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Estado de Minas ENTREVISTA/ DANIELLE CRUZ - 48 ANOS, EMPRESáRIA

Talento, dedicação e foco

Artesã desde a pré-adolescência, comemora 25 anos de loja com exportação


postado em 25/08/2019 04:00 / atualizado em 21/08/2019 15:57

(foto: Jair Amral/EM/D.A Press)
(foto: Jair Amral/EM/D.A Press)


Filha de artesãos, Danielle começou a ajudar os pais aos 12 anos e não parou mais. Sempre trabalhou com artesanato e hoje, casada, mãe de dois filhos, sua loja de produtos para artesanato de diversos tipos na Galeria do Ouvidor, a Arte Fácil, completa 25 anos. A empresária possui ainda uma fábrica de madeira cortada a laser, produz papel para scrapbook, coordena vários cursos ministrados pela loja e tem um canal no YouTube através do qual ensina trabalhos manuais. E mais, é pastora da Central Boulevard, uma das unidades da Igreja Batista Central de Belo Horizonte, onde é responsável por cuidar de cerca de 600 mulheres. Com tudo isso, consegue dividir o seu tempo, de forma extremamente organizada, para se dedicar com afinco à família, às empresas e à igreja, e ainda consegue ter momentos diários de leitura e tem tempo para escrever textos e viajar, dois grandes prazeres.
 
Fale um pouco da sua família.
Somos de Belo Horizonte mesmo, sou a penúltima filha de cinco. Meu pai, Luiz Agnelo França, era executivo da IBM e por causa de seu trabalho nos mudamos para o Rio de Janeiro, quando eu era bem pequena. Quando eu tinha 7 anos fomos para Barbacena, e lá ficamos muitos anos.

Quando foi a mudança de vida?
Quando eu tinha uns 10 anos. Meu pai largou a carreira por causa do estresse e abriu uma loja de artesanato. Minha mãe, Marilene França, começou a fazer curso de artesanato, fazia santos barrocos em gesso e vendia muito bem. Do gesso passou a trabalhar também com madeira e depois com cerâmica branca. Aí meu pai abriu uma marcenaria, virou marceneiro mesmo. Hoje, meus pais moram em São Paulo e têm marcenaria de peças de artesanato.

Você aprendeu a fazer artesanato com sua mãe?
Sim, aos 12 anos comecei a trabalhar na loja, por sinal, a família toda trabalhava lá, somos só mulheres. Fazíamos as peças, mas também atendíamos os clientes. Aprendi assim, de uma forma muito natural e muito cedo, e acredito que o artesanato entrou no sangue e virou profissão.

Todas a família trabalha na área?
Das cinco filhas, três vivem de artesanato, duas saíram do ofício, “negaram a raça”. Uma é contadora e a outra é médica.

Quando veio para Belo Horizonte?
Mudei para cá aos 20 anos, para estudar. Fiz faculdade de administração, mas não concluí, não gostava do curso e preferi abrir meu negócio.

Como começou seu trabalho na capital?
Sempre participávamos da Feira Nacional de Artesanato e uma distribuidora da Europa viu nossos produtos e passou a comprar da gente. Por conta dessa exportação, passei a trabalhar com isso aqui em Belo Horizonte, exportando as peças em gesso. Depois que larguei a faculdade, abri a loja de produtos para artesanato, a Arte Fácil, que na época era na Rua Tamoios, e vendia o que exportávamos, peças em gesso. Depois de cinco anos, passamos a exportar peças em cerâmica branca, que tinha virado febre. Acredito que as pessoas que viveram aquela época se lembrem dos trios de patos, os cozinheiros, pinguins. Exportamos muito para a Europa.

A loja tem quantos anos?
Estamos completando 25 anos de loja.

Você abriu a loja sozinha, na cara e na coragem?
Sozinha. Depois, meu noivo, Lauro, com quem me casei mais tarde, entrou de sócio. Passei a dar cursos de pintura em gesso e cerâmica. Afinal, sabia fazer isso com o pé nas costas, pois era minha função desde os 12 anos.
 
Quando foi para a Galeria do Ouvidor?
Depois de cinco anos de loja fomos para a Galeria. Ocupávamos uma salinha de porta de madeira, no terceiro andar, de seis metros quadrados. Fomos uma das primeiras a ocupar este piso. A partir daí, começamos a diversificar e introduzimos a madeira, o biscuit, sabonete, vela, material para festas. E à medida que aumentávamos os produtos, fomos pegando as lojas do lado e quebrando paredes. Hoje, da pequena salinha já ocupamos um espaço do tamanho de nove salas.

Como descobriu todas essas novidades que introduziu aqui?
Sempre viajei muito atrás de novidade. Hoje não trabalhamos mais com gesso e nem com cerâmica branca. A moda passou, os interesses também e temos que acompanhar a tendência e a demanda. O produto foi mudando a partir da demanda.

As pessoas não querem mais pintar porcelana?
Algumas sim. Ainda existem alguns ateliês de porcelana mas são muito poucos. Particularmente, amo o trabalho, acho lindo, para falar a verdade, maravilhoso, mas não se usa muito mais. Saiu de moda, ficou muito raro, caiu muito a procura, então paramos de trabalhar com os produtos para esse tipo de trabalho. O mesmo ocorreu com o gesso.

Você fez cursos para aprender as técnicas desses diversos artesanatos?
Não, posso dizer que sou autodidata. Amo artesanato, gosto muito de fazer de tudo, e como faço desde criança, peguei o jeito e tenho facilidade de fazer. Acredito que é aptidão, uma aptidão que foi criada e gerada em nós pela necessidade. Trabalhamos isso em nós e desenvolvemos uma capacidade diferenciada, olho uma peça e consigo ver como ela será. Viajo muito, vou a todas as feiras de artesanato, nacionais e internacionais. Para uma ou outra coisa aí sim faço um curso, mas acho que tenho o dom.

A Arte Fácil dá cursos de todos os tipos de artesanato?
Hoje, oferecemos 32 cursos, mas teve época em que nossa grade oferecia 45 cursos diferentes. Ensinamos scrapbook, artesanato em madeira, biscuit, sabonete, vela, pintura em palet, resina, pintura em tecido, boneca de pano, feltro, E.V.A. E para todas eles temos os níveis básico e avançado.

Em qual espaço?
Temos salas de aula no mezanino das lojas.

Vocês abriram mais uma loja?
Sim, em frente da mais antiga. Essa é especializada em tecidos para patchwork, bonecas de pano, quilting, quiling.

E a fábrica?
Temos uma fábrica de madeira com corte a laser, e também fazemos os nossos papéis de scrapbook. Fruto de demanda dos clientes que sempre procuravam produtos que não encontrávamos no mercado para disponibilizar na loja. Passamos a produzir e distribuímos para lojistas de todo o país. Estamos começando a exportar e já estamos abrindo uma distribuidora em Portugal.

Tem filhos?
Sim, um casal – uma menina de 15 anos, Letícia, e o Gabriel, de 18. Nenhum deles trabalha com artesanato e não pensam em seguir com a empresa, e queremos que eles estudem primeiro. Gabriel faz relações exteriores, e Letícia quer fazer psicologia. Meu marido, Lauro, saiu da empresa há cinco anos porque se tornou pastor em tempo integral.

Você fazia um programa na televisão onde ensinava artesanato. Acabou?
Tinha sim. Era um programa de artesanato, na Rede Super, chamava-se Hora de arte, e eu dava o passo a passo dos trabalhos. Recebi este convite e aceitei, era semanal, mas chegou uma hora em que não conseguia mais conciliar com minhas atividades e tive que abrir mão. Depois que acabou o programa, criei o canal no YouTube e colocamos filmes pequenos, com trabalhos artesanais, semanalmente.

Fale um pouco do trabalho na igreja.
Converti-me aos 20 anos, na Igreja Metodista, onde conheci o Lauro, ele era filho do pastor, e continuamos a servir na obra de Deus. Isso passou a ser prioridade na nossa vida. Depois de um tempo, passamos para a Igreja Batista Central de Belo Horizonte. Quando a Central abriu a unidade em Santa Efigênia – Central Boulevard – , fomos para lá com o pastor Magid. Hoje, cuido das mulheres de lá e é um grande desafio.
 
Como consegue fazer tanta coisa?
Sou muito focada. O pouco tempo que tenho estou focada. E a cabeça a mil. Cabeça de mulher não para. Quando somos apaixonadas com o que fazemos, fazemos com alegria e conseguimos administrar o tempo. Amo trabalhar com artesanato e amo trabalhar para Deus; então, me dá alegria.

Já fez trabalho de artesanato fora da loja?
Tinha um ateliê e fazia decoração de quarto de bebê. Chegou um momento em que não estava dando mais tempo, e precisei focar no que era imprescindível eu estar presente. Precisei também abrir mão de dar aula nos cursos da loja, atividade que também me dava muito prazer. Atualmente, só crio, mas não tenho como produzir em grande escala. Temos que colocar o foco, não dá para abraçar o mundo com as mãos.

Tem algum sonho que ainda quer realizar?
Posso confessar que estou sem eles? Estou chegando aos 50. Estou satisfeita, sem ambição. Já recebi proposta de franquia, mas não quero. Tenho certeza de que seria um sucesso abrir novas lojas em franquia, mas quero tranquilidade. Não estou preocupada em crescer financeiramente, já estou feliz com o que tenho, por sinal, não esperava ganhar tanto. A Arte Fácil está consolidada. Posso me acomodar. Tenho o galpão, a fábrica, as lojas. Grandes sonhos para o futuro eu não tenho, porque Deus tem realizado todos eles aqui, agora.

O que gosta de fazer como lazer?
Gosto muito de ler. Não assisto à televisão, acho que estou perdendo tempo, então sempre prefiro ler um livro. Se sentei duas ou três vezes na frente de uma televisão, foi muito, nem sei ligar a TV da minha casa, é uma vergonha. No meu tempo vago gosto de escrever. Amo viajar, conhecer lugares novos. Sempre viajamos em família e vamos para lugares diferentes. Não temos casa na praia para poder variar sempre. Umas das viagens inesquecíveis foi para Israel com o grupo da igreja.

Que tempo vago? Como consegue administrar seu tempo?
Acordo diariamente às 6h. Não perco tempo. De manhã cedo leio a Bíblia e escrevo uma devocional que transmito para mais de 600 mulheres da igreja pelo WhatsApp. Tenho rede social – só Instagram –, mas não fico horas nela. Perdemos tempo com coisas muito desnecessárias. Temos que tomar muito cuidado com o tempo. Temos que ter tempo de qualidade com os filhos, com a família. Esse é um dos segredos. Cuidado com o tempo. Temos que ter foco. 


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