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Flertando com a beleza

Após 14 anos à frente da Calvin Klein, o mineiro Francisco Costa lança a Costa Brazil, uma linha de beleza sustentável com ingredientes da Amazônia


postado em 16/06/2019 04:11

(foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)
(foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)


Impossível não se render à simpatia de Francisco Costa. Ou à sua simplicidade. O ex-diretor criativo da Calvin Klein, que orgulhou os brasileiros por sua ascensão à alta esfera da moda norte-americana, passou por Belo Horizonte para participar do 2º Gala Minas, jantar organizado pelo Brazil Foundation (BF), cuja renda é revertida para projetos sociais de Minas Gerais. Esteve em Brumadinho, onde visitou a área atingida pelo rompimento da barragem da mina de Córrego de Feijão, conheceu a Ong Naação, que mantém voluntários no local há quatro meses e é uma das beneficiadas do projeto, e terminou a tarde ouvindo a banda São Sebastião, da cidade.


Toda esta movimentação, um misto de tristeza e alegria, mexeu com o coração do mineiro de Guarani, na Zona da Mata, de onde saiu aos 20 anos para tentar a sorte nos Estados Unidos. Sentimentos de mineiridade que, apesar dos 30 anos vivendo no exterior, continuam presentes, e que, certamente, contribuíram para seu sucesso.


“A minha mineirice foi fundamental para o meu crescimento. O mineiro sabe esperar, a gente sabe ouvir, temos valores de família, somos um povo forte, simples, acolhedor, com um senso de humildade reconhecido. Cresci em um ambiente muito bom. Minha mãe era costureira, depois teve uma fábrica de roupas, ela era social, movimentava a cidade, na época com 3 mil habitantes. Olhando numa retrospectiva, penso que foi muito natural ter desenvolvido esse meu trabalho lá fora”, observa.


Ouvir a Banda São Sebastião em um final de tarde aflorou a emoção do estilista, trouxe uma sensação de estar em casa, um resgate do passado. “Como num filme, fiquei imaginando a história de cada um. Cresci nessa cidade pequena, onde cada um de nós tinha uma história”, reflete.


Há cerca de três anos, ele deixou a Calvin Klein e, bem antes da sua saída, já estava envolvido em outro empreendimento: a marca de beleza Costa Brazil, voltada para o mercado de luxo, lançada em janeiro, em New York, com quatro itens, que estão indo muito bem, obrigada. E foi na Amazônia que o agora empresário buscou substâncias bases para desenvolver os produtos que estão dentro da categoria clean ou pura, como ele prefere denominar, já que seguem o padrão da sustentabilidade.


Francisco Costa recebeu o Caderno Feminino, no hotel Fasano, para um bate-papo descontraído, onde falou da novidade e contou detalhes do trabalho de fôlego realizado à frente da casa de moda americana, na qual ficou por 14 anos, criou muitas coleções, rodou o mundo, conheceu pessoas importantes. Deixou para trás como legado, além de resultados e números expressivos, que definem o sucesso de qualquer corporação, uma equipe afiada, da qual Raf Simons, o diretor criativo que o sucedeu, pôde se apropriar


“Ele não desempregou ninguém. Era um time treinado, específico, cuidadoso, que entendia de corte, de costura. Uma coisa de Minas. Lembro-me que, quando meu irmão entrou na estrutura da Calvin Klein, ele disse: “Meu Deus, parece que estou vendo a mãe aqui”. Eu não teria know how para fazer tudo, com tanta qualidade, se não tivesse vivido isto. Minha mãe chegou a ter uma fábrica com 120 empregados e já, naquela época, pegava os retalhos que sobravam para levar para as comunidades usarem em trabalhos manuais”, relembra.

Resumo Para quem não conhece a história de Francisco Costa, um pequeno briefing: foi justamente a morte precoce da mãe, aos 53 anos, que o levaram a tentar a vida nos Estados Unidos. “Sabe aquela história de Complexo de Édipo? Ela e eu éramos muito unidos e aquela separação, aquela tristeza, a falta, o desprendimento, tudo isto me deu liberdade para ir embora. Talvez não estivesse partido se ela estivesse viva”, pondera. Em Nova York, passou por todos os perrengues que um brasileiro sofre em terra estrangeira, fez faxina e passeou com cachorros, teve clientes fashionistas para quem arrumava guarda-roupas fabulosos. Pensou em continuar pintando, tentou fotografia, mas nada prosperou.


Enquanto ganhava a vida, estudava no Hunter College de manhã – foi como conseguiu o visto de estudante – e começou a frequentar cursos livres no Instituto de Moda e Tecnologia (FIT) à noite, numa época em que nem dominava o inglês ainda. Já estava seguindo o caminho da moda. Foi lá que ficou sabendo de um concurso que levaria 15 estudantes para trabalhar com companhias têxteis, na Europa.


“Desenhei, fiz um portifólio e enviei para o comitê. Fui um dos escolhidos para viver a experiência de um mês em quatro fábricas de tecidos, na Itália. Meu tema foi La Dolce Vita e terminei ganhando o concurso. Voltei para o FIT e consegui a bolsa para terminar o curso na Itália. Isto abriu o meu mundo”, relata.


Chegar à Calvin Klein, ser responsável pelo desenvolvimento das coleções femininas da marca, foi resultado deste, digamos, destino traçado. Engana-se, porém, quem pensa que só houve glórias na carreira do designer. O próprio Francisco se questiona o motivo de ter ficado tantos anos na empresa, de ter recusado ofertas interessantes da Valentino e da Jill Sander. “Meu ciclo devia ter terminado antes. A Calvin Klein, uma corporação gigantesca, foi comprada por outra companhia que fazia camisa de homem, não tinha expertise para lidar com high fashion. Então, para mim, foi uma luta o tempo todo.

 

Por exemplo, numa época queriam fechar o escritório de Milão, que eu considerava estrategicamente importante. Então, ia para lá, fazia ações, desfiles, para garantir a estrutura. Viajava tanto para fazer promoção, que tinha pouco tempo para desenvolver as coleções, e eram oito coleções por ano. Uma loucura, fui ficando esgotado. Os três últimos anos então foram uma tortura”, conta.

Surpresa Embora ele não soubesse, Calvin Klein, fundador da marca, quando o escolheu para a posição de diretor criativo, já sabia que venderia a marca. Para se ter uma ideia, com a primeira coleção que Francisco faria, linha resort, veio também o primeiro choque. A PVH Company despediu toda a estrutura que havia sido construída. “Lembro-me perfeitamente que do final da semana para a segunda-feira, não havia mais ninguém no escritório. A recomendação é que, a partir de então, tudo seria feito por meio de uma franquia na Itália, numa fábrica que tinha sido parte da estrutura do Armani e que ele não queria mais. E não era uma área de moda, era em Trentino, quase na Áustria. Foi muito difícil. Mas consegui provar para eles, e isto foi parte do sucesso nesses 14 anos, que franquias para marcas que faziam coleções não funcionavam”.
Quem o via sorrindo e acenando na boca da passarela, após os desfiles das semanas de moda de Nova York, não poderia imaginar o tour de force que ele enfrentava nos bastidores. “Conquistei um espaço gigantesco, isto me deu segurança. Foi uma experiência incrível, houve momentos de leveza, sim. Aos olhos do exterior, tudo estava ótimo, mas sofria bastante para fazer acontecer”, pontua.


Parte dessa segurança era garantida pelos resultados financeiros que a empresa apresentava. “Minha participação na companhia foi bem óbvia. Meus números eram muito bons. A Calvin Klein foi vendida por US$ 700 milhões e quando saí estava avaliada em US$ 7,8 bilhões. Hoje, quando olho para trás, vejo que foi uma trajetória impressionante, de muito peso, mas eu não sabia, não percebia”, afirma.


Grandes alegrias não faltaram na carreira de Francisco Costa, entre elas ele cita como importantes os prêmios que angariou, por duas vezes (2006 e 2008), do Council of Fashion Designers of America (CFDA), como melhor designer feminino. “Pensei que o primeiro fosse político, porque existem essas coisas, mas com o segundo senti que houve reconhecimento”, pondera.

 

 

Costa Brazil

 

Francisco acha que a vida já estava preparando-o para a saída da Calvin Klein, porque um ano antes começou a preparar o branding book do que viria a ser a Costa Brazil. A primeira inspiração foi a coleção de latas da série Merde d’artist do italiano Piero Manzoni, pelo qual sempre foi apaixonado. “Eu tinha uma antologia do Manzoni e sempre achei que iria fazer algo a partir daquela ideia. Com o book pronto, saí em busca de laboratórios que pudessem executá-la, uma pesquisa que começou do nada porque não sou do métier da beleza. Visitei laboratórios na França, Califórnia, Jersey, sem nenhuma conexão. A minha dúvida era: onde achar o produto que quero fazer?”.
O Brasil passou a ser o caminho da viabilidade. Depois de uma viagem frustrada à Amazônia com o casal Vik Muniz, seu agente o aconselhou a conhecer um festival no Acre, onde ele passou uma semana com os índios iauanauás e trouxe de lá o breu, o primeiro componente escolhido para formar o que chamou de jungle complex, base da Costa Brazil.
“Foi uma experiência maravilhosa, os iauanauás são uma etnia muito forte formada por 11 tribos, que ocupam as margens do rio Gregório, quase no Peru. Voltei com esse breu, uma resina perfumada muito interessante de uma árvore conhecida como Almacega. Quando colhido pela manhã, é branco e gelatinoso, depois vai oxidando, ficando escuro, e as fragrâncias são completamente diferentes nos dois tempos. É usado como incenso, lá eles o queimam o tempo todo, porque é repelente, antibactericida e os índios acreditam que ativa o sexto chacra. Então, esse foi o meu primeiro ingrediente”, relata.
Na segunda visita à Amazônia, ele contou com a colaboração da Natura, que o levou em uma viagem para o Pará, onde conferiu e aprendeu como a empresa trabalhava com suas sources. Foi através do dono do laboratório com o qual está trabalhando – um profundo conhecedor da floresta e das plantas –, que chegou até a sapucaia. “Ele me convidou a experimentar o óleo de sapucaia, algo que ninguém nunca havia usado antes na área da beleza, cuja semente é a mais proteica que existe no Brasil. E então obtive meu segundo ingrediente. Para o terceiro, fiquei com o cakai, um óleo bem raro, que já estava no mercado, prensado a seco, com muita proteína”, conta.

Sócia brasileira Nessa empreitada, Francisco tem como sócia a brasileira Michele Levy, que levou a Melissa para os Estados Unidos. Ele tem orgulho em anunciar que sua marca não faz testes em animais, é vegana, não contém ingredientes tóxicos em suas formulações, além da pegada sustentável e responsabilidade com o meio ambiente. A extração legal dos ativos provenientes da floresta, por meio de parcerias entre fazendeiros nativos e pequenos produtores, é outro fator que valoriza o conceito. As embalagens são minimalistas e recicláveis.


Inicialmente, a Costa Brazil chega ao mercado com quatro produtos: um óleo corporal formador de Kaya, que promete hidratar profundamente e deixa a pele com mais tônus; um óleo facial anti-aging de Kaya, que garante mais viço à pele. A resina pura de breu, que perfuma e purifica o ambiente e uma vela feita com a mesma resina vegetal, que remete à fragrância da Amazônia, alivia o stress e reequilibra o ambiente.


Como comprar? No site Net-a-Porter, maior parceiro do projeto, onde a linha tem sido muito bem recebida, e em alguns outros pontos de distribuição nos Estados Unidos. A amiga e atriz Naomi Watts, de quem o designer é muito próximo, ao saber da novidade foi a primeira a ligar para dizer que colocaria os produtos na sua loja, a  Onda. E uma esteticista influencer, Joanna Czech, que cuida das Kardashians e de Anna Wintour,  também se interessou e está usando em suas clientes.


Feliz com o encaminhamento da Costa Brazil, Francisco observa que o mercado da clean beauty é o que mais está crescendo no momento. “Sinto que, por instinto, estou no caminho certo”, garante. Mas ele não descarta o retorno à cena fashion, mas em outro formato, com mais sustentabilidade, coleções menores e no espírito collab.


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