscos, conversando mais com os clientes”, conta Amanda, que cresceu em Foz do Iguaçu, estudou em Curitiba e mora há seis anos em BH.
 
Brinco Chispa - Foto: Frank Bittencourt/Divulgação 
 
A estratégia é vender as peças através de desenhos, que ficam disponíveis na loja virtual. Dessa maneira, a produção começa apenas quando o cliente confirma a compra. “Quero mudar a lógica. Não faz mais sentido investir numa coleção inteira antes de começar a vender”, pontua. A peça de estreia da joalheria on-line é uma leitura mais contemporânea do anel solitário, feito com diamante de laboratório.
 
Anel Prisma - Foto: Frank Bittencourt/Divulgação 
 
As joias são responsáveis pela mudança de vida de Amanda. Formada em administração, ela não se sentia realizada no trabalho. Por vezes, sentada no escritório, olhava para cima e se perguntava o que estava fazendo ali.
Foi quando migrou para o design e logo emendou o curso de ourivesaria. “Viver o que não queria deixou claro o que queria. Quando fui para a joalheria, já estava bem certa. Inclusive, isso aconteceu agora de novo. Pandemia, ouro caríssimo, fiquei repensando o meu trabalho, mas já tomei minha decisão lá atrás. Vou até o fim, ou enquanto der”, garante.
 
Brinco Liga - Foto: Vinicius Mochizuki/Divulgação 
 
Ainda sobre escolhas, Amanda escolheu trabalhar o essencial na joalheria. Num processo intuitivo, ela busca o estado essencial da joia em relação a formas e cores. O que isso significa? Só vai cravar uma pedra se for essencial.
Mais, usa a lapidação para valorizar o que tem em mãos. “Lembro-me de que, desde o início, tinha vontade de usar pedras brasileiras e sempre pensava o que deveria fazer para o material ficar mais interessante, subir de categoria, sair de onde estava.”
 
A busca pelo essencial também influencia a montagem das peças. Vamos usar como exemplo o bracelete Prismas. Depois de muitos testes, a designer conseguiu o que queria: quando você olha para a peça no braço, numa visão de cima, enxerga apenas as duas pedras que a compõem (ametista lavanda, quartzo amarelo ou quartzo verde). “Não queria que tivesse nenhum elemento de distração. As pedras são tão lindas, suas cores e formas, que se bastam”, justifica.
 
 
 
O trabalho tem outra característica que o diferencia: leva elementos do universo artístico para a joia comercial. Amanda admite que não é fácil, há conflitos internos. Às vezes, ela tem vontade de se aproximar mais da arte, mas não pode correr o risco de não vender.
 
A coleção Este é o lenço, nome de um poema de Cecília Meireles, prova que o equilíbrio existe. “Na poesia, ela fala como o lenço era um símbolo das emoções que as pessoas carregavam. Inspirada nisso, fiz peças no formato de mãozinhas carregando um lenço de seda”, descreve.
As mãos, de prata estão disponíveis em três banhos (ouro amarelo, ródio e ródio negro), em referência a diferentes tons de pele, e podem ser combinadas com lenços de várias cores.

HEMATITA Amanda gosta de trabalhar com pedras brasileiras, principalmente a hematita, que considera uma preciosidade. Usa também, com frequência, o cristal. Outro material que abraça é o diamante de laboratório, fabricado nos Estados Unidos. “Ele tem as mesmas propriedades físicas e óticas e a mesma composição química do natural. Ambos são feitos de carbono. A única diferença é que, em vez de vir da natureza, é feito em laboratório”, informa.
 
Na opinião dela, o diamante de laboratório tem vantagens em relação ao natural, entre elas a qualidade da cor, sustentabilidade e preço (ele custa cerca de 40% menos e tende a ficar mais barato com o aumento da demanda). “Está cada vez mais difícil extrair o diamante natural, então precisamos de um substituto. O diamante de laboratório permite que a joalheria seja mais democrática e a joia continua a ser um produto eterno”, opina. Amanda acredita que o natural será encarado como peça de arte.
 
A marca aposta também na prata. A designer já trabalhava pouco com ouro e agora, com os preços nas alturas, aproveita para reforçar a ideia de que a prata é um material nobre.
“As pessoas estão acostumadas a associar a prata a peças de baixo custo, muito simples, com design muito comum, por isso existe a percepção de que ela não tem valor”, aponta. Mas a prata está entre os três metais mais nobres, ao lado do ouro e do paládio, pouco usado no Brasil.
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