Jornal Estado de Minas

Desfile destaca novos usos de tecidos produzidos pela indústria mineira

- Foto: Danilo Grimaldi/Fotosite

 

Só de mudar a perspectiva um produto se transforma. Foi o que ocorreu com os tecidos da indústria têxtil depois do desfile no Minas Trend. Em parceria com o Senai Modatec, seis empresas do setor mostraram na passarela que a matéria-prima mineira pode ser usada na moda de várias formas diferentes. A chita virou um elegante conjunto de alfaiataria, teve tecido para roupa de cama transformado em short e colete estampado e jeans ganhou brilho e transparência em vestidos de festa.

 

- Foto: Danilo Grimaldi/Fotosite 

 

Por ser a base de todos os tecidos selecionados para o desfile, o algodão apareceu do início ao fim. Jeans, sarja, chita, tricoline, todos eram 100% algodão. “A proposta era enfatizar a importância do algodão, um tecido de fibra natural, que é muito versátil, e mostrar que conseguimos trabalhar com ele de várias formas, desde peças mais fluidas até as mais justas ao corpo”, informa a estilista do Senai Modatec Amanda Leão, que assinou todas as peças do desfile.

 

O primeiro look, calça e blusa de sarja estampada, remete ao conforto do algodão, já que o conjunto tem cara de pijama. A estilista também optou por expor as costuras para dar a ideia de algo inacabado. “Nem sempre uma peça com acabamento todo fino, impecável, faz a diferença.

Podemos trabalhar com acabamento a fio, remetendo ao artesanal”, aponta. Broche feito com algodão in natura e cordão de macramê na cintura complementavam o look.

 

- Foto: Danilo Grimaldi/Fotosite 

 

O desfile trouxe um novo olhar para a chita, que sempre ficou à margem na moda. A estilista do Senai Modatec a utilizou do lado avesso, suavizando as cores da estampa floral, e foi além ao desenvolver um conjunto de alfaiataria com modelagem clássica. A calça e o blazer tinham bordados de pedraria seguindo o contorno das flores. “São peças que podem transitar do casual para festa”, diz Amanda.

 

Com 130 anos de mercado, a Fabril Mascarenhas é a principal fabricante de chita do Brasil. De uns tempos para cá, ela conseguiu modernizar o tecido. “Originalmente eram estampas muito simplórias, sempre com as mesmas cores, mas a nossa designer Luiza Chiodi começou a trazer flores mais trabalhadas.

Ela pinta em telas primeiro e depois passa para as estampas”, conta Júlia Mascarenhas, da quinta geração da família que comanda a indústria.

 

- Foto: Danilo Grimaldi/Fotosite 

 

Além da chita, a Fabril forneceu para o desfile a sua linha de tecidos para cama. O cretone off white com estampa floral se transformou em um conjunto de short, top e colete, que ganhou bordados e aplicação de franjas. Já o que tem desenhos geométricos surgiu na passarela em forma de calça e top combinado com uma camisa de organza. “Este tipo de ação é muito importante para que os estilistas conheçam os nossos produtos. O desfile mostrou que um tecido para cama tem caimento e pode ser trabalhado na moda”, observa Júlia.

 

- Foto: Danilo Grimaldi/Fotosite 

 

O jeans surgiu glamouroso em vestidos de festa. Amanda queria mostrar que o tecido não precisa ficar restrito ao street- wear, e conseguiu. Dois modelos longos foram feitos com tiras de jeans cortadas manualmente e combinadas com tule, revelando uma leve transparência. Para complementar, bordados com brilho em toda a extensão do acabamento.

 

- Foto: Danilo Grimaldi/Fotosite 

 

A estilista também criou um vestido mídi com cintura marcada e saia mais ampla.

Cortes a laser em fundo de tule faziam referência aos tradicionais bordados da moda mineira. Ao mesmo tempo, o desfiado intencional do jeans ajudou a deixar a peça com cara mais moderna. Com uma proposta mais sensual, o conjunto de body e saia é ajustado ao corpo e tem muita transparência. “Fizemos um trabalho com tiras franzidas de jeans para criar bordados em formas orgânicas e deixamos desfiado, por isso aparecem fios brancos por cima. O cinto bordado enriquece a peça”, detalha.

 

ALTA-COSTURA Alguns dos jeans mostrados eram da Cedro Têxtil. Até mesmo o estilista da indústria, Eduardo Paixão, ficou surpreso com o resultado. “Normalmente, pensamos em calça, saia, jaqueta, mas vimos na passarela peças muito bem elaboradas, com viés de alta-costura. Fiquei impactado e sem acreditar, inclusive, que era o nosso tecido. Deu uma cara completamente inusitada a ele.”

 

A fábrica com mais de 140 anos foi representada pelo jeans com fibra de poliéster reciclável de garrafa pet e pelo jeans elástico (com tecnologia associada ao elastano, que evita deformação, ou seja, no fim do dia ele continua exatamente com o mesmo formato).

 

O desfile ainda mostrou uma alfaiataria esportiva que explora ao máximo a ideia de reaproveitamento da roupa. No caso do conjunto de calça e blusa off white, as mangas da blusa, com a parte interna toda bordada, podem ser retiradas e se transformam em uma bolsa.

Desta forma, a parte de cima vira colete. O conjunto de trench coat e calça laranjas também pode assumir uma nova configuração. Basta abrir todo o zíper do casaco, na altura da cintura, que ele se desdobra em duas peças: uma jaqueta e um lenço (que é a parte de baixo virada do avesso).

 

 

 

Apoio para a indústria
O Senai Modatec atua em várias frentes como propulsor da indústria da moda. A equipe de profissionais presta serviços de desenvolvimento de coleção, modelagem e pilotagem, com no caso do desfile da Passarela Têxtil. “Esta foi uma demanda da indústria têxtil, que queria mostrar seus produtos de uma forma atrativa no Minas Trend”, explica o supervisor técnico Daniel Maciel. Os técnicos também podem trabalhar com consultorias para as empresas.

 

Já na parte de ensino, a instituição oferece cursos de qualificação profissional em costura e modelagem, cursos de aperfeiçoamento (as novidades são pilotagem e alfaiataria) e cursos técnicos em vestuário e modelagem do vestuário.

 

Atualmente, há cerca de 700 inscritos nos cursos do Senai Modatec, que fica no Horto. A escola recebe desde quem nunca costurou até os mais experientes, passando pelos estudantes de moda que querem aprender algo mais técnico. “Os nossos cursos são um complemento interessante para a graduação. Quando se formar, o aluno vai ser reconhecido pela capacidade criativa e de gestão que a universidade proporciona e pela parte prática também”, destaca Daniel. 

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