Equilíbrio é a palavra que define o projeto de Cássio Gontijo para esta casa localizada no Condomínio Vila Castela, em Nova Lima. Cercada pelo verde e pelas montanhas mineiras, ela se ergue em três níveis, abrangendo 950 metros quadrados de área construída e tirando partido do declive do terreno. Na parte mais baixa fica a ampla área externa, cujo ponto forte, além das varandas acolhedoras e das piscinas, é o paisagismo assinado por Lídeo Ramos Filho.
A residência foi alvo de uma reforma completa: o arquiteto e decorador manteve apenas a inclinação do telhado original, repaginando todas as fachadas da residência com resultado novo e contemporâneo. O proprietário, um colecionar de arte, apresentou demandas importantes, entre elas que ele explorasse ao máximo as paredes de forma que elas abrigassem as peças de sua coleção e as novas obras a serem adquiridas. No exterior, solicitou um anexo para churrasqueira e uma área de convivência para receber os amigos.
Lançando mão de materiais nobres – mármores, granitos, espelhos e vidros –, Cássio brincou com o preto e vermelho sem comprometer a leveza, que é enfatizada em vários momentos do projeto. E o dourado, elemento recorrente na decoração dos interiores, particularmente no mobiliário, não pesa nem compromete o clima delicado e, ao mesmo tempo sofisticado, do trabalho.
Fibras naturais também contribuem para acentuar essa atmosfera, comprovando que matérias-primas e cores misturadas com sabedoria permitem que os espaços respirem com personalidade. Além das obras de arte, peças de antiquário se destacam na composição dos ambientes, entre elas as com simbologia religiosa.
Toda área social se beneficia do verde da paisagem em volta. A começar pelo living, que reúne sofá e poltronas contemporâneas e cadeira de estilo com acabamento dourado. A sala recebeu um painel de frejó ebanizado ao fundo, no qual a peça principal é uma escultura de Ascânio MM.
A bancada horizontal no mesmo material e contígua à parede exibe coleção de oratórios lapinha, escultura em mármore de carrara de Sônia Ebling e tocheiros antigos. Nas mesas laterais em vidro, duas preciosidades: abajures art déco em alabastro enriquecem o espaço. Entre as antiguidades, sobressaem o par de colunas sacras e a imagem de São Francisco, peça do século 18, de origem portuguesa, em evidência no pedestal de vidro e encimada por uma talha dourada. O piano carrega um belo exemplar de vaso sangue de boi, também do século 18.
Jantar
O lustre em murano vermelho é uma das atrações da sala de jantar, que vem com mesa em vidro preto acompanhada por cadeiras de estilo em madeira estofadas com veludo no mesmo tom. No escritório, o vermelho nas paredes e o piso em granito preto absoluto contrastam criando uma atmosfera dramática evidenciada pelo biombo e pela coleção de peças azuis chinesas. O mobiliário é composto por réplica de mesa antiga com desenhos dourados, tampo em couro e cadeiras de estilo em veludo.
Para dar suporte à área externa, Cássio propôs um espaço gourmet. As paredes principais foram revestidas em madeira – o que funciona também como revestimento acústico – e o espaço ganhou bar em granito preto absoluto. Sob a mesa em madeira maciça caem dois lustres gigantes e cadeiras giratórias acompanham. O local comporta outra conversação formada por quatro poltronas e uma mesa de centro rústica construída com tronco de árvore.
Uma bancada sob o telão mostra esculturas africanas e caixa com pássaros de Jefferson Lourenço, além de par de esculturas africanas: o proprietário da casa também coleciona arte popular. A tela mais importante é assinada por José Bechara. Um dos locais mais charmosos da casa é a varanda contígua a essa sala, cujas poltronas em fibra natural convivem com colunas antigas da Indonésia.
Intimidade
Na área íntima, predomina a mesma atmosfera de sofisticação. Na suíte máster, o painel de frejó ebanizado sustenta as estantes e a bancada, contrastando com tons claros presentes na cabeceira capitonada da cama e na chaise, ambas com acabamento em dourado.
O grande espelho ao fundo é valorizado por paisagem chinesa, panô trabalhado em folha de ouro. Os criados também têm as frentes revestidas de espelho e exibem abajures simétricos. A suíte acomoda ainda uma área composta por mesa e cadeiras antigas chinesas em bambu. O toque da arte fica por conta de um torso de Sônia Ebling, da tela de Franz Krajcberg e da escultura de Ascânio MM. A sala de banho e o closet ganharam mármore crema marfil no piso e bancada, e as paredes receberam revestimento em mármore travertino romano bruto.
No outro quarto, a cama vem com dossel e misturas de off white e branco. Os pontos altos são a papeleira francesa e o delicado lustre em cristal. O dos hóspedes tem camas gêmeas e cabeceiras em pa- lhinha. Já o quarto dormitório é bem contemporâneo e marcado pelo cinza. Aqui também o arquiteto utiliza o espelho como solução, cria um painel em laca preto brilhante à guisa de cabeceira e, acima, um nicho para prateleiras.
Na cozinha, repete-se o contraste do granito preto são gabriel com a bancada e mesa em corian vermelho. Cadeiras em fibras naturais aquecem o espaço e o toque inusitado fica por conta do relógio de fazenda datado do século 19.