Jornal Estado de Minas

Arte Final

Racismo e preconceito ainda são fortes na publicidade brasileira


 
O Dia da Consciência Negra foi comemorado na última quarta-feira com uma série de eventos e alguns belos comércios veiculados nas principais mídias. Mas, apesar do esforço de algumas marcas e da evolução do mercado publicitário no reconhecimento de 56,10% (dados do IBGE) de negros na população brasileira, pesquisa da Oldversity, divulgado pelo Grupo Chroma, mostra que a publicidade brasileira ainda é racista. O estudo ouviu quase duas mil pessoas de todas regiões do país com perfil ABC, 16 anos ou mais e apontou que 37% dos entrevistados acreditam que a publicidade brasileira seja racista. 
 
Orientação sexual diversa, origem étnica variada e pessoas deficientes foram contempladas no levantamento online. Segundo 70% dos entrevistados, as propagandas ainda não são genuínas quando abordam temas como diversidade e longevidade, e 72% dizem que os pontos de venda dessas empresas não estão preparados para lidar com um público mais diversificado ou mais velho. Para 32% dos pesquisados, as marcas brasileiras ainda reproduzem comportamentos preconceituosos.

RECONHECIMENTO No entanto, quando as empresas passam a ter atitudes mais positivas nesse sentido, a receptividade à marca tende a aumentar: 56% admiram mais as empresas que se posicionam claramente sobre diversidade, e 52% passam a considerar os produtos dessas companhias em futuras compras. Entre o público negro, 53% afirmam que as propagandas não refletem a sua realidade. Também segundo essa mesma base, o atendimento das empresas é preconceituoso, segundo 29% dos ouvidos. 

MARCAS As mais lembradas pelos entrevistados também foram avaliadas. O estudo pediu que os entrevistados considerassem empresas que pensam, preocupam-se, promovem e defendem assuntos conectados a assuntos como orientação sexual, gênero, raça e pessoas com deficiência.
Nesse sentido, entre as pessoas que citaram alguma marca, as de maior destaque foram O Boticário (16%), Natura (12%), Avon (7%), Samsung (6%), Coca-Cola (5%), Globo (5%), Nestlé (3%), Itaú (3%), Google (2%) e Johnson & Johnson (2%). Apesar disso, 47% dos 1.814 entrevistados não citaram nenhuma marca.
 
No ano passado, O Boticário sofreu críticas quando lançou campanha para o Dia dos Pais usando família negra como protagonistas. A marca foi bombardeada porque o comercial retratava uma família negra festejando a data, com o pai recebendo presente da marca dos filhos. Apesar da pressão e das ameaças dos consumidores de abandonarem a marca, O Boticário manteve seu posicionamento e acabou vencendo o preconceito e, com isso, ganhou reforço na postura de engajamento social e cresceu no conceito de ser uma empresa preparada para lidar com a diversidade, como mostra a própria pesquisa .
 
Já no estudo Todxs, realizado a cada seis meses pela agência Heads em parceria com a ONU Mulheres, foram monitorados mais de dois mil comerciais nos canais de TV de maior audiência no país. Constatou-se que houve evolução e que as marcas estão investindo mais na presença de negros em suas mensagens comerciais. A participação de atoras negras como protagonistas nos comerciais saltou de 4% para 25%. Porém, entre os homens, a participação saiu de 1% para apenas 13%, sendo que a maioria continua sendo de negros como coadjuvantes nas propagandas. 
Não resta dúvida de que a discussão continua causando impacto.
Mas, ao que parece, os resultados ainda estão chegando de forma muita lenta. 
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