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Muito tule, bordados e pés no chão

Semana de moda em Paris mostra muito luxo, muito bordado e modelagens que serão copiadas por vários estilistas


postado em 07/07/2019 04:06

Alexis Mabille(foto: afp/getty imagens)
Alexis Mabille (foto: afp/getty imagens)


Anna Marina

Paris viveu na última semana um dos mais importantes acontecimentos do país: a Semana de Alta-Costura. Instituição mais famosa e promocional do que qualquer um de seus programas turísticos e comidas famosas. Curiosamente, o termo haute couture não nasceu de um francês, mas do costureiro inglês Charles Frederick Worth, que, em 1858, realizou em sua maison o primeiro desfile de modas cujas características continuam mantidas até hoje. Em lugar de cabides, para mostrar suas criações ele usou modelos, e desde então o termo goza de proteção jurídica, mas é usado em todos os países onde costureiros produzem vestuários dessa qualificação. Apesar de a freguesia ter encolhido nos últimos anos, o sistema de trabalho continua o mesmo. Uma vez desfilada, a roupa torna-se única, é reproduzida sob medida, quase sempre a mão, mesmo depois do progresso do maquinário usado pela moda, prêt-à-porter, por exemplo. A novidade que se renova a cada ano, é que as apresentações não estão usando as tradicionais passarelas.
Atualmente, o seleto grupo é composto por 34 grifes (entre outras, Christian Dior, Chanel, Elie Saab, Givenenchy e Valentino). Na época da Segunda Guerra Mundial, criou-se uma série de exigências para preservar a alta-costura na França, porque Hitler queria que ela migrasse para a Alemanha. Nessa época, para fazer parte do clã, não bastava fazer roupas sob medida e ter a empresa sediada em Paris, era preciso que o ateliê se localizasse no Triângulo de Ouro (três avenidas luxuosas de Paris) e em prédio próprio, apresentando 20 funcionários no ateliê e 50 looks por temporada. E isso durou até 2001. Hoje, o número de funcionários e looks é secundário, mas o luxo e exclusividade se mantêm.
Em priscas eras, o único nome brasileiro que participou desse time foi o mineiro Gustavo Lins, que não aguentou o rojão e preferiu voltar ao início de sua carreira, fazendo moda sem tanta complicação. Esse segmento de luxo é para pouca gente. Conforme o nome do estilista, um vestido pode custar tranquilamente 300 mil dólares e os convidados para esse tipo de apresentação que atualmente rola em Paris são apenas 200 nomes, selecionados entre os mais ricos do mundo (atualmente, esposas de reis e xeques do Oriente Médio e Àsia) além de empresários. A curiosidade de tudo isso é que a alta-costura é uma vitrine de marcas e não sobrevive do que produz, pois os clientes são poucos. O que os nomes mais famosos do setor fazem é desdobrar sua grife em acessórios, perfumes, maquilagens, calçados e também nas coleções de prêt-a-porter.
O mais próximo que já tivemos da haute couture foram dois estilistas: Guilherme Guimarães e Denner. O primeiro, o preferido das cariocas, o segundo das paulistas. Mas no fim dos anos 50 e até meados de 70, duas lojas categorizadas levavam com garbo as coleções que atraíam as milionárias. A Casa Canadá, no Rio, e a Vogue, em São Paulo, repetiam aqui, em cima das temporadas, o que era lançado em Paris. O truque tornou-se, aos poucos, conhecido nas altas rodas, apesar do segredo com que era cercado. As duas superlojas importavam de Paris não só modelos como telas, e copiavam aqui as criações que eram vendidas a preços bem mais atraentes do que os de Paris, onde um vestido disputado podia custar o mesmo que um apartamento. Naqueles anos, quando o hight society nacional tomava forma, se distinguia, criava grupos privilegiados, vestir-se na última moda era uma necessidade. E como sempre existiu uma diferença entre o poder financeiro e a exibição das madames, nos acontecimentos sociais, não era raro acontecer de uma delas, a mais famosa e focalizada, usar um desses modelos cópia, emprestado, que depois era devolvido para a Vogue ou Canadá. A figura era sempre conhecida e fazia parte do que se transformou numa religião social: o grupo das 10 mais bem vestidas do país.
O lançamento de coleções da alta-costura na França segue o sinal dos tempos: além das grifes consagradas, estando seus criadores mortos ou não (como Chanel, Yves Saint-Laurent, Dior e outros) aparecem também estilistas convidados, que chegam trazendo uma visão nova de estilo. O que evidencia, por essa nova postura de flexibilidade, que a alta-costura é um mercado em crescimento. Pelo menos é o que explica Ralph Toledano, presidente da Federação da Alta-Costura e da Câmara Sindical da Alta-Costura, órgão responsável por promover a modalidade: “A alta-costura sempre foi, e continua a ser, um lugar de livre expressão para os designers, em que a criatividade une a tradição com a inovação”

Os donos do show A estreia do americano Daniel Roseberry, que durante 11 anos trabalhou na Thom Browne, à frente da direção criativa da Schiaparelli abriu em Paris os trabalhos da semana de alta-costura com uma coleção dividida em três partes: dia, noite e sonho, pois sua intenção é acompanhar as clientes em todas as etapas de seu cotidiano. E o “cotidiano” aqui tem todos os elementos couture ao mesmo tempo e maximizados: cristais, babados, volumes dramáticos, que se misturavam a silhuetas ajustadíssimas por espartilhos. Detalhe: Daniel passou o desfile todo na passarela, desenhando croquis num estúdio improvisado. O designer criou sua coleção mergulhado na herança da costureira italiana Elsa Schiaparelli.
Maria Grazia Chiuri, diretora artística da Dior, apresentou o desfile do outono-inverno na histórica sede da marca. Na apresentação dos modelos, a inspiração foram as cariátides gregas – figuras da Antiga Grécia. A estilista recriou o peplo, túnica feminina sem mangas, transformando-o em vestidos de noite brilhantes, assimétricos ou combinados com camisas de rede. Outros elementos presentes nas criações foram a água, o vento e o fogo. Um modelo preto, sino, tinha estampa com chamas em cobre pesado. Sensação foi o término do desfile, que em lugar da noiva tradicional mostrou uma reprodução dourada do prédio Dior, uma casa de bonecas usada como minivestido. A grife abandonou o salto stiletto e criou sandálias de solado tão fino que os pés ficam praticamente no chão
 
A holandesa Iris van Herpen testou os limites da moda e fez uma parceria com o artista americano Anthony Howe, criador de obras cinéticas. A estilista de formas arquitetônicas e alta tecnologia apresentou a coleção "Hipnose", uma série de esculturas oníricas e vestidos que parecem impossíveis de usar, mas que passariam sem esforço em qualquer tapete vermelho. Van Herpen trabalha com laser, principalmente a organza, que permite criar peças únicas com base em múltiplas capas e plissados, fazendo com que suas modelos evoquem misteriosas criaturas do fundo do mar. Dois looks superaram as expectativas do público no desfile. O primeiro era um vestido justo de algodão que abre como duas asas gigantescas com efeito moiré – de distorção –, composta de milhares de ondulações entrelaçadas. O segundo, chamado "Infinity dress", levou quatro meses de trabalho para ser feito e parece estar vivo: um vestido branco do qual sai uma armação composta de quatro bases cobertas de plumas que se movem de forma cíclica ao redor do corpo, fazendo nascer uma mulher-pássaro.
 
Peças comportadas ideais para uma tarde de estudos na biblioteca tomaram conta da passarela da Chanel, quando as modelos circularam ao redor de uma estante de livros enorme no segundo desfile de alta-costura da estilista Virginie Viard. Viard, colaboradora de longa data de Karl Lagerfel, ex-chefe de criação veterano da Chanel, assumiu as rédeas da marca de luxo após a morte do astro alemão da moda, aos 85 anos, em fevereiro. Em homenagem, o desfile foi marcado por um minuto de silêncio. O desfile Chanel foi marcado com a apresentação de peças únicas, como um tailleur malva com calças largas, saia rosa choque com ombros emplumados, e vestidos tomara que caia em tweed.
 
Ralph & Russo também buscarão inspiração na arte, no caso em Erté. A grife cria principalmente para jovens entre 18 e 25 anos, porque elas adoram não só novidade como recriar em cima de lançamentos. Usando os pepluns lançados como saias ou tops, os modelos de tweed combinados com minissaias. “As consumidoras querem recriar, e elas sempre poderão” diz Ralph.


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