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"Decoração ainda faz meu coração bater forte"

Veterana no mercado, a profissional é uma referência do setor e apresenta um invejável portfólio de projetos, que vão de residências à construtoras


postado em 30/06/2019 04:09

(foto: gladyson rodrigues/em/d. a press)
(foto: gladyson rodrigues/em/d. a press)



A história de Jacqueline Salomão se confunde com a trajetória da arquitetura de interiores de Belo Horizonte. Ela faz parte de uma turma privilegiada de profissionais que se tornaram referência para o setor. Nada mal para a moça de família simples, que correu atrás de um sonho. E que no início de carreira não se envergonhava em distribuir cartões pelas obras para divulgar
seu trabalho. Mais de 30 anos depois, o escritório de Jacqueline continua movimentado e ela mantém uma equipe afiada, que corre atrás da atualização e está sempre pronta para enfrentar os desafios do mercado. Melhor ainda: ao longo do tempo,
fidelizou clientes que não abrem mão dos seus serviços. Alegre e expansiva, conserva uma regra de ouro: a discrição, que gera confiabilidade. E não extrapola limites entre o pessoal e o profissional – se, segundo ela, com o decorrer do tempo, uma amizade se instala, ela será resultado de um processo natural.


Para completar, a decoradora é daquelas que pensam que cultura é fundamental e procura envolver seus clientes na aventura do saber, do conhecer para apreciar um processo que transforma as pessoas. “Estudar para mim sempre foi muito importante e me apoiei nisso para fazer diferença”, resume. Seu rico portfólio inclui residências, lojas, escritórios, construtoras, hotéis e área hospitalar.

 

 

Você faz parte da turma de decoradores que fez faculdade e contribuiu para implantar a profissão em BH. Como foi trilhar este caminho?
Os grandes decoradores, nessa época, eram poucos. A nossa profissão era para ricos e pessoas de alta sociedade. Embora o conhecimento sobre arte e o mundo dos museus fosse importantíssimos, não tínhamos acesso fácil a eles, nem a viagens internacionais e vivências de outras culturas. O importante era estudar, aproveitar as oportunidades, porque internet e celular só apareceram muito depois. Para mim, principalmente, que vim de uma família de classe média, que nunca havia viajado para fora do Brasil, o jeito foi comprar livros sobre museus, história das nações, de pintores, de escultores. Passei a ir também, com frequência, a exposições tanto em Minas quanto em São Paulo e Rio de Janeiro. Adquirir cultura. Como estar no mercado sem isso?

Você já trabalhava quando estudante?
Comecei, desde a faculdade, trabalhando em loja de mobiliário, primeiro como estagiária e fui até a gerência. Foi muito útil. Aprendi sobre madeira, tecidos, visitei fabricantes, tive oportunidade de montar vários leiautess e lidar com clientes. Sempre fui boa vendedora e convencia o cliente naquilo que conhecia e acreditava. Aprendi a argumentar.

E como você abriu seu escritório?
Das lojas fui convidada a participar de um escritório com duas sócias e nessa empresa estou até hoje. Maria Regina Bias Fortes, a Guide, minha sócia, foi importantíssima na minha vida profissional. Infelizmente, ela se foi cedo, em 1992, e até hoje sinto a sua falta.

Seu escritório é no mesmo lugar, sua secretária é a mesma há muitos anos. Os clientes também têm acompanhado você ao longo do tempo?
Conto com uma equipe muito afinada e comprometida. Assim como meus funcionários, alguns com mais de 20 anos de escritório, tenho muitos clientes que me acompanham. Eles me prestigiam sempre e eu participo do crescimento de cada um, tanto profissionalmente quanto na vida pessoal. Já cheguei a fazer 11 projetos para um mesmo cliente, entre residenciais e comerciais. Para outros, fiz seis. Para outros, quatro... afinal, é uma vida!
Por que resolveu cursar decoração?
Entrei nesse ramo por ter boa noção de espaço e bom gosto. Mas sabia que não bastava. Precisava estudar. Eu me formei na antiga Fuma – Fundação Universidade Mineira de Arte, hoje Uemg. Venho de família simples, nunca tinha tido contato com decorador. Mas eu cismei com isso e corri atrás, mesmo sabendo que era um mercado muito voltado para gente rica. E quem trabalhava para essas pessoas eram profissionais muito reconhecidos, como Ildeu Koscky, Elizabeth Valadares, Crisálida Boerger, Dante Lapertosa...

Foi difícil conseguir clientela no início? Como divulgava seu trabalho?
Para conseguir clientes, além de trabalhar para parentes e amigos, comecei distribuindo cartões de visitas em obras e lançando As Consultas de decoração, no Estado de Minas. Colocava pequenos anúncios na pagina da Anna Marina, no Caderno Feminino, que sempre esteve junto conosco desde o início desse mercado.

Você deve ter estagiários. O que
ensina a eles?
Alguns pensam que a vida é só glamour, eventos, coquetéis, mas o nosso dia a dia é obra, fornecedores, cobranças e lidar com mão de obra é um sufoco. Nem todos seguem o cronograma e, mesmo com uma equipe afinada, surgem problemas. Alguém já executou uma obra totalmente fácil e sem estresse? Tento passar para eles essa realidade. Para mim, até hoje, ir a um coquetel significa trabalho. Além do convívio social, quero ficar a par das novidades, dos lançamentos, do que envolve aquele evento.

Como avalia esta nova turma de profissionais que está chegando ao mercado guiada pelo advento da tecnologia?
O ritmo está mais rápido em todas as profissões. Com o advento da tecnologia, a facilidade de viajar, conhecer tudo, e o uso da internet colocaram o mercado mais ágil. Facilidades que antes não tínhamos, de saber das novidades em tempo real e de captar clientes pelo Instagram ou WhatsApp estão sendo usadas por essa nova geração de profissionais. E, por outro lado, os clientes também as utilizam para conhecer nossos projetos. Para nós, “os mais experientes”, fica, sim, mais difícil, pois não estamos antenados com tanta tecnologia... Mas esta é a tendência. Isso é bom e ruim. Pessoalmente, gosto de conversar com o cliente cara a cara, sentir suas necessidades, captar seus sentimentos sobre este momento tão importante que é falar sobre sua moradia, seu lar. E ir a uma exposição, a uma feira, como a de Milão, o fato de estar lá, de respirar arte, se emocionar com os cheiros, com as luzes, com as instalações, é muito diferente de ver tudo pela internet. Assim é para mim, a nossa profissão: além de muito trabalho, projetos, estudos e criatividade, tem a emoção que impera.

Você é de uma época em que havia mais eventos culturais ligados à decoração/arquitetura. Palestras presenciais com nomes importantes, congressos que reuniam os profissionais do setor...
Agora, a internet e as viagens nos proporcionam estar sempre atualizados. E temos grandes eventos, como mostras decorativas anuais, que, além de facilitar o encontro profissional/cliente, apresentam em seus ambientes o que há de mais atual em termos de lançamentos e de maneira muito adequada. Isso em todos os aspectos: iluminação, acabamentos, revestimentos, mobiliário etc. Por um período, participei da Amide – Associação Mineira de Decoradores de Nível Superior, que era responsável por esses eventos em Belo Horizonte. Fiz parte da equipe junto com a Laura Rabe e a Tânia Salles, levantando nossa bandeira com olhar crítico e profissional. A Amide sempre divulgou nossos trabalhos para todo o Brasil em congressos, fóruns, palestras e concursos.

Existe uma crença que a classe média pode ter acesso à decoração. Até que ponto isso é verdade?
Antes, o que era só requinte e glamour, virou necessidade, praticidade e qualidade de vida. Todas as classes sociais, dentro de suas limitações e possibilidades, querem morar bem. E já estamos fazendo isso. A decoração globalizou e existem produtos para todos.

Mas seus clientes são de uma classe mais abastada...
Felizmente, tive a oportunidade de penetrar em uma camada interessante, gente que tem mais poder aquisitivo. Vou contar uma história: quando estava estudando, conheci a casa de um empresário muito bem-sucedido, o Walduck Wanderley. Ele abriu sua casa impressionante para uma visita de estudantes. Confesso que nem era muito o estilo de que gosto, muito carregada. Mas pensei comigo, na ocasião: “Um dia vou ter um cliente como esse”. E, por incrível que pareça, o Walduck se tornou meu cliente fiel. Fiz vários projetos para ele no Rio de Janeiro, Búzios, Bahia, Miami, Belo Horizonte etc. Havia uma lenda de que ele não repetia trabalho com um mesmo decorador, mas comigo foi diferente. Fiz, inclusive, o escritório da Cowan, na Rua Timbiras, um apartamento, que ele tinha, acima, e sempre tivemos uma relação muito respeitosa.

Esses trabalhos renderam profissionalmente para você?
Os projetos me deram uma vivência muito grande de obra e fizeram com que meu nome deslanchasse e ganhasse respeito. Foram muito importantes sim. Já outros clientes chegaram por meio de participações em mostras, como a Casa Cor. Tive também a oportunidade de trabalhar com muitas construtoras importantes, como a Castor, Caparaó, Líder, Patrimar, fazendo especificações de prédios inteiros, halls, área externa, área gourmet, portaria. As pessoas que iam visitar os edifícios me viam lá, vinham conversar, e, às vezes, me contratavam. Os engenheiros indicavam...

Isto fez de você uma
profissional de elite?
Meu escritório atende a todas as classes, fazemos de tudo. Tive a sorte de entrar nessa classe social boa, mas sabe o que penso atualmente? Que quem precisa de decorador mesmo é a classe média, porque o rico já tem sua casa decorada ou acha que entende de decoração e ele mesmo vai comprando as coisas. Tenho um escritório movimentado e, ao contrário de muitos colegas, que já enxugaram os seus e trabalham com terceirizados, mantenho uma equipe atualizada e bem entrosada, desenhistas, arquitetas, para garantir a qualidade do trabalho e do atendimento. É claro que isso tem um custo. Outra coisa: o cliente, grande maioria, chega até mim por indicação. Alguém que viu um projeto, gostou, e quer que eu faça o dele.

Você deve ter contribuído para formar muita gente...
Encontro com muitas profissionais que me chamam até hoje de chefe. Algumas pedem minha opinião. Gosto de me cercar de gente mais nova. São pessoas que estão na busca, são afoitas, ao mesmo tempo tenho a experiência. E não sou de esconder nada, não tenho medo de concorrência, de ensinar e depois a pessoa ir embora, abrir seu próprio escritório. Penso que o que sei concretamente é meu, ninguém nunca vai saber o que já sei.

Por que você não participa
mais da Casa Cor?
Eles sempre convidam, mas acho que já queimei esta etapa. Isso já está bem resolvido para mim. E, quando você participa da exposição, os clientes reclamam que ficam abandonados. E é verdade. Acho que se você entra, tem que ser ativamente, tem que estar lá todos os dias, não pode deixar seu ambiente e ir cuidar da vida. No atual estágio, gosto de visitar a Casa Cor, levar um cliente para jantar, conhecer o trabalho dos profissionais. E só.

Quais foram ou são seus mentores no setor da decoração?
Aprecio muito as obras de Zaha Hadid, Oscar Niemeyer, Patricia Urquiola. Na decoração, admiro Sig Bergamin pela ousadia e Roberto Miggoto pela estética.

Qual seria a fórmula de decorar Jacqueline Salomão?
Gosto de misturar o novo com o antigo, prezo as peças que são importantes para o cliente, aquela cômoda que foi da avó, aquele oratório de família. Não sou minimalista, nem poderia ser, porque gosto de casa aconchegante.

A decoração ainda faz seu coração bater como antes?
A decoração, a estética, a obra concluída me fascinam tanto que, às vezes, quando penso em parar, logo mudo de ideia. Sou muito produtiva, gosto desse movimento do trabalho, e tenho meu espaço dentro do mercado. Com mais de 30 anos de profissão ainda consigo ver antigos projetos estarem up to date. Conquistei muitos amigos e parceiros e continuo com o coração batendo forte, principalmente quando termino um projeto.


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